29 maio 2020

verdade

É que isto de aguentar o confinamento depende muito da qualidade do sofá, da velocidade da Internet e da variedade do que há no frigorífico.
Susana Peralta, in jornal Público, 29 Maio 2020.

a ouvir, repetidamente

Oferta do mano mais novo...

enclausurado L

fim

Já não estou enclausurado. Depois de 73 dias de confinamento em casa, dou por terminado este período excepcional da nossa existência. Pelo menos por enquanto, pois, se a coisa não correr pelo melhor, poderemos ter que regressar a essa condição. Para ser verdadeiro, já nos últimos dias começamos a sair de casa com maior regularidade e com maior liberdade. Para todos os efeitos, considero o dia 26 de Maio como o último dia de reclusão. Ontem à noite viajámos para Bragança onde iremos passar os próximos dias. Finalmente, após todo este tempo, poderemos arejar e respirar um ar diferente. Com todas as cautelas, claro, vai ser bom para todos.
Termino assim esta série de textos "enclausurado".

28 maio 2020

previsão vs registado

Hoje, no jornal Público.

26 maio 2020

soprar velas

Pois bem, num movimento cíclico que se repete há quase cinco décadas, hoje cabe-me soprar as ditas e, desta vez, de forma peculiar, porque jamais estive enclausurado como agora estou e esse momento será partilhado online com os que, habitualmente, me abraçam e envolvem fisicamente. Tudo bem, estamos todos bem. Espero poder continuar a soprar as velas a que tiver direito. Siga.

enclausurado XLIX

carnes à solta

Volto a este assunto motivado pelo editorial de hoje do jornal Público, assinado por Manuel Carvalho. Tem razão quando afirma que assistimos a uma súbita mudança entre o confinamento em que vivemos até ao início de Maio e a liberdade com que se corre para a praia, nada mudou assim tão significativamente para que em tão curto espaço de tempo tivéssemos passado das cidades vazias às praias apinhadas.
Já aqui tinha referido (ver enclausurado XXXVII), quando ainda vivíamos em estado excepcional, que não percebia a pressa em se falar sobre a abertura das praias e, agora que elas abriram e as temperaturas convidam à sua utilização, é ver tudo e todos a reclamar o seu quinhão de areia. Estamos perante obvia falta de coerência e de senso, reforçadas pelos exemplos dados pelo Presidente da República e pelo 1º Ministro que, na primeira oportunidade que tiveram, se fizeram fotografar e filmar, para quem quis ver, a usufruirem dessa condição tão portuguesa que é a de banhistas. Não havia necessidade.
Pois bem, espero que tudo corra pelo melhor e que não sejamos obrigados a um re-confinamento nos próximos tempos. No que depender de mim, este ano não vai haver praia, nem mar, nem rio, nem piscina, apenas banheira e por motivação exclusivamente higiénica.

23 maio 2020

enclausurado XLVIII

mais do que higiénico

Pela primeira vez, depois destes meses todos fechados em casa, descemos até à beira mar para caminhar, apanhar ar e esticar os músculos. Íamos receosos que houvesse confusão e gente a mais, o que nos obrigaria a abortar o passeio, mas para um final de tarde de sexta-feira até estava tranquilo e sem ajuntamentos. Caminhámos tranquilos durante uma hora e meia e regressámos a casa a tempo de preparar o jantar. Nos próximos dias iremos repetir o passeio.

21 maio 2020

enclausurado XLVII

verbo: encomendar

Ontem fiz três encomendas de livros e uma de café. Hoje já recebi a primeira de livros (na foto) e a de café. Em apenas 24 horas?! Estou mesmo surpreendido com tal eficácia e rapidez. É que nos últimos dois meses foram várias as encomendas que fui fazendo e que demoraram largos dias a chegar. Afinal, o desconfinamento já começou a fazer-se sentir. Ainda bem.

