A rádio Brigantia noticia hoje (ler aqui) que os resultados definitivos do Censos 2021 revelam Bragança como um distrito em extinção, pois todos os seus doze concelhos perderam população em percentagens exageradas. Não é que seja surpresa a região continuar a perder população, mas quando já estávamos com valores tão baixos, sabermos que as perdas continuam acentuadas, deixa-nos completamente desarmados e incapazes de qualquer reacção. Bem sei que o facto do país ter regiões de baixa densidade não seria uma fatalidade em si e que até, tal como acontece noutros países europeus, as populações dessas regiões poderiam ter qualidade de vida, estabilidade e até serem competitivas, mas infelizmente não é essa a nossa realidade e Lisboa não tem feito mais do que desinvestir na região. Veja-se a retirada da ferrovia do distrito (e de outras regiões interiores do país) como o exemplo mais que evidente da falta de pensamento estratégico e apenas orientado pela e para a finança e especulação.
Mas regressemos aos dados do Censos 2021. Entre 2011 e 2021 o distrito perdeu 13.448 residentes, pois tinha 136.252 em 2011 e agora só tem 122.804 residentes. Por concelho as perdas são as seguintes:
Torre de Moncorvo = -20,42%
Alfândega da Fé = -15,34%
Freixo de Espada à Cinta = -15%
Vinhais = -14,32%
Carrazeda de Ansiães = -13,86%
Miranda do Douro = -13,62%
Mogadouro = -13%
Vimioso = -11,14%
Mirandela = -10,32%
Macedo de Cavaleiros = -9,67%
Vila Flor = -9,66%
Bragança = -2,15%
Pelos vistos, apenas nos resta esperar pela morte e migração dos poucos habitantes que cá resistem.
Aliás, a percepção que tenho é que o próprio Estado português já há muito tempo que decidiu que o interior do país seria para abandonar e que seria uma questão de tempo, entre três a quatro gerações para tal acontecer. Tudo isto com o conhecimento dos responsáveis políticos da região, falo dos autarcas, dos deputados e de todas as nomeações políticas para cargos sectoriais da Administração Pública. Foram décadas e décadas de protagonismos locais e regionais, de mão estendida em Lisboa e de satisfação pelas sobras que permitiam inaugurações de betão e alcatrão, enquanto assistiam, encolhendo os ombros, ou ausentes e distraídos, ao esvaziamento de serviços do Estado e à retirada das suas tropas. Um triste espectáculo: vão-se os dedos, mas ficam os anéis, que é como quem diz, vão-se as gentes, mas ficam os auditórios, as piscinas, as ciclovias, os museus, assim como os super e hiper-mercados e as tão desejadas vias-rápidas, itinerários principais e auto-estradas e continuam a cortar fitas e a ser capitais disto e daquilo...
Talvez esteja na altura de responsabilizarmos não só o Estado, mas também de olharmos para a nossa quota-parte de responsabilidade política e de assumirmos que esta tem rostos e tem nomes. Depois, seria bom começarmos a pensar sobre o que fazer com este vasto território, despovoado e abandonado à sua sorte, em vez de perpetuarmos a ilusão ou falsa esperança que um dia a realidade será diferente. Infelizmente, não será mais do que uma agonia e morte cada vez menos lenta.
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