26 setembro 2009

olho de Alá

(texto escrito a pedido de um amigo para um "panfleto" de apresentação de uma peça de teatro com o mesmo nome. O resultado não agrada, mas mesmo assim enviei-lho com a indicação de que se não gostasse não o utilizasse)

“a fé na capacidade humana de transcender limitações”
Ana Saldanha

A sociedade ocidental, fortemente influenciada pelo positivismo, ainda hoje vive agarrada à ciência convencional, que na sua pressa pelas descobertas e na sua voracidade pelo conhecimento, objectivo santo e sacro da “boa” ciência, esquece com facilidade tudo ou parte daquilo que a precedeu, fundou ou fundamentou e permitiu evoluir até ao estado presente. Vivemos um tempo complexo, de tal forma especializado que, sem reflexão, vamos reinventando os limites da nossa percepção. Um dos momentos primeiros desta nova ciência, foi como que um acaso, num encontro fortuito de culturas, a curiosidade pelo outro e pelo exótico levou até à velha Europa um estranho instrumento, levado da Península Ibérica nas alforges de um velho comerciante. Diz a lenda que foi o seu peculiar design que despertou o interesse. Já no centro do mundo de então terá chegado às mãos de um mestre, interessado nas ciências do oculto e que na clandestinidade praticava as suas manhas e patranhas. Como estava bem consciente do perigo da sua actividade, era com secretismo que aceitava partilhar os seus conhecimentos e mostrar a terceiros as suas estranhas descobertas. Foi este clandestino que baptizou o tal objecto de “olho de Alá”, pois percebera que este tinha poderes extraordinários, jamais vistos, sem humana explicação ou entendimento e que ultrapassava em muito os limites da percepção de então. Algo semelhante aos poderes divinos ou à visão de um Deus, daí a designação. Nessa pré-época moderna, os paradigmas vigentes estavam nas mãos de um poder instituído fortemente influenciado pela hierarquia da igreja, o que levava a uma atitude persecutória em relação a tudo o que pudesse por em questão essa mesma ordem. O olho de Alá foi o elemento que fundou a crítica e o movimento contestatário ao status quo desse tempo. Foi ele que permitiu conhecer todo um mundo novo, até aí desconhecido, que se nos apresentava através dessas lentes. Mundo esquivo de novas dimensões, que obrigava a uma nova abordagem e, consequentemente, a uma nova ciência que não dependesse sequer do poder da Igreja, mas da arte e engenho do Homem em rasgar com as velhas lógicas e agarrar a vanguarda da descoberta e do conhecimento.

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