20 maio 2020

a causa das coisas

Ontem fui a casa dos meus pais e mal pus os pés dentro de casa dei com este livro pousado na mesa da cozinha. Achei estranho e perguntei porque estava ali o livro. A resposta da minha mãe foi pronta: - Andei a arrumar uns armários no quarto do teu irmão e apareceu este livro que é teu.
Miguel Esteves Cardoso (MEC): passados quase 30 anos, ainda me lembro de alguns destes textos e dos outros livros que, ávido e curioso por descobrir mundo, li com real prazer.
- Não encontraste mais nenhum?
- Não, teus não. Os outros são todos do teu irmão, são de arquitectura e desenho...
- Pois, mas deve haver mais. Hão-de estar algures.
Era também o tempo do jornal Independente dirigido por MEC e Paulo Portas e da Noite da Má Língua (na SIC), onde MEC participava. Este, A Causa das Coisas, foi um clássico para as gerações de jovens adultos dos anos 80 e 90 do século passado. O meu exemplar é da sua 12ª edição. Hoje, depois de quase três décadas, continuo a lê-lo e a gostar da sua escrita. O MEC é o maior.


19 maio 2020

enclausurado XLVI

desconfinar

Dizem-nos eles. Eles são aqueles que dizem, desdizem e, por vezes, não se entendem. Eles são quem orienta a gente, os eleitos pela gente para nos guiar. Pois bem, eu também quero desconfinar, mas com calma e sem euforias. Hei-de de lá chegar, devagar.
Ontem, dia 18 de Maio e primeiro dia do dito desconfinamento, fui ao centro da Invicta logo pela manhã e, de facto, a cidade começava a dar os primeiros sinais de que algo esta a mudar. Timidamente, as esplanadas reapareceram e um ou outro aventureiro vai-se sentando. As lojas começam a abrir e nos passeios mais gente. Sente-se um novo burburinho a circular pelas ruas e o trânsito, ainda reduzido e sem filas, começa a agitar-se. Aquilo que me levava à cidade não implicava sequer sair do carro, por isso aproveitei para circular pela baixa, um pouco mais do que seria necessário, para sentir o pulso à cidade e, sem conseguir resistir, tomar um café expresso em chávena decente. Saboroso.
Hoje, logo pela manhã, levei a minha filha ao comboio para viajar para Lisboa. Na estação das Devesas, habitualmente muito frequentada, apenas três ou quatro pessoas à espera de comboio. No Alfa Pendular em que a minha filha entrou, apenas outra pessoa entrou. Lá dentro, e na carruagem dela, pude contar 7 pessoas.
Assim vai o desconfinamento.

18 maio 2020

"o nosso contemporâneo"

O coronavírus é nosso contemporâneo porque partilha connosco as contradições do nosso tempo, os passados que não passaram e os futuros que virão ou não. Isto não significa que viva o tempo presente do mesmo modo que nós. Há diferentes formas de ser contemporâneo.
(...)
O que é característico da nova concepção de contemporaneidade é uma visão solista sem ser unitária, diversa sem ser caótica, que aponta em geral para a co-presença do antinómico e do contraditório, do belo e do monstro, do desejado e do indesejado, do imanente e do transcendente, do ameaçador e do auspicioso, do medo e da esperança, do indivíduo e da comunidade, do diferente e do indiferente, e da luta constante para procurar novas correlações de força entre os diferentes componentes do todo. Da contemporaneidade passou a a fazer parte a reinvenção permanente do passado e a aspiração sempre incompleta do futuro de que são feitas as tarefas que concebemos como "o presente". Agentes sociais tão diversos como os artistas e os povos indígenas foram mostrando que o presente é um palimpsesto, que o passado nunca passa ou nunca passa totalmente e que olhar para trás e reflectir a partir das experiências acumuladas pode ser uma forma eficaz de encarar o futuro.
(...)
Ser contemporâneo é estar consciente de que a grande parte da população do mundo é contemporânea da nossa contemporaneidade pelo modo como tem de a sofrer ou suportar. Nesta ampla constelação de contemporaneidades o novo coronavírus assume atualmente um valor híper-contemporâneo. Sermos contemporâneos do vírus significa que não podemos entender o que somos sem entender o vírus.
(...)
Espalha-se no mundo à velocidade da globalização. Sabe monopolizar a atenção dos media como o melhor perito de comunicação social. Descobriu os nossos hábitos e a proximidade social em que vivemos uns com os outros para melhor nos atingir. Gosta do ar poluído com que fomos infestando as nossas cidades. (...) Um senhor todo poderoso que não depende dos Estados, nem conhece fronteiras, nem limites éticos. (...) É tão pouco democrático quanto a sociedade que permite tal concentração de riqueza. Ao contrário do que parece, não ataca indiscriminadamente. Prefere as populações empobrecidas, vítimas de fome, de falta de cuidados médicos, de condições de habitabilidade, de protecção no trabalho, de discriminação sexual ou etno-racial.
Ser indesejado não o torna menos contemporâneo. A monstruosidade do que repudiamos e o medo que ela nos causa é tão nossa contemporânea quanto a utopia com que nos confortamos e a esperança que ela nos dá. A contemporaneidade é uma totalidade heterogénea, internamente desigual e combinada. Considerar o vírus como parte da nossa contemporaneidade implica ter presente que, se nos quisermos ver livres do vírus, teremos de abandonar parte do que mais nos seduz no modo como vivemos. Teremos de alterar muitas das práticas, dos hábitos, das lealdades e das fruições a que estamos acostumados e que estão directamente vinculados à recorrente emergência e crescente letalidade do vírus. Ou seja, teremos de alterar a matriz da contemporaneidade, sendo certo que desta fazem parte as populações que mais sofrem com as formas dominantes da contemporaneidade.
(...)
O coronavírus presta-se à ideia de um apocalipse latente, que não decorre de um saber revelado, mas de sintomas que fazer prever acontecimentos cada vez mais extremos. (...) A devastação causada pelo coronavírus como que aponta para um apocalipse em câmara lenta. O coronavírus alimenta a vertente pessimista da contemporaneidade. (...) Muita gente não vai querer pensar em alternativas de um mundo mais livre de vírus. Vai querer o regresso ao normal a todo o custo por estar convencido que qualquer mudança será para pior.
Boaventura Sousa Santos, in Jornal de Letras nº 1294, Maio de 2020.

