Esta será também uma homenagem ao meu tempo e a todos aqueles que ao longo dele tiveram por missão ensinar-me e explicar-me a "tabuada". Segundo me fazem saber os meus primeiros e últimos mestres, ainda por cima, em acumulação com o fardo da progenitura, nunca terei sido bom aprendiz, nunca tendo saído da maior e anónima mediocridade escolar.
De facto, todos os anos que passaram neste intervalo de tempo até hoje, serão o resultado de uma qualquer tabuada produzida por alguém; e até podem ter escolhido várias conjugações, pois 2x10=20, como 5x4=20 ou então, 3x7=21, ou ainda, 6x3=18, etc, etc...desconheço qual a escolhida, mas também é-me indiferente. Sei que todo o tempo é passível da tabuada.
O tempo este, o de agora e presente, é o de reproduzir tudo aquilo que um dia produziram em relação a nós. Agora, é a nossa prole que tem que apreender, muitas vezes contrariada, pois a brincadeira é sempre melhor e a responsabilidade ainda não é um conceito esclarecido. Cá por casa, está mais do que percebido que a criança, agora que chegou a sua vez de aprender essa arte de ler e escrever, não acha grande piada às letras, principalmente quando se vê obrigada a juntar, na escrita e na leitura, duas ou mais espécies... o esforço tem sido no sentido de a fazer compreender a necessidade dessa construção, porque na realidade, no seu entendimento, um B e um A é BA (como 1+1=2), mas BA + TA já não tem que ser BATA.
Embuido neste esforço pedagógico familiar, dou comigo a reflectir sobre esta "coisa" básica e elementar que é o alfabeto e o seu domínio. Algo que damos como certo e universal e, por isso, o desvalorizamos. O que é um erro, pois, por incrivel que possa parecer, ainda hoje, há quem não o conheça (analfabetismo), quem não o saiba utilizar (apedeutismo) e também quem não o compreenda (iliteracia). Também, constato que este é o grande primeiro momento, será a primeira alavanca, que permitirá à criança desenvolver o seu individualismo e a sua personalidade. Por fim, estes serão os últimos momentos em que conseguimos enganá-las, ou pelo menos, omitir, ao ler o que nos apetece, como aconteceu até aqui quando questionados...
Acima de tudo interessa-me saber que neste processo ontogenético tudo possa acontecer naturalmente e sem grandes expectativas e/ou exigências. Ser criança, foi, é e quero que continue a ser, sinónimo de ingenuidade, de irresponsabilidade, de liberdade e de criatividade. A seu tempo, depois de muita tabuada conjugada, as responsabilidades chegarão.. Sem pressa.
* - Título de um livro de Cristovão de Aguiar, com o qual me cruzei, um destes dias, nos corredores de uma FNAC.
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