30 outubro 2019

a era dos colectivos de solidão

O novo modelo civilizatório assenta na produção aparentemente ilimitada de informação e na confusão entre informação e conhecimento. (...) Informação não é conhecimento (qualquer que seja o tipo de conhecimento). A informação fornece dados enquanto o conhecimento visa compreender ou explicar a origem, o significado e as implicações dos dados. A informação é o presente simultaneamente eterno e efémero, enquanto o conhecimento é a ponte entre o passado, o presente e o futuro.
(Boaventura Sousa Santos, in Jornal de Letras n. 1280, Outubro 2019)

25 outubro 2019

mediascape:pentelhices


Imagem roubada do Twitter e trazida para aqui porque me incomodou a amígdala. Que caramba!, porque raio é notícia a preferência sexual destes ou daqueles. Só porque estão na moda, os do feno processado, têm que vir para a praça pública escarrapachar a sua intimidade? Irrita-me solenemente esta permanente necessidade de afirmação pública de todos os seus pentelhos. Se eu gosto de entalar a pila na porta do guarda-vestidos, ninguém tem que saber. Certo?
Porra! Comam carne que isso passa!

18 outubro 2019

desespero e preocupação

A persistência da dor, com a qual aprendi a viver; o mal estar permanente; o pavor de estar na hora de ir à cama e saber que não se vai descansar, que não se vai encontrar posição e que só se vai adormecer derrotado pelo cansaço; acordar ainda pior do que quando me deitei, mais cansado, com a cervical, os ombros e o pescoço rígidos, quase sem articulação e a pouco que resta, dolorosa; a dor crescente que se vai instalando na cabeça à medida que as horas do dia avançam, impedindo-me de ter vontade e disposição para o que seja e roubando-me horas e dias úteis de vida; a fisioterapia que, apesar de ir aliviando, não consegue extinguir a dor aguda, nem corrigir a mecânica; a piscina que, por preguiça e por inadaptação ao habitat, quase não frequento; a vida sedentária e as obrigatórias posições ergonómicas erradas que, cada vez mais, me forçam a suspender ideias, raciocínios ou tarefas; é assim que chego a uma condição de exaustão física e psicológica como jamais experimentei.
É já num estado de algum desespero e, principalmente, preocupação em relação ao futuro e a que futuro (que qualidade de vida poderei ambicionar assim?), que decidi experimentar a acupuntura. Fiz apenas uma sessão, mas saí de lá como quase-novo, o peso do mundo que carregava aliviou e o pescoço ficou com maior amplitude de rotação. Não sei, não quero deitar os foguetes antes da hora, mas, às tantas, esta terapia poderá mesmo ajudar-me. Vou regressar.

e se

No dia 16 deste mês, Rui Tavares escreveu este artigo no jornal Público. Leiam e reflictam um pouco sobre esta questão e ponderem a vossa opinião sobre o que se passa na Catalunha.

17 outubro 2019

mediascape: novilíngua


Para além do facto em si, que representa mais do mesmo, ou seja, a mesma rotação, num movimento perpétuo, de políticos para lugares de chefia ou direcção no sector privado, atente-se à construção linguística da notícia apresentada pelo jornal Público de ontem, dia 16... No título da é utilizada a palavra "eleito", como se ele tivesse sido candidatado a um qualquer lugar; depois no corpo da notícia, afinal ele foi "escolhido" porque, e cito, "Pedro Mota Soares foi membro da Comissão de Economia do Parlamento, onde se debatem temas das telecomunicações". A sério?!... mas não havia lá mais deputados que debateram esses temas?!... Foram também candidatos a esse lugar, mas perderam a eleição?!... Palhaçada. O regime está podre e não é só um problema das elites e de política, é também um problema do jornalismo que temos e alimentamos.

mediascape: moral e crime

A notícia tem já alguns dias, mas só agora me apercebi do facto e do discurso de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, que, ao arrepio dos esforços das últimas décadas na informação e na pedagogia sobre o consumo de drogas e sobre os seus consumidores, quer criminalizar o consumo nos espaços públicos, criando para isso uma narrativa de alarme social e escândalo moral. Punir, sob qualquer pretexto moral, como está mais do que comprovado empírica e cientificamente, nunca será a solução para combater o consumo e o tráfico de drogas. Trata-se de um problema de saúde pública que se resolve com pedagogia, com a dignificação dos indivíduos e sua qualidade de vida, com assistência técnica e especializada, com a abertura de salas de chuto e nunca com a sua humilhação e exposição.
Errado, muito errado, Sr. Presidente.