17 maio 2020

enclausurado XLV

restaurantes

Poderão reabrir a partir de amanhã, dia 18 de Maio, com um conjunto de regras e normas de segurança para salvaguardar possíveis contágios do vírus. Pelo que pude ler e ouvir sobre essas restrições impostas ao sector, parecem-me de tal forma castradoras ou limitadoras que serão poucos os espaços que poderão reabrir com segurança e com rentabilidade. Eu percebo a necessidade de se imporem regras, mas também entendo que se tratam de negócios e de que precisarão de facturar para manterem as portas abertas. Este será um exercício de equilibrismo entre o bom-senso e a responsabilidade de todos - comerciantes, empregados e clientes. Não será fácil.
Eu não sei quando irei regressar a comer num restaurante. Sei que foi, se não a maior, uma das maiores carências que senti durante este período. Querer e não poder, querer e não haver, foi frustrante.
Agora que se perspectiva a possibilidade de lá voltarmos, eu admito a falta que me fizeram: A Zizi, na Aguda; a Pêga, em Famalicão; a Cozinha do Português, na Madalena, o Abel, em Gimonde; o Mário Luso, nos Carvalhos; o BeerGaia, em Vilar do Paraíso; o Solar Bragançano, na Praça da Sé, em Bragança. Para além dos cachorrinhos do Gazela e das francesinhas do Santiago.
Disse, e fiquei com fome.

José Cutileiro


Faleceu hoje, em Bruxelas e aos 85 anos, o antropólogo José Cutileiro, autor de um dos livros mais importantes da Antropologia Social que se fez em Portugal. Para além do muito que fez durante a sua vida: fez carreira diplomática, foi comentador e cronista em jornais e rádios, eu recordo-o, essencialmente, como o autor de "Ricos e Pobres no Alentejo" publicado depois de ter sido o tema da sua dissertação de doutoramento em Oxford. Eu conheci este livro na Universidade e não mais o abandonei, pois tem-me servido de referência e de exemplo para vários dos meus trabalhos e escritos. Não sei hoje, mas durante gerações foi obra quase obrigatória em qualquer curso de Antropologia Social / Cultural. Apesar de considerar difícil estabelecer hierarquias de importância nas obras publicadas, eu diria que "Ricos e Pobres" fará parte de um pequeno lote de obras de referência na Antropologia Social, publicadas em Portugal, ou sobre Portugal, na segunda metade do século XX. Eu incluiria ainda nesse pequeno grupo (desculpem se me estou a esquecer de algum outro):
- "Filhos de Adão, filhas de Eva", de João de Pina-Cabral;
- "Retrato de uma aldeia com espelho", de Joaquim Pais de Brito;
- "Vilarinho da Furna" e "Rio de Onor", de Jorge Dias;
- "Proprietários, lavradores e jornaleiros", de Brian Juan O'Neill.

