31 janeiro 2022

idiotas úteis *

Na ressaca das eleições legislativas de ontem, nas quais o PS conseguiu uma clara e inequívoca maioria absoluta, importa-me reflectir sobre o resultado da minha família partidária. Apesar desta maioria do PS ter provocado uma tempestade de maus resultados em todo o espectro partidário, o maior derrotado foi, não tenho dúvidas, o Bloco de Esquerda.
E aquilo que mais me incomoda a amígdala é a sensação de que os seus dirigentes estão em negação e não percebem aquilo que, por culpa própria, lhes aconteceu. Na minha modesta e humilde opinião, o resultado desastroso de ontem, em que passámos de um grupo parlamentar de 19 para um grupo parlamentar de 5 deputados; mais, em que só elegemos em Lisboa (2), no Porto (2) e em Setúbal (1), teve origem na péssima decisão de terem votado contra o Orçamento de Estado e, em consequência, provocado estas eleições. Ainda hoje não consigo entender o leitmotiv dessa decisão... é que:
a) O Bloco tinha um grupo parlamentar de 19 deputados;
b) Na Assembleia da República existia uma confortável maioria de esquerda;
c) O PS, sem maioria, estava obrigado a negociar com os demais partidos, ou seja, o Bloco de Esquerda podia influenciar a governação do país;
Pelos vistos, para os dirigentes e inteligências do Bloco essa realidade não satisfazia, não era suficiente, e servindo-se de um argumento contra-producente - que o PS não estava interessado em negociar e queria ir para eleições - chumbou o orçamento, comportando-se precisamente como o PS e António Costa pretendiam. Se sabiam que essa era a vontade de António Costa, o BE só podia ter contrariado, abstendo-se na votação do orçamento, obrigando o PS a governar e a continuar a negociar cada política, cada lei, cada medida ou acção e, assim, o ónus da crise política não caía em cima do Bloco.
Só que não, convencidos não sei do quê, completos idiotas úteis, fizemos o trabalho sujo ao PS e arcámos com a responsabilidade da crise política (em parceria com o Partido Comunista), para então António Costa, com mestria, construir a narrativa que mais lhe interessava - a da vitimização às mãos dos partidos à sua esquerda. Parabéns, pois conseguiu todos os seus objectivos: derrotar o PSD, ter uma maioria absoluta e, sem dó e piedade, humilhar o Bloco e a CDU.
Aquilo que hoje gostaria de perguntar aos dirigentes do Bloco - cuja existência reside algures no etéreo universo do parlamento e desligado das suas estruturas e bases, assim como alheada cada vez mais da realidade da vida de rua, dos trabalhadores e dos portugueses - era: Se o anterior orçamento não servia aos portugueses e por isso foi chumbado, o próximo, construído e suportado por uma maioria parlamentar do PS, é que merecerá o apoio do Bloco? Brincaram com o fogo, queimaram-se e as cicatrizes demorarão pelo menos 4 anos a sarar.
Mais, o grupo parlamentar do BE precisa ser renovado, pois independentemente da qualidade daqueles que lá estiveram e dos poucos que se mantêm, já lá estão à tempo a mais. Quantas legislaturas já fez cada um dos eleitos pelo BE? José Soeiro, Catarina Martins, Pedro Filipe Soares, Mariana e Joana Mortágua? Não será já o tempo de termos caras novas, com ideias novas e que tragam um rejuvenescimento ao grupo parlamentar? Por último, a coordenação do Bloco também precisa de um rosto novo. A Catarina Martins, que tanto fez pelo partido, pela democracia e pelo país, também está na coordenação há muito tempo. O seu discurso já não entusiasma, não é capaz de seduzir gente de fora do movimento, o que se tem traduzido em sucessivas derrotas eleitorais.
Idiotas úteis e ainda por cima esquizofrénicos e em negação. Mau demais.

* Esta expressão ouvia ontem, no decorrer da noite eleitoral, da boca de um dos comentadores que assim adjectivou os partidos à esquerda do PS (Bloco e PC).

29 janeiro 2022

procrastinar

Neste nacional dia de reflexão, a principal ideia que me ocorre e me interessa registar, até porque não é algo que seja entendido como uma virtude, mas que nada me custa a reconhecer, é que sou um excelente procrastinador. Se não me impõem um prazo, uma data limite, o que melhor faço é proletariado a tarefa para uma hora e um dia que hão-de vir.

28 janeiro 2022

ainda assim espero estar enganado

Termina hoje a campanha eleitoral para as eleições legislativas que irão acontecer no Domingo, dia 30 de Janeiro de 2022. Durante este longo período desde o chumbo do orçamento e o "derrube" do governo, procurei estar atento, ainda que à distância, mas sempre preocupado e receoso do resultado da eleição. É que apesar de não gostar do governo PS e até aceitar que foi António Costa quem não quis negociar e chegar a acordo com os partidos à sua esquerda e, assim, preferir ir para eleições, não aceito que digam que os governos do PS são iguais ou parecidos aos governos da direita. A ideia vastamente difundida, em jeito de justificação para as opções escolhidas, nos partidos de esquerda de que o PS não é de esquerda, não é verdadeira. Caramba, é preciso não ter memória e não ter qualquer sensibilidade pelo sofrimento de tantos e tantos portugueses para se afirmar que PS é igual a PSD.
Continuo a não perceber porque é que o BE votou contra o orçamento e, assim, derrubou o governo. Tanto mais que se é verdade que foi o primeiro-ministro quem não quis governar naquelas condições, mais uma razão para o contrariar e ter aprovado (por abstenção) o referido orçamento.
Não participei em nenhuma actividade ou acção do meu partido. Não gosto do que ouço, do que leio e da atitude dos dirigentes do BE, cujas ideias e mensagens, transmitidas ao longo destes dias, têm sido contraditórias, difusas e confusas para o comum dos mortais... não gosto da atitude de agressão aos demais partidos da esquerda e centro esquerda, em detrimento do ataque os partidos da direita, esses sim, verdadeiros adversários políticos.
O meu voto está mais do que garantido e não tenho dúvidas, mas continuo a considerar que à esquerda do PS vive-se uma tremenda esquizofrenia. Sei o que quero: quero uma maioria de esquerda no parlamento que aí vem, com representação de todos os partidos que se candidatam e sei o que não quero: não quero um governo de direita. A realidade é que não tenho a certeza que o PS vença e forme governo e isso deixa-me triste e muito preocupado com os dias que hão-de vir. Ainda assim, espero estar enganado.

