A propósito do colóquio sobre Monsenhor José de Castro que já aqui publicitei, enviei para publicação no jornal Mensageiro de Bragança e para a Voz Portucalense este pequeno contributo sobre a oportunidade e o valor deste iniciativa (fica aqui em primeira mão):
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No próximo dia 9 de Dezembro a diocese de Bragança-Miranda e a Câmara Municipal de Bragança vão homenagear Monsenhor José de Castro, figura maior do clero e da cultura nacional. Nesse
dia, e no âmbito dos 50 anos do seu falecimento,
vai ter lugar um colóquio subordinado ao estudo da sua vida,
obra e pensamento. Tendo tido conhecimento desse evento através deste jornal (edição de 24 de Novembro), não posso deixar de me associar à iniciativa, pois considero que
este ilustre bragançano nunca mereceu por parte das
autoridades locais e regionais as devidas honras e considerações, se não vejamos a diferença entre o reconhecimento póstumo à figura e à obra do Abade Francisco Manuel
Alves, vulgo, Abade de Baçal e a perfeita amnésia colectiva em relação a Monsenhor José de Castro. Nessa edição de 24 de Novembro do “Mensageiro
de Bragança” é publicada uma pequena entrevista ao presidente da Comissão Organizadora deste evento, o
Professor Doutor Henrique Manuel Pereira que, de forma simples e bem explicita,
se refere à ambição de recuperar para o presente o nome, a vida e, principalmente
a vasta obra de Monsenhor José de Castro, possibilitando assim às actuais e às futuras gerações conhecerem o seu extraordinário legado. No fim dessa entrevista
Henrique Manuel Pereira perspectiva aquilo que poderá ser o caminho certo para a
recolocação de Monsenhor no lugar devido,
nomeadamente através de um centro de estudos e um serviço educativo centrado na sua
personalidade, ou através do estudo e reedição da sua obra, ou através da edição de textos inéditos e da realização de documentários e afins.
Na referida entrevista, historia-se
o que entre nós tem merecido a memória de Mons. José de Castro, sem esquecer de
louvar o esforço para a reabilitar por parte de personalidades como Belarmino
Afonso e D. António José Rafael. De resto, este não é o primeiro serviço que
Henrique Manuel Pereira presta à figura de Mons. José de Castro. Bastará
lembrar a competente e rigorosa organização dos livros “D. Frei
Bartolomeu dos Mártires e outros textos sobre o venerável” (2014) e mais recentemente “In Memoriam: Pe. Francisco Manuel
Alves, Abade de Baçal” (2016), ambos editados pela diocese de Bragança-Miranda.
Das iniciativas
para o futuro, avançadas na entrevista a que nos vimos referindo, sem
desmerecer qualquer uma delas, merece-me destaque a vertente pedagógica, naquilo que poderá e deverá ser um serviço educativo ao dispor das
comunidades escolares e, em particular, dos estudantes da região e para além dela. Será relevante, do ponto de vista
educacional, cultural e até social, levar Monsenhor José de Castro até às escolas básicas e secundarias de Bragança e não só, proporcionando assim um efectivo
conhecimento do cidadão bragançano, do laborioso estudioso e, não menos importante, do produtor
cultural que Monsenhor foi. Importa que essas novas gerações percebam e entendam o seu
contributo para aquilo que Bragança hoje é, enquanto diocese e mesmo enquanto
cidade e região.
Apesar de já conhecer a figura de Monsenhor e
de já conhecer parte da sua obra, o
primeiro contacto sério e aprofundado com a sua obra foi
no âmbito da minha investigação sobre a vida de D. Manuel António Pires, publicada em 2015. Ao
analisar a sua correspondência logo percebi uma proximidade e
entre ambos e, se assim poderei dizer, uma relação onde Monsenhor desempenharia um papel tutelar e até paternalista, no melhor sentido do
termo, em relação ao então jovem seminarista e estudante em
Bragança e Roma e, também, depois sacerdote na diocese de
Bragança e bispo em Silva Porto, Angola.
Do que já conheço da pessoa e obra de Monsenhor José de Castro aquilo que mais admiro e
mais me impressiona é a sua elevadíssima capacidade de trabalho, seja na
investigação, seja na produção escrita e cultural. Tendo sido
quem foi e tendo ocupado os lugares que ocupou, como conseguiu ele espaço e tempo para tamanha obra? Teria
ele tido consciência da dimensão hercúlea do seu esforço? Teria ele tido consciência que estaria a trabalhar, não para si e para os seus contemporâneos, mas para aqueles que um dia
viriam, ou seja, nós?
Estamos perante uma obra singular e
que, sem dúvida, urge conhecer e dar a conhecer.
Será essa a melhor forma de dignificar
a sua vida e a sua memória.
Luís Vale
Vila Boa, 30 de Novembro de 2016 "