16 maio 2020

if it be your will

15 maio 2020

vamos lá contar espingardas!

( in jornal Público, 15 Maio 2020 )

"marxismo cultural"

A ideia de “marxismo cultural” é a ideia de um complot, do tipo daquele que era revelado pela célebre publicação de 1903, Protocolos dos Sábios de Sião, que denunciava uma conspiração dos judeus para dominar o mundo. Assim, o “marxismo cultural”, agindo a partir de cima, a partir da superestrutura ideológica, estaria a provocar uma “revolução” que o marxismo político não conseguiu: uma revolução cultural e social nos costumes que se serve de ferramentas culturais para engendrar operações de alta engenharia. Feminismo, multiculturalismo, direitos dos homossexuais ao casamento e à adopção (ou, até mesmo, a manifestarem-se no espaço público), censura da linguagem discriminatória e responsável pela naturalização do racismo, visão da história que não segue uma concepção épica e heróica do passado nacional: tudo isto é o chamado “marxismo cultural”; tudo isto é tido como destruidor dos “valores cristãos” e da sociedade ocidental. A ideia de “marxismo cultural” é uma máquina mitológica que funciona à custa de fantasmas, lugares-comuns, estereótipos, frases feitas, repetição de fórmulas que não necessitam de ser analisadas nem sequer compreendidas.
António Guerreiro, in Ípsilon, jornal Público, 15/05/2020.

J. Rentes de Carvalho


Roubada do Twitter da editora Quetzal, serve para assinalar, também aqui, o 90º aniversário do grande escritor português. Para além das felicitações, manifestar o desejo de poder continuar a lê-lo, seja no seu blogue, seja nos livros que há-de escrever e publicar. Bem-haja.

mediascape:tragédia

O jornal Público de 14 de Maio, ontem, deu notícia de um estudo realizado por uma equipa de investigadores norte-americanos no universo de utilizadores do facebook (três mil milhões) à procura dos movimentos pró e anti-vacinas, analisando a competição online dos dois movimentos.
Foi com muita preocupação e uma tremenda angústia que li sobre os resultados obtidos. Segundo este estudo, as estratégias dos anti-vacinas é muito mais eficaz e que, no prazo de cerca de uma década, esta posição poderá ser maioritária e dominante. Uma tragédia! O poder desinformado derrota o poder da ciência, do conhecimento e da evidência. Um dos investigadores deste estudo justifica afirmando que a riqueza da narrativa (anti-vacina), mais diversificada e atraente do que a monótona e pouco diversificada voz da ciência e das autoridades de saúde. (...) É importante dizer que estas pessoas não são más pessoas. (...) Eles estão apenas a juntar fragmentos muito confusos que ouviram de uma determinada forma e depois descobrem uma comunidade com uma narrativa que parece fazer sentido para eles. Uma narrativa que os atrai.
Até esta pandemia da Covid-19 tem servido de argumento para descredibilizar a ciência médica, ao afirmarem que a vacina que irá combater este vírus será uma vacina apressada, sem segurança para os indivíduos e para a saúde pública. Espanto! O perigo maior desta desinformação é um número cada vez maior de pessoas não confiar nessa vacina e aí o vírus permanecer muito mais tempo entre nós. Por outro lado, o mesmo investigador não tem dúvidas ao defender que a aposta e o esforço deve ser concentrado no enorme grupo de pessoas (utilizadores do Facebook), tentando cativá-los com inteligência, e não lutar contra ou tentar convencer os movimentos anti-vacinas que estão errados.
Tal como também eu já aqui referi e como vou, ano após ano, alertando os meus alunos, a triste verdade é que a Ciência, no geral, e as ciências médicas, em particular, tiveram tal sucesso nas últimas décadas que originaram uma percepção distorcida de saúde, bem estar, conforto e de doença nos indivíduos, naquilo que é a imunidade, a terapêutica e a cura, ao ponto de alguns deles se "revoltarem" contra esse conhecimento científico e negarem todas e quaisquer evidências. Triste é constatar que a Ciência tem que se preocupar mais com esta pseudo-ciência, desinformação e informação falsa, do que com aquilo que é a sua missão.

