O meu amigo António Tiza vai apresentar-nos mais um fascículo do seu saber. Compete-me partilhar essa informação e esperar que nos possamos encontrar lá.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
30 junho 2015
27 junho 2015
velho amigo João (R.I.P.)
É com amargura e verdadeira tristeza que me despeço do João. Amigo desde a minha primeira meninice e com quem convivi e aprendi. Enquanto miúdo, foi com o João que passei tardes e serões a jogar às cartas - ao burro e à bisca. Tenho a sensação que foi com ele que aprendi e ganhei o gosto pelas cartas. Foi também o João quem me ensinou e deixou "conduzir" pela primeira vez um carro-de-bois - momentos inesquecíveis e irrepetíveis de uma arte e saber em extinção. O João faz parte da minha infância e adolescência e será sempre uma memória boa para mim.
O João não estaria em idade de partir. Nos últimos anos, algumas contrariedades e problemas trouxeram-lhe desarranjos e desequilíbrios mentais, que o levaram para perto do precipício. Esta madrugada a mulher encontrou-o caído e já sem sentidos à porta da casa-de-banho.
Estive com ele, pela última vez, no dia 27 de Março. Reconheceu-me e esboçou um sorriso.
Na fotografia, o João e a Lena, em 1999, num dia feliz para eles e para mim em especial. Foi difícil convencê-lo a estar presente...
Europa: não manda quem quer, só manda quem pode
Através do Twitter vou acompanhando ao segundo as notícias que chegam da Europa e dos últimos acontecimentos das reuniões do Eurogrupo. Parece que a Grécia está fora do Eurogrupo e que terá que pagar a sua dívida até terça-feira. Foi expulsa pelos restantes membros desse restrito clube que, confrontados pela atitude do governo grego de convocar um referendo para decidir democraticamente o futuro do país, decidiu não conceder nenhum prolongamento do programa de assistência e antecipou, à boa maneira tecnocrata, que os gregos nem sequer deveriam pronunciar-se sobre o seu futuro.
Quando em Janeiro o Syriza venceu as eleições, eu fui daqueles que considerei essa vitória importante não só para a Grécia, como para toda a Europa. Se é verdade que me enganei no sentido dessa importância, também é verdade que poderemos estar perto do fim da União Europeia. A elite política europeia claudicou definitivamente perante a elite financeira. Os burocratas europeus, líderes das instituições e que detêm o poder de decisão, ficarão para a história da Europa. Aquilo que acontecerá nos próximos dias em Atenas e restante Grécia, terá repercussões a curto e médio prazo nas outras capitais europeias, principalmente naquelas em que a situação financeira é mais débil. Os nossos filhos, netos e bisnetos irão conhecer estas caras, pois serão recordados como os carrascos de um projecto que seria politica, económica e culturalmente viável, não fosse a sua ganância e egoísmo.
A confirmarem-se as notícias, estaremos a viver um dos dias mais negros da história recente da Europa. Um dia tristemente histórico.
Eis o triunvirato burocrata...
25 junho 2015
baú da memória x
O feriado de S. João serviu, entre outras coisitas, para relembrar alguns sons de 90, se bem que só os tenha descoberto já bem perto do fim dessa década. Dois magníficos exemplos de malhas que perduraram na memória e que, de vez em vez, vou cantarolando...
24 junho 2015
sector primário
Mais um ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos que quero destacar. Para quem se interessa pelas questões da ruralidade e, principalmente, da agricultura em Portugal e queira perceber a influência das Política Agrícola Comum, consequência da adesão de Portugal às Comunidades Europeias, na evolução da agricultura portuguesa, não podem deixar de ler este ensaio de Francisco Avillez. É o que estou a fazer.
instante urbano xxxi
E ao fim de tantos anos lancei o meu primeiro balão de S. João. Em dois possíveis, um ardeu e o outro, para alegria da criança, subiu e desapareceu no horizonte... Nada mau para um principiante. Sem qualquer relação, nesse momento aquilo que me veio à memória foi a estranha sensação do primeiro foguete que um dia lancei. Alguém registou este momento.
