Tal como a esmagadora maioria dos meu concidadãos, fui surpreendido pelo apagão de ontem. Estava em casa e, no imediato, não relevei a situação e só quando comecei a interagir com familiares e amigos, que se encontravam noutras geografias do país, percebi a dimensão da coisa. Pessoal e até familiarmente, este inesperado acontecimento não foi problemático, nem causou grande perturbação nas rotinas quotidianas, a não ser o lanche improvisado, por impossibilidade de aquecer ou confeccionar a refeição da noite.
Mas atento e consciente da dimensão do problema, a reflexão que me importa sobre o sucedido tem duas dimensões. A primeira, de cariz ontogénico, recorda-nos a condição vulnerável e totalmente dependente da energia eléctrica de cada um de nós, das comunidades e das organizações, sem termos plena consciência disso e pensando que, por defeito, ela faz parte da nossa existência. Só que não faz. A sociedade actual vive, literalmente, agarrada e dependente dessa fonte de energia e só nos momentos de ressaca, como o de ontem, porque surpresos, é que, algumas consciências se aperceberam dessa condição.
A segunda dimensão, diz respeito à noção de comunidade e à do próprio Estado, na medida em que o apagão de ontem foi consequência de uma situação que nós não controlámos, nem decidimos. O facto de estarmos conectados internacionalmente com outras redes eléctricas é um facto positivo, mas isso não deveria significar a nossa demissão na produção e distribuição de energia. Por outras palavras, o sucedido ontem foi uma amostra e demonstração daquilo que poderá um dia acontecer (distopia, ou não), pois o Estado português optou por encerrar algumas das centrais produtoras de energia e trocá-las pela importação de energia porque "mais barata", ao mesmo tempo que privatizou empresas do sector - EDP e REN, perdendo assim a soberania nacional neste sector.