14 maio 2020

enclausurado XLIV

rotinas

Cerca de dois meses depois, continuamos em reclusão e sem perspectiva de vermos alterada essa condição, pelo menos a curto prazo. Escusado será dizer que já estamos perfeitamente ambientados e rotinados nesta já não tão nova realidade, pois muitos estarão nas mesmas circunstâncias e sentirão mais ou menos o mesmo. Acontece que nas últimas semanas e com tendência crescente, os dias sucedem-se e eu dou comigo a pouco mais fazer do que apoiar, amparar, auxiliar, ou sei lá que mais, os meus filhos nas suas obrigações escolares. O ritmo das aulas e demais actividades para os miúdos do ensino básico é absurdo. Não há adulto que dê conta de tanta tarefa, de tanto trabalho, email, aulas síncronas, impressões, leituras, vídeos, e o raio que o parta! Estou cansado desta nova rotina. Perdi parte considerável do meu tempo diário e disponível para os meus afazeres. Tive, também, que passar a partilhar o meu computador com a criança, para que possa assistir às aulas online e para poder fazer os TPC's e actividades da Escola Virtual e afins. Ao final do dia, quando tudo termina, ou quase, ainda tenho que ficar a tratar dos aspectos logísticos deste ensino à distância: digitalizar ou fotografar os trabalhos que são realizados, para os enviar, por email ou por upload nas aplicações, para os professores. Depois, fica ainda a preocupação em ir espreitando as diferentes aplicações e emails para verificar se nenhum dos professores resolveu enviar mais qualquer coisinha...
Saudades de os levar à escola e ficar com o resto das horas para mim.

a 13 de maio

Depois de tudo o quanto de debateu na opinião pública sobre a celebração das aparições Marianas em Fátima, neste dia 13 de Maio e, depois, da posição sensata da Igreja Católica portuguesa ao impedir a presença dos peregrinos e devotos no seu recinto, importa reflectir, uma vez mais, sobre a realidade, o valor e os significados de Fátima. O Professor Anselmo Borges, também sacerdote, sempre foi uma voz clara, sensata e frontal na abordagem às diferentes dimensões da experiência religiosa, do sagrado e, no próprio dia 13 de Maio, publicou no jornal Público este texto elucidativo sobre o que é, sempre foi, Fátima. Eu não acredito em Fátima, acho até que significa muito daquilo que as Igrejas, ou Religiões, têm de menos bom. Contudo, respeitarei sempre a fé daqueles que acreditam. Mas essa fé em nada se confunde com o fenómeno construído, há pouco mais de cem anos, em redor de três humildes crianças.

enclausurado XLIII

bendita cafeína

Uma das preocupações desde os primeiros dias deste enclausuramento foi estar abastecido de café. É verdade que o café, ou a cafeína, tem vindo a perder importância na minha vida, mas com este sobressalto social, aconteceu-me ver renovado o meu gosto e prazer com essa bebida. Cá em casa tomamos dois tipos de café: de manhã cedo fazemos uma boa cafeteira de água fervida com café moído bem dissolvido, que serve para despertar os sentidos e para perfumar toda a casa; e a partir do final da manhã, tomamos café Ristretto da Nespresso. Durante este período já fiz três encomendas online e já volto a precisar de mais, só que, no entretanto, soube que há à venda café Buondi em pastilhas próprias para as máquinas da Nespresso e, dizem-me ser muito bom.
Hoje fui comprar, manhã irei experimentar.

12 maio 2020

mediascape:concordo

Não há mentirosos de direita ou de esquerda — há mentirosos. Não há corruptos de esquerda ou de direita — há corruptos. Não há demagogos de esquerda ou de direita — há demagogos. Há uma diferença radical entre cada um de nós ter um campo ideológico com o qual se identifica ou ter um clube ideológico com o qual tem de se identificar. O primeiro é para homens livres. O segundo é para serviçais ou para fanáticos. O que é verdade ou mentira, o que é justo ou injusto, o que é decente ou indecente, precede e prevalece sobre sermos de esquerda ou de direita — e quem não percebe isto não percebe coisa nenhuma.
João Miguel Tavares, jornal Público 12 Maio 2020.

