A ideia de “marxismo cultural” é a ideia de um complot, do tipo daquele que era revelado pela célebre publicação de 1903, Protocolos dos Sábios de Sião, que denunciava uma conspiração dos judeus para dominar o mundo. Assim, o “marxismo cultural”, agindo a partir de cima, a partir da superestrutura ideológica, estaria a provocar uma “revolução” que o marxismo político não conseguiu: uma revolução cultural e social nos costumes que se serve de ferramentas culturais para engendrar operações de alta engenharia. Feminismo, multiculturalismo, direitos dos homossexuais ao casamento e à adopção (ou, até mesmo, a manifestarem-se no espaço público), censura da linguagem discriminatória e responsável pela naturalização do racismo, visão da história que não segue uma concepção épica e heróica do passado nacional: tudo isto é o chamado “marxismo cultural”; tudo isto é tido como destruidor dos “valores cristãos” e da sociedade ocidental. A ideia de “marxismo cultural” é uma máquina mitológica que funciona à custa de fantasmas, lugares-comuns, estereótipos, frases feitas, repetição de fórmulas que não necessitam de ser analisadas nem sequer compreendidas.
António Guerreiro, in Ípsilon, jornal Público, 15/05/2020.
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