29 abril 2025

soberania energética

Tal como a esmagadora maioria dos meu concidadãos, fui surpreendido pelo apagão de ontem. Estava em casa e, no imediato, não relevei a situação e só quando comecei a interagir com familiares e amigos, que se encontravam noutras geografias do país, percebi a dimensão da coisa. Pessoal e até familiarmente, este inesperado acontecimento não foi problemático, nem causou grande perturbação nas rotinas quotidianas, a não ser o lanche improvisado, por impossibilidade de aquecer ou confeccionar a refeição da noite.
Mas atento e consciente da dimensão do problema, a reflexão que me importa sobre o sucedido tem duas dimensões. A primeira, de cariz ontogénico, recorda-nos a condição vulnerável e totalmente dependente da energia eléctrica de cada um de nós, das comunidades e das organizações, sem termos plena consciência disso e pensando que, por defeito, ela faz parte da nossa existência. Só que não faz. A sociedade actual vive, literalmente, agarrada e dependente dessa fonte de energia e só nos momentos de ressaca, como o de ontem, porque surpresos, é que, algumas consciências se aperceberam dessa condição.
A segunda dimensão, diz respeito à noção de comunidade e à do próprio Estado, na medida em que o apagão de ontem foi consequência de uma situação que nós não controlámos, nem decidimos. O facto de estarmos conectados internacionalmente com outras redes eléctricas é um facto positivo, mas isso não deveria significar a nossa demissão na produção e distribuição de energia. Por outras palavras, o sucedido ontem foi uma amostra e demonstração daquilo que poderá um dia acontecer (distopia, ou não), pois o Estado português optou por encerrar algumas das centrais produtoras de energia e trocá-las pela importação de energia porque "mais barata", ao mesmo tempo que privatizou empresas do sector - EDP e REN, perdendo assim a soberania nacional neste sector.

18 abril 2025

bolo de bolacha

"...É a mais sublime sobremesa da doçaria nacional. Não o digo de ânimo leve. [...] Que se evapora das ementas à medida que o preço do cardápio aumenta, desaparecendo por completo nos restaurantes dos grandes chefs. Um bom bolo de bolacha não se deita em cama de coisa nenhuma, nenhum rio verde percorre o seu topo, nem é susceptível a desconstruções. Não se faz acompanhar de nada nem ninguém, assobiando solitária e alegremente pelos caminhos. Um bom bolo de bolacha é, aliás, indistinguível de um bolo de bolacha medíocre. Ergue-se muito quieto e direito na sua torre Mariana até que salta de uma base de papel rendilhado para o prato de sobremesa e caminha despreocupada e humildemente para nós, que o recebemos como a um velho conhecido, sem o contemplarmos, sem o comentarmos, sem o fotografarmos, sem pensarmos na sorte que temos por o frágil ecossistema de que a sua sobrevivência depende não ter ainda derretido. Comemo-lo como se nunca o fôssemos perder e, quando ainda vamos a meio da ingestão, fazemos, saciados, um gesto inefável na direcção do empregado de mesa a pedir o café, a conta ou o aguardente. Não mais pensamos nele até à próxima vez em que uma saudade estranha o convocar de novo à nossa presença."
João Pedro Vala, in revista LER (Inverno 2024/2025: pág. 100).

16 abril 2025

a quem possa interessar...


Eu vou lá estar. Apareçam.

ainda sobre os livros...

"Mas os livros não são objectos decorativos: é preciso tirá-los e abri-los sempre que nos apetece, e poder devolvê-los com facilidade ao lugar onde estavam. Daí que a coisa mais importante para um livro seja o acesso."
Miguel Esteves Cardoso, in jornal Público, 16 Abril 2025.

15 abril 2025

eu ainda acredito

Hoje, no início da tarde, resolvi actualizar o meu registo do acervo de livros que se vão acumulando cá por casa e relembrei este texto magnífico, sensível e lindo, considero eu, de Herberto Helder, republicado agora, na última edição do Jornal de Letras (nº 1422, Abril de 2025). Tanto neste texto com o qual eu me identifico...


03 abril 2025

Jornadas Cidadãs


A quem possa interessar. Motivados pelas recentes iniciativas extractivistas na região, vamos falar sobre "Território, Agressões e Resistências". Em breve programa detalhado.

01 abril 2025

ser transmontano

"Boa gente, estranha gente, vivendo presa aos anseios dum tempo que passou. Pertenço-lhe, nela me revejo, incapaz de distinguir entre a bênção e o castigo, apenas certo de que ser transmontano, tanto como uma origem é um destino."
José Rentes de Carvalho, in Tempo Contado, 18 Março 2025
(ligação para texto completo aqui)

quarto episódio do podcast