11 maio 2020

enclausurado XLII

o regresso

Hoje, pela primeira vez, entrei na Fnac desde o início do mês de Março, ou seja, desde há cerca de dois meses (mas parece ter sido há uma eternidade). Caramba, que sensação! Devidamente equipado, pude tocar nos livros, pegar-lhes, folheá-los enquanto procurava sentir o seu cheiro, quase sozinho deambulei pelas estantes e corredores. Nem um livro em promoção, todos com os habituais 10% de desconto para os aderentes. Ainda assim foi bom, ninguém me incomodou ou sequer se aproximou de mim. Deveria ser sempre assim. Sim, comprei livros*.


* Eu sei que há adeptos da compra online de livros, eu também os compro. Tenho aliás duas encomendas de livros em processamento. Uma delas há mais de 15 dias. Mas não há como ir à loja, ver, espreitar, apalpar e comprar, ou ainda melhor, ser descoberto por um qualquer espécime, que nos atrai e nos obriga a pegar-lhe e a trazê-lo para casa.

enclausurado XLI

estrangeirismo


Já tinha reparado nesta mensagem, já tinha, inclusive, tentado fotografá-la, mas conduzir e tirar fotografias ao mesmo tempo, para além de não ser aconselhável, não resulta na mínima qualidade. Acabei por encontrar uma fotografia num dos jornais que hoje me passaram pelos olhos.
É que não percebo qual a necessidade, qual o objectivo de traduzir para inglês a mensagem que se destina aos portugueses. Faria algum sentido nas auto-estradas inglesas estas mensagens aparecerem traduzidas em português? Claro que não, ridículo. Gostava que me explicassem o propósito de tal mensagem.
Fiquem em casa.

de regresso à luta...

Neste último Sábado, José Pacheco Pereira volta a colocar o dedo na ferida e a expor o crime cometido sobre a língua Portuguesa. Partilho aqui o artigo na íntegra.

06 maio 2020

enclausurado XL

choque histórico

Ao reflectir sobre esta experiência social que dura há quase dois meses, não posso deixar de a entender como uma tremenda e marcante época para a vida de cada um de nós. Que não haja dúvida que jamais iremos esquecer estes dias e que, vivamos o que vivermos, iremos sempre relembrá-los. O que falta perceber é como é que a História irá tratar e pronunciar-se sobre este momento histórico. Resta também saber qual será a dimensão do choque que este vírus veio provocar e como iremos, um dia, emergir deste mergulho global.

01 maio 2020

mediascape:arquivar


Hoje conheci, através do jornal Público, este projecto interessantíssimo de arquivo de jornais online, sites de governos, blogues e artigos de opinião. O projecto já existe desde 2008 e este serviço público já preservou milhões de páginas que podem ser consultadas em arquivo.pt. Este esforço de arquivamento e de memória está agora dedicado à recolha de informações, textos, opiniões e dados relativos à covid-19 que, depois, em 2021, estarão disponíveis para consulta. Este projecto é desenvolvido pela Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), uma unidade da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Eu já fui espreitar e irei partilhar, aqui do lado direito, nos meus atalhos.

economia que mata *

A verdade é que o actual sistema económico-político não está organizado em função da defesa das sociedades - seja a sua saúde, seja a sustentabilidade do ambiente de que dependemos - mas sim, em função da manutenção em funcionamento de uma máquina económica que tudo sacrifica à demanda distópica da reprodução desmedida, potencialmente infinita, do capital.
[ Viriato Soromenho-Marques, in jornal de Letras nº 1293, Abril 2020 ]


* expressão do Papa Francisco.

enclausurado XXXIX

de emergência para calamidade

Na véspera do final do Estado de Emergência que nos coarctou durante cerca de mês e meio, sabemos já que iremos passar para o Estado de Calamidade Pública, um degrau abaixo na hierarquia dos Estados de Excepção possíveis. Ainda que com esta alteração se proceda a um relaxamento ou alívio das restrições impostas durante este período de Emergência, não deixarão de existir regras de contenção e restrição, cautelas que se entendem e aceitam porque esta guerra ainda não está ganha.
O que é curioso, pelo menos para mim, é a etimologia utilizada nestes Estados alterados que o Estado utiliza. Passar de um Estado de Emergência para um Estado de Calamidade soa a um agravamento da situação e das medidas que se impõem aos cidadãos e não o inverso. Semanticamente parece-me contraditório, pois a interpretação ou percepção de "calamidade" é a de uma situação impossível, de total destruição, caos, desestruturação, não sendo possível pior cenário ou circunstância.