23 junho 2015
mediascape: (des)acordo ortográfico
"Uma vez que se chega a este acordo na base do consenso, não posso assinar este documento que não está escrito da forma que se fala em Angola. Camões não escreveu assim".
António Bento Bembe, secretário de Estado dos Direitos Humanos angolano
Estas declarações foram proferidas na XIV Conferência dos Ministros da Justiça da CPLP, em Díli. Isto na mesma altura em que decorre em Portugal uma iniciativa cidadã de recolha de assinaturas para a realização de um referendo sobre o acordo ortográfico da língua portuguesa. Todos poderão participar, subscrevendo esta iniciativa aqui. A pergunta que é proposta para referendar é: “Concorda que o Estado Português continue vinculado a aplicar o «Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» de 1990, bem como o 1.º e o 2.º Protocolos Modificativos ao mesmo Tratado, na ordem jurídica interna?”
Escusado será dizer que já subscrevi esta iniciativa referendária.
Para mais pormenores visitem https://referendoao90.wordpress.com/
19 junho 2015
mediascape: a Índia aqui tão perto
O jornal Público de ontem, dia 18 de Junho, trazia uma reportagem sobre a Índia muito interessante. Sendo um país imenso, culturalmente muito heterogéneo e economicamente muito pobre, tem índices de desenvolvimento típicos de um país de terceiro mundo. A peça jornalística traz-nos o esforço que o Estado indiano e os diferentes níveis de poderes regionais tem realizado para que os indianos, principalmente aqueles que vivem no espaço rural - e são cerca de 70% dos 1,2 mil milhões de indianos, usem as sanitas. Pelos vistos 53% dos agregados familiares desse imenso território rural indiano não tem sanita nas suas habitações e defecam desde sempre ao ar livre. O esforço do Estado em equipar as casas com casas-de-banho, nomeadamente com sanitas, tem sido um esforço em vão, pois grande parte das pessoas que tiveram acesso a elas, preferem continuar a ir à rua fazer as suas necessidades. Muitos deles aproveitaram a nova construção anexa às suas habitações para lá arrumarem coisas. O esforço estatal procura alterar este costume ancestral que anualmente mata centenas de milhares de pessoas, principalmente crianças. Esta situação é paradigmática daquilo que são as representações sociais e simbólicas da doença/saúde. Enquanto que para o Estado e seus técnicos se trata de um problema de saúde pública que é preciso resolver, para os cidadãos defecar ao ar livre faz parte de um todo, de uma vida saudável e virtuosa. Assim sendo, é lógico que não basta construir retretes, é preciso um esforço pedagógico, educacional e geracional para que, pelo menos, as novas gerações se habituem e percebam a importância do uso das sanitas.
Esta situação relembra-me o tempo em que também em Portugal e também no espaço rural, as casas não estavam equipadas com essa divisão "pós-moderna" que era a casa-de-banho. Na altura em que começaram a roubar espaço às casas para construírem esses cubículos sanitários, foram muitas as resistências e recordo um caso em concreto, passado talvez em finais dos anos 70, ou início dos de 80, em que um lavrador vizinho, depois de muito refilar e resistir, lá foi convencido pelos familiares mais novos para a necessidade e o conforto de ter casa-de-banho em casa. Mal convencido, lá decidiu fazer a vontade aos mais novos e resolve construir não uma, mas duas pequenas casas-de-banho encostadas uma à outra... A verdade é que esse lavrador, apesar do investimento e do novo espaço sanitário, preferiu continuar a ir à loja dos animais, no piso inferior de sua casa, para se aliviar das suas precisões. A Índia aqui tão perto.
18 junho 2015
ao espelho...
(página 1 do jornal Voz Portucalense, edição de 17/6/2015)
(página 13 do jornal Voz Portucalense, edição de 17/6/2015)
15 junho 2015
ainda vai dar jeito e será utilizada...
"Ao ser dita, ao ser inscrita no lugar próprio, no silêncio exacto, no branco vivo da página, a coisa não só se redime do grande vazio do esquecimento, resgatada pelo sentido que agora lhe é dado, ressuscitando nesse dizer do seu nome, como também se torna outra coisa. Ressuscita, sim, mas transformada. Não totalmente diferente, só um nadinha, o que torna tudo ainda mais difícil. Mas, atenção, não me estou a queixar. Escrever - a escrita ou, em termos mais gerais, essa forma de pensamento a que chamamos imaginação - é o único verdadeiro superpoder que temos".
