Este ano e depois de uma ausência superior a vinte anos, regressei ao centro do Porto como folião e equipado a rigor com o martelo na mão. Isto aconteceu porque mais ninguém cá em casa conhecia in loco a festa, portanto, lá fui mostrar os lugares comuns e tradicionais do grande santo popular da Invicta. Na memória trazia comigo alguns momentos ou episódios desse tempo de criança em que ia regularmente à festa. Primeiro com os meus pais e depois, quando mais crescido, em grupo de juvenis vizinhos e amigos. Das primeiras experiências guardo a memória da Ponte D. Luís I a abanar e da sensação de pânico generalizado pela eminente queda da estrutura. Foi num desses momentos que me perdi na confusão do medo e de meus pais, provocando com isso uma enorme angústia à minha mãe. Sei ainda hoje que não me tinha perdido, pois sabia onde o carro estava estacionado e foi lá que me foram encontrar passado algum tempo. Outra bonita memória dessas noites era o Café Mucaba(?), bem situado no fundo da Avenida de Gaia, onde a caminho de casa parávamos para uma apetitosa francesinha para os pais e uma deliciosa tosta mista para os filhos.
Mais tarde e já com o grupo de rufias da Madalena, as memórias que guardo são as da inconsciência e da irresponsabilidade. Miúdos de 10, 11 e 12 anos, alguns talvez mais, sozinhos, a pé e sem destino. Corridas loucas pelas ruas de Coimbrões, Candal e Ribeira, a tocar às campainhas, bater nos carros, atirar pedras, etc. Na confusão da multidão pelas ruas 31 de Janeiro, Batalha, Fontaínhas, Clérigos, Aliados, Rotunda e Avenida da Boavista, Foz, por todo o lado e durante toda a noite a correr e a fazer traquinices.
Este regresso, para além da sua componente turística e pedagógica, permitiu relembrar todos esses momentos e também permitiu perceber porque é que um dia deixei de ir ao S. João. É que para mim a piada da festa está única e exclusivamente na democrática e livre distribuição de marteladas. O resto - a sardinha, o bailarico, o alho-porro, a embriaguez dos sentidos, os balões, o fogo de artifício, o manjerico e suas rimas, a confusão e o aperto não me atraem minimamente. Desconfio que tão cedo não regressarei, até porque o resto da família também não se mostrou efusiva ou sequer entusiasmada.