Sou da diáspora.
Sei quem sou e de onde venho.
Nunca tive qualquer vergonha do berço que me viu crescer.
Sinto os laços que me fazem pertencer a essa imensa comunidade.
Convivo sã e alegremente em todos os reencontros.
Incomoda-me o folclore excessivo.
Detesto o atrevimento de algumas manifestações.
Não tolero o descaramento dos que se julgam espertos.
Sou da diáspora.
Uma vez mais é o enorme Rentes de Carvalho quem melhor cristaliza em palavra alguns destes meus sentimentos:
Desmiolado, indiferente às conveniências, dinheiro no bolso, o emigrante tem o mau hábito de no mês de Agosto visitar as berças e, com os seus barulhentos costumes, música pimba, dialecto franciú, ir perturbar o sossego da boa gente que alegremente dispensaria o confronto anual com aquela desagradável versão de si própria.
O português tem isso: se julga pertencer à classe média baixa, média média, média alta, superior ou olímpica, é logo atacado de amnésia e nojo, os outros tornam-se-lhe gentinha, "pobrezinhos" , passa a sofrer da mais miserável forma de racismo e discriminação: a que se volta contra aqueles a que pertence.
Vou lendo aqui e ali queixumes e desdéns, sugestões de que o emigrante vá passar férias a outro lado, não perturbe a serenidade, não venha com o seu barulho e jactância recordar a simpleza e condição humilde de que todos descendemos, mesmo os que se julgam nobres e melhores. Que o não são. Julgam-se.
José Rentes de Carvalho, 7 de Agosto de 2013.