24 janeiro 2022

15 anos

Assinalam-se hoje 15 anos desde a criação desta minha tábua de escrever. Bem sei que neste último ano tenho estado ausente e pouco participativo, mas sempre foi assim: umas vezes mais presente e assíduo, outras menos. Depende da disponibilidade e, acima de tudo, da vontade. Apesar de tudo, não estou cansado ou saturado deste espaço e continua a fascinar-me a total liberdade que ele representa. Também sei que mais dia, menos dia, voltarei com outra intensidade. Sigamos caminho.

15 janeiro 2022

ao espelho

10 janeiro 2022

09 janeiro 2022

primeira vez

Até me fica mal, depois de todos estes anos, afirmar, e com moderado entusiasmo, que finalmente e pela primeira vez publiquei um artigo na revista Brigantia - revista de cultura. Depois de duas ou três tentativas goradas, lá consegui fazer sair um texto meu no volume XXXVIII - XXXIX, correspondente aos anos de 2020 e 2021. Trata-se de um pequeno texto sobre as nomeadas colectivas em Trás-os-Montes e, em concreto, sobre os espaços, lugares e tempos de nomeação, assim como sobre os tipos sociais que promoviam e promovem a ligação e a tradução cultural na região (páginas 219 a 228). Irei procurar manter esta colaboração nos próximos números da revista (livro). Esta capa irá ficar exposta no separador Enxertias deste blogue.

05 janeiro 2022

recomeço

Depois de dois dias acabrunhado, com o corpo dorido e com as vias respiratórias obstruídas, enrolado em mantas, chás e comprimidos, sem qualquer vontade a não ser dormir, cá estou eu para (re)começar. Hoje vou sair de casa e enfrentar o ano novo.

02 janeiro 2022

trabalho de campo

Durante quase dois anos de pandemia e dos seus confinamentos, cuidados e afastamentos, as minhas viagens para Trás-os-Montes ficaram reduzidas às visitas inevitáveis à família. Para estas quase três semanas que vim passar na região, tinha planeado aproveitar para realizar algum trabalho de campo, relacionado com alguns dos textos (artigos) que estou a escrever e com investigações em curso, e por isso vim carregado com toda a parafernália tecnológica (som, vídeo e fotografia) e analógica (bibliografia, papel e canetas). Contudo, uma vez mais o bicho, agora chamado Omicron, impede-me de sair para o(s) terreno(s), visitar lugares e contactar pessoas. Aqui estou eu, abrigado e em segurança, mas chateado porque sei tão cedo não regressarei a Trás-os-Montes. Vamos ver se durante os próximos dias conseguirei pôr os pés na rua e deambular pelas bonitas estradas que me levarão às aldeias que quero visitar.

01 janeiro 2022

dia introspectivo, sempre

Podemos ser mais ou menos propensos a balanços sobre a nossa vida, ou a programar ou projectar vontades e desejos para cada novo ano, mas creio que a maioria das pessoas não consegue afastar-se ou abstrair-se deste determinismo temporal que é a passagem de ano e o eterno retorno de uma nova contagem anual, com tudo aquilo que foi vivido até então e aquilo que queremos ou gostaríamos de experimentar ou realizar no novo ano que começa.
Para mim, este primeiro dia é sempre um não-dia, ou seja, um dia em que não há nada a fazer, em que o cérebro está apenas em modo de vigia e não lhe é exigido nenhum esforço. Não é preguiça, é mesmo um estado de letargia, um torpor que me invade (às tantas a quase toda a gente...) em cada primeiro dia de ano e já vão quase cinquenta primeiros dias e não me recordo de outra condição. Contudo, neste dia primeiro a introspecção ocupa-me o cérebro e os sentidos. É dia de pensamentos holísticos - do todo da minha existência pretérita, presente e futura, e de julgamentos ad hoc sobre essa mesma existência.
Sem grandes planos ou desejos para 2022, eu quero é viver (tal como cantava o Variações); depois, o que vier, virá e cá estarei para o experimentar.
Siga.

pellets

Não sendo propriamente uma tecnologia nova, ou sequer uma novidade, estou admirado com a eficiência das caldeiras/salamandras que são alimentadas por pellets - um granulado prensado composto por resto de folhas, serradura e lascas de madeira, ou seja, um biocombustível renovável.
Sem certeza, mas a percepção que tenho é que esta é uma fonte de energia muito interessante na relação entre o preço (saco de 15 kg = 4 euros) e o calor produzido. O único pormenor menos agradável é o ruído que a máquina faz ao trabalhar.
A casa onde estamos a passar estes dias de Natal e Ano Novo foi recentemente equipada com um destes aparelhos e, pela primeira vez em mais de 30 anos que aqui vimos, o frio transmontano não se faz sentir dentro de casa. É verdade que não tem estado o frio que habitualmente se faz sentir, mas aqui dentro podemos andar de calções e T-Shirt.