O pó dos livros é o tempo da sua existência e o pó do nosso tempo
Foram mais ou menos estas as palavras de Eduardo Lourenço, recolhidas na última edição da revista Ler, que me levaram para pensamentos e reflexões várias, algumas delas bem presentes e bem sentidas na existência do eu na vida dos dias. Para além das questões ou da verdade técnica e de todas as consequências fisiológicas - renites, sinusites, alergias, entre outras, que poderão contradizer aquilo que vou afirmar, sei que gosto do pó que se acumula nos livros. Não me lembro de algum dia ter limpo os meus livros e, lá em casa, é sabido que o pó dos meus livros, normalmente arrumados e localizáveis, não é para limpar, aspirar ou varrer... quando muito, a senhora que lá vai tratar dessas questões higiénicas tem autorização para limpar a mesa, que serve de secretária e as estantes, mas sem tocar nos livros. (Bastaria dizer para os limpar e ela logo passaria não só um pano, como também um qualquer produto para lhes dar mais brilho...)
Os livros, os meus, são-me necessários e bem por perto. Relação que poderia denominar de proximidade, na medida em que preciso da sua presença continuadamente. Tipo experiência sensorial, na qual os sentidos todos, ou quase todos, são chamados a intervir.
Tal como para os demais, o pó dos meus livros é o meu pó. O pó que acumulei ao longo da minha vida, por isso não gosto que apaguem esse depósito de memórias várias e tantas. É nos meus livros, peças únicas em que fui depositando o dinheiro que tive e, por vezes, o dinheiro que não tive. Que está parte do meu tempo, que não é muito nem pouco, não será melhor nem pior, que foi bom e que foi mau. Enfim, tem sido a minha viva experiência.
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