22 janeiro 2008

Trás do Maninho

Nome de rua
Rua de dois, de todos os sentidos
Sentido nome de lugar
Lugar prenhe de memórias
Memórias de um outro tempo
Tempo de berço para a minha meninice
Meninice naqueles descuidados espaços
Espaços das alegrias e mil alegorias
Alegorias como assombrosas recordações
Recordações que trouxe e bem comigo

Não tivesse havido o recente entusiasmo com a possibilidade de uma nova amizade, que para alguém muito próximo, se transformou em excitação e paixão, e este exercício de regressão ficaria guardado para o indeterminado momento em que tenciono dar início à minha autobiografia.
Foi este novo “achamento” que motivou esta turbulência de recordações desse tempo já ido, dos velhos rostos de infância, dos prédios e recônditos pátios, das brincadeiras de rua e de vão-de-escadas. O pinhal sempre ali perto, com o seu Pomar, onde nunca vi um fruto maduro. O campo da bola, onde dia sim, dia sim, jogávamos entre nós ou contra equipas de outras ruas/lugares (Aguim, Oliveiras, Ilha, Costa, Rego d’Água, entre outros), o poço da nora e o monte onde toda a rua se sentava, ritualmente de dia ou de noite, assim que o tempo e o ofício o permitissem.
Durante muito tempo, assim que passei a ser dono de um volante, não havia viagem ou deslocação que não incluísse a passagem por tal rua. Sem parar e sem falar com ninguém, lá subia a rua, num movimento lento e atento, com todos os sentidos na busca de um qualquer pormenor que me alimentasse alma e apaziguasse a saudade.
Concerteza, um tempo e uma vivência que me determinaram a personalidade e jamais esquecerei. Os recantos, os nomes e apelidos associados aos rostos de crianças, jovens e menos jovens. Desse meu mundo faziam parte: no mesmo vão-de-escadas, os irmãos Jorge e Nuno Camacho; os irmãos Paulo, Sónia e Sílvia e o Tiago, então filho único… bem perto, mas num outro vão-de-escadas, os irmãos Rui Pedro e Miguel que tinham os brinquedos mais espectaculares, porque mais evoluídos, que eu e o meu irmão já víramos, o Beto, a Fátima e a Rosário; o Nuno e as suas irmãs mais velhas, a Paula e a Fatinha; mais miúda, a Evinha, filha dos donos deste prédio. Em frente, o Juca e suas irmãs, a Paula e a Elsa, e ao lado destes, o Zé Manel, mais tarde conhecido por Guede… e já agora, jogador de bola (o Zé Manel já tinha, naquele tempo, um computador e, por isso, passava horas e dias enfiado em casa dele a jogar); por baixo deste era a casa do Quim e do irmão puto, o Ricardo… onde muita lata de atum e sardinha comemos. Aqui, os prédios foram construídos, cronologicamente, de baixo para cima, sendo o mais novo, aquele que está mais perto do cimo da rua, onde moravam o Roger e a Susana, a Isabel e seu irmão, o Rui (doente sportinguista, que entretanto foi morar para a Trofa), as irmãs Carla e Xana; em frente a esta última construção várias pequenas habitações, onde morava o Xico e, mais acima, em género de ilha, o Rui (Futre), o Nani e o Serginho (todos primos). Para além destes, ainda tenho na lembrança outros e outras, mas de quem já esqueci a graça.
Curiosa era a atracção por uma pequena parede de pedra, então existente entre o prédio maior e o nº 115, onde todos confluíam e ficavam… nós também, pelo menos até que os candeeiros da iluminação pública se acendessem, uma vez que essa era a hora concertada, com os pais, para o nosso recolher obrigatório… senão, era mais que certo ouvirmos ecoar, por todo o espaço, uma voz grave que nos punha em sentido (de casa).
Foi, é e será uma referência para mim.
Digamos que, por criteriosas razões, dedico este momento à paixão da sedução. Esse primoroso jogo das incertezas para aqueles a quem as pernas fraquejam e os lábios tremem e para aqueles outros, esses que vivem na ânsia do momento e, depois, chegada a hora, ele passa sem se alcançar. A vós.

6 comentários:

Rui disse...

queria desde ja agradecer o facto de estar presente nas tuas memorias do passado , fizestes com que eu recordasse esses tempos que nunca mais voltam atras.eu sou o rui(futre) como indicas , eu nao tenho a certeza do que vou dizer , mas acho que és o luis miguel irmao do daniel e do ricardo , se estiver enganado por favor nao leves a mal. um abraço

Intuiçao e Talento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
elsa paul disse...

Único... Boas recordações. Lembrei me agora do Pomar. ;)

Susana Lapa disse...

Adorei!!! Obrigada por me fazer recordar de tanta coisa que estava adormecida num cantinho da minha memória :)

quim disse...

olá a todos em especial a ti Luis realmente consseguis te com que o tempo voltasse a atrás uns bons anos por breves momentos é claro mas fantástica recordação um bem haja a todos com muita saudade destes belos tempos :))

ASS. QUIM

sonia disse...

Olá luis, bem hajas por tão bem lembrar esses tempos únicos e inesquecíveis.Tempos que recordamos com saudade e nostalgia, tempos da nossa infância e juventude em que era possível ter liberdade de brincar, explorar, conviver, ser feliz.
beijos para teus irmãos.

sonia ( do teu prédio)