Mesmo considerando que sempre vivi na modernidade, há coisas que nos conseguem surpreender, de tão modernas que são. Desde (o meu) sempre, lembro-me de pagarmos e às vezes bem, por peças de roupa impecavelmente acabadas e devidamente engomadas. Esse era o tempo das peças únicas e irrepetíveis, obra e arte dos ofícios de então: alfaiates e costureiras, engomadeiras e bordadeiras, que com esmero marcavam, pregavam, vincavam e alinhavavam.
Depois, a modernidade encarregou-se de ostracizar tais artes e substituí-las por monstruosos outlets onde se compra ao kilo e em série, obrigando-nos a todos a vestir e a calçar de igual. Foi neste tempo que começamos a pagar e sempre bem, por peças inacabadas, construidas com materiais gastos e com feitios esquivos. Roupa rasgada e de cores duvidosas instituiram-se como padrão de moda e de gosto.
Agora, naquilo a que podemos chamar neo-modernismo, querem que paguemos e estupidamente bem, por peças (se é que assim as podemos chamar...) que nos são apresentadas e entregues num novelo, torcidas e completamente engelhadas. Estamos nós prestes a pagar e a menina que simpaticamente nos atende, agarra-se à peça escolhida e, com empenho e dedicação, a torce e retorce, afirmando que é assim para manter a aparência original...
Como o tempo corre e passa. E nós com ele.
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