Uma e outra vez as mesmas políticas vão sendo impostas como se no momento fossem a melhor ou única solução. O mesmo se pode dizer da privatização da segurança social e, portanto, do sistema público de pensões. (...) A receita continua a ser imposta e a ser vendida como a salvação do país. Porque se insiste no erro de impor medidas cujo fracasso é antecipadamente reconhecido? São muitas as razões, mas todas convergem na que considero ser a mais importante: o objectivo de criar uma situação de crise permanente que force as decisões políticas a concentrarem-se em medidas de emergência e de curto prazo. Estas medidas, apesar de envolverem sempre a transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos e imporem sacrifícios aos que menos podem suportá-los, são aceites como necessárias e inviabilizam qualquer discussão sobre o futuro e alternativas de curto e médio prazo.
Boaventura Sousa Santos, in Jornal de Letras nº 1270, Junho 2019.