Aqui há uns tempos e quando preste a embarcar no compoio para Lisboa, o meu pai dá-me o Jornal de Notícias (JN) para as mãos, dizendo: "Leva-o que eu já o desfolhei". Nestas palavras entendi que nem sequer o chegou a ler e que eu também poderia assim fazer, desfolhá-lo nem que fosse para me entreter durante a viagem. Assim fiz e logo me veio à consciência que, apesar de muito tempo que já passara desde a última vez que o desfolhara, muito rapidamente me reconheci na sensação de familiaridade e no JN de sempre. Por outro lado, a verdade é que de cada vez que o olho, o desfolho e, em pequena percentagem, o leio, não deixo de me espantar com a quantidade de notícias locais, tais como: casos de polícia, tribunais e justiça popular, roubos e assaltos, parricídios e suicídios, violações e pedofilias, entre outras. Enfim, toda a parafernália que, sem dúvida, será o retrato do país e da sociedade em que vivemos, mas que reduz a realidade a essa tragédia humana e que a linha editorial tablóide do JN, pela quantidade e pela (fraca) qualidade da "notícia", transfigura e relativiza, tomando essa mesma realidade miserável e sofrível, suportável aos olhos e sentidos do leitor deste diário nacional.
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