"we have no more beginnings"


Agora que foi conhecida a constituição do Governo resultante das eleições legislativas de 6 de Outubro e depois de toda a confusão com as negociações entre os partidos para a constituição da "geringonça 2.0" e respectiva especulação jornalística e opinativa, venho a terreiro para manifestar o meu agrado, primeiro, com o resultado das eleições e, segundo, a não constituição de qualquer geringonça que excluísse algum dos partidos da esquerda. Não percebi a dúvida e o espanto por o PS não ter querido um compromisso apenas com o BE. Se o fizesse iria deixar com toda a liberdade o PC e PEV para a oposição e, principalmente, para a contestação dos sindicatos e nas ruas. Certo? Elementar, como diria o outro...
Entretanto, esperemos para ver como pretende governar António Costa, sendo que não tenho qualquer dúvida de que a influência das esquerdas não se fará sentir como anteriormente e que para alguns sectores, em particular para os patrões, para os banqueiros e para os grandes grupos de interesses privados, este é o melhor governo que poderia ter acontecido depois do resultado das legislativas, assim como para os partidos de direita, feridos que estão, este novo governo do PS, dependente de acordos ad hoc, poderá ser a sua tábua de salvação, que é como quem diz, a hipótese de poderem ter um papel de algum relevo nesta legislatura. A ver vamos.
Por fim, uma palavra para o chinfrim que se fez e permanece com a entrada na Assembleia da República de um partido de extrema-direita, populista, fascista e racista. Sim, é um facto lamentável, mas inevitável. André Ventura ocupou um espaço sem dono, sem pudor e demagógico foi dizendo aquilo que é fácil ouvir nas ruas e em determinados media - o estigma popular em relação a determinadas comunidades étnicas, económicas e sociais existe e encontrou neste oportunista um espelho. O desafio para qualquer democrata será, com inteligência, com sarcasmo e com ironia, desconstruir o seu discurso e assim desmascarar o seu projecto político e, a termo, impedir que vingue e cresça.
Certo é que, recorrendo às sábias palavras de George Steiner, não teremos novos começos.

15 outubro 2019

ontem, na caixa do correio...

mediascape: beco sem saída

Ontem, dia 14 de Outubro, no jornal Público, António Carlos Cortez escreve sobre o livro de Nuno Pacheco "Acordo Ortográfico - um beco sem saída", publicado este ano pela Gradiva. De leitura obrigatória reproduzo o artigo. O livro, sim também vou comprar.


10 outubro 2019

LER


Já em pleno Outono, mas sabe sempre bem LER. Desta vez, dois em um...

04 outubro 2019

o poder da gente

Neste último dia de campanha eleitoral importa repetir até à exaustão a importância e o valor do voto de cada um dos portugueses. Não há como não ir votar. O futuro é nosso e dependerá sempre das nossas opções. Independentemente do sentido desse voto, o importante é no Domingo irmos votar. Eu vou e sei em quem irei votar, pois a sociedade mais justa e mais solidária que ambiciono só a encontro nas propostas de alguns partidos de esquerda e, de entre eles, o Bloco de Esquerda continua a ser aquele em quem eu mais me revejo. Apesar de algo afastado continuo a ser um bloquista.
Hoje, aqui, quero é reforçar o valor e o poder de cada voto. Não encontraria melhor forma de o manifestar do que este bonito momento.

03 outubro 2019

Diogo Freitas do Amaral


Morreu hoje, aos 78 anos, o fundador do CDS e um dos rostos mais marcantes dos primeiros anos da vida política depois do 25 de Abril de 1974. Independentemente de concordar ou (maioritariamente) não concordar com o seu pensamento, com as suas ideias e ideais, Freitas do Amaral sempre me mereceu o maior respeito e simpatia. Era um homem sério, sóbrio e correcto, transmitia confiança e serenidade, manifestando sempre a sua opinião sem necessitar das habituais parangonas e amplificadores da política corrente.
Recordo agora ter sido na campanha de 1986, se não estou em erro, na segunda volta dessas presidenciais contra Mário Soares, a minha primeira experiência em comícios. Foi na Praceta 25 de Abril, bem no centro de Vila Nova de Gaia e numa tarde soalheira. Na altura teria eu 11 ou 12 anos e claro que não tinha qualquer consciência política, nem sequer sabia o que era a esquerda e a direita. Fui levado por uns vizinhos mais velhos que não sei se já votariam, mas com certeza eram seus apoiantes. Recordo ter regressado a casa perto da hora de jantar e da reacção sorridente do meu pai, ao ouvir o relato da minha primeira aventura política.

mediascape:imbatíveis



Ora aqui está! Andaram estes anos escondidos, calados e sem espaço nas TVs. Agora que novo ciclo se aproxima e que, desejam eles, alguma coisa poderá mudar, regressam em força e não omitem as suas expectativas, nem sequer os seus mais fantasiosos desejos.
Hoje no jornal Público, e enquanto presidente da SEDES, João Duque manifesta a sua utopia política, a possibilidade de se constituir um bloco central em Portugal. Eu diria, ou melhor, eu sei que o que ele, e outros como ele, sempre quiseram nada mais foi do que a manutenção do bloco central de interesses e regalias no Estado e suas dependências. Com a aproximação de eleições legislativas, naturalmente, estes interessados no Estado, não deixam de vir à praça pública fazer a sua quota-parte de lobby contra a possibilidade de os partidos de esquerda se entenderem de novo. Esse será para eles o pior dos cenários possíveis para depois de 6 de Outubro.