"Neste reino ou numa província da Nova Espanha, indo certo espanhol com seus cães à caça de veados ou de coelhos, um dia, não achando caça, pareceu-lhe terem fome os cães, e tomando um rapazinho a sua mãe com um punhal lhe corta aos bocados braços e pernas, dando a cada cão sua parte, e depois de comidos aqueles bocados da criança, a todos eles atira o corpito para o chão." (pág. 97)
Reza a história dos manuais escolares acerca das epopeias dos descobrimentos, assim como cantamos, todos nós, aos heróis do mar e ao nobre povo, que por marcos assinaláveis perpétuaram o nome de Portugal.
O problema é que essa nossa verdade esconde uma outra, horrenda verdade, que é história dos povos achados (sim, porque agora designa-se "achamento"). Assim como quem espreita para o ouro lado da medalha para realmente a conhecer, nós também deveríamos conhecer a história confrontando as diferentes perspectivas e versões de uma mesma história que é comum a tantos e tantos povos. A isto dá-se o nome de relativismo.
Embuído deste espírito (missionário), leio a Brevíssima Relação da Destruição das Índias, de Bartolomé de Las Casas, dada a conhecer em Sevilha no ano de 1552 e editada pela primeira em Portugal em 1990 (!?). Este texto foi durante séculos um livro maldito. O autor descreve o inferno e a infâmia criados na América pelos tão celebrados descobridores quinhentistas. Relata de uma forma, por vezes, escabrosa e snuff, a conquista militar dos povos indigenas, levada a cabo a sangue e fogo e que veio a representar um dos maiores etnocícios da História, cujas repercussões ainda não puderam ser varridas da vida real.
Continuamos a enganar as nossas criancinhas e eu não sei porquê!?....
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