Há muito que nutro um fascínio pelos desocupados crónicos, perenes ou vitalícios. A primeira memória que preservo é a dos indigentes nómadas que deambulavam por Trás-os-Montes, neste caso pelas terras de Vinhais e Bragança, e que, a espaços não definidos, apareciam pela aldeia, apenas de passagem ou para ficarem alguns dias e noites. Desses relembro os rostos e os nomes do Bino, do Piralhas e do Laribau, todos já desaparecidos, mas que permaneceram no imaginário colectivo e também no meu.
Vivendo na cidade, apercebo-me que nas voltas do quotidiano cruzo-me com algumas personagens que aparentemente vivem numa ociosidade permanente e cuja única ocupação diária é percorrer os vários espaços de socialização, como cafés ou tascas, supermercados, paragens de autocarro ou estações de comboio, portas dos comércios ou até em determinadas esquinas, onde se detêm à conversa com amigos e conhecidos, bebem um copo ou fumam um cigarro.
Um dia gostaria de fazer algo acerca destes indivíduos. Não sei se histórias ou percursos de vida, se questionar as suas opções vs não-opções de vida, se apenas e só meras inspirações para exercícios de escrita, outra qualquer abordagem. Ou, às tantas, nada. Apenas continuarei a passar por eles e a projectar na mente todo um imaginário acerca das suas vidas.