Jacinto Lucas Pires, in Granta 5
informalidades
Não sou muito dado a formalismos ou a sociais formalidades, mas o oposto, pelo menos o extremo oposto, também me desagrada, deixa-me desconfortável e sem saber como me comportar. Isso mesmo, não sei como posicionar-me fisicamente e a reacção, irreflectida, é sempre a contracção corporal e expressiva. Passaria muito bem e melhor sem esses momentos, sempre inesperados e imprevistos, de contacto e interpelações.
Serve este prefácio, em jeito de declaração comportamental, para contextualizar a descrição de uma situação que ocorreu há poucos dias.
Participante numas jornadas sobre memória, património, arte e museus, em que se falava essencialmente do papel dos museus e das casas-museu para a preservação da memória dos indivíduos e das comunidades, assisti a uma intervenção de um ilustre autarca do norte. Enquanto o ouvi-a decidi tentar falar com ele. Aguardei-o à saída do auditório. Depois de o cumprimentar e de me identificar, comecei por fazer referência à sua intervenção e à nota por ele dita sobre a famosa empresa de turismo que opera no rio Douro. Apenas lhe referi a impressionante dimensão dessa empresa quando aquilo que vende é paisagem, um produto que existe desde sempre e que é de todos... Num tom descontraído, ele não só concordou com a minha nota, como aproveitou-a para uma inusitada e surpreendente opinião pessoal sobre as actividades praticadas por esse tipo de turismo, qualificando-as abjectamente e utilizando um vocabulário boçal e desqualificador, revelador do carácter, da estrutura e da manjedoura de onde provém. Procurei bem depressa mudar de assunto e por-me a caminho. Não me arrependi de o interpelar, mas vim embora, reflectindo sobre esta desagradável informalidade que alguns sujeitos teimam em impor na dialéctica social. Mas que raio, era a primeira vez que falava comigo; sabia lá ele quem eu era! Nada urbano este momento.
Tsipras disse...
«Nós carregamos às costas a dignidade de um povo, mas também a esperança dos povos da Europa. É carga demasiado pesada para a ignorarmos.
Não é uma questão de obsessão ideológica. É uma questão de democracia.
Não temos o direito de enterrar a democracia europeia no lugar em que nasceu.»
10 junho 2015
distorcedor
"No homem de letras, o fascínio pelos negócios e as suas aritméticas é sempre um entusiasmo inoportuno, como qualquer vocação tardia. Imagine-se uma senhora de meia-idade a ensaiar os primeiros pliés e ter-se-á ideia do ridículo a que o literato se expõe ao conferir guias de remessa ou ao calcular margens de lucro. O lugar do bibliófilo é entre livros,impraticável. Quem escreve e lê muito habitua-se a olhar para a realidade através de lentes literárias que a distorcem".
Bruno Vieira Amaral, in Granta 5
09 junho 2015
sempre um prazer
É sempre um prazer ouvir David Bowie. Esta colectânea chegou-me em forma de presente. Obrigado Daniel.
07 junho 2015
comer, brincar, escrever
"Comer tudo aquilo com que se brincou. Poderia ser uma definição da escrita. Quem sabe: tenho de comer o que escrevo, o que não escrevo devora-me. O que como não desaparece porque o como. Nem eu desapareço por ser devorada. Acontece sempre o mesmo quando, ao escrever, as palavras se transformam noutra coisa, em nome da exactidão, quando as coisas se tornam autónomas e as metáforas roubam o que não lhes pertence."
Herta Müller, in Granta 5
05 junho 2015
03 junho 2015
hetero-retrato
Uma querida amiga enviou-me esta imagem com a seguinte mensagem acoplada...
"Repara na imagem! Diz lá se não pensaste logo em ti……foi o que me ocorreu de imediato."
a quem interessar...
Não vou poder lá estar, mas fico feliz pela iniciativa da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Façam o favor de adquirir e conheçam Trás-os-Montes pela escrita das nossas escritoras.
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