---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
25 dezembro 2009
21 dezembro 2009
a máscara e opções políticas
Porque vem referido neste documento e porque foi algo que aconteceu há poucos dias, gostaria vos trazer uma pequena reflexão acerca da Bienal da Máscara, dos caretos e das diferentes iniciativas organizadas pela autarquia sobre esta temática, isto é, sobre a Máscara. Isto porque, sendo uma iniciativa da Câmara Municipal será uma opção política e por isso mesmo considero importante partilhar convosco o seguinte:
Começo com uma afirmação pela qual assumo total responsabilidade: NUNCA COMO HOJE, EM BRAGANÇA E SUA REGIÃO, A MÁSCARA TEVE TANTA IMPORTÂNCIA, TANTO PROTAGONISMO, TANTA CENTRALIDADE.
Bem sei e, concerteza, saberão os demais aqui presentes que nos últimos tempos e por esse mundo fora, assim como em Portugal, temos assistido a uma forte tematização como forma de estruturar e gerir os territórios (patrimónios mundiais ou reservas naturais são alguns exemplos que todos conhecem). Um bom exemplo, concreto e bem próximo, será o do município de Sabrosa, que não satisfeito com a sua inclusão num território protegido pela UNESCO, não satisfeito pela produção de vinhos de qualidade, adoptou uma personagem - Fernão de Magalhães, cuja origem, envolta em polémica, alguns afirmam ser em Sabrosa, como ponto de partida para uma circum-navegação de imaginários globalizantes, ou seja, a associação global de um personagem ao seu ponto de origem, que por acaso é em Sabrosa, que por acaso é em Portugal. A isto se dá o nome de tematização.
Aquilo que o município de Bragança faz com a Máscara poderia muito bem ser também uma tematização, mas pelo que me é dado a perceber pelas narrativas, pelos discursos e pelas actividades não é isso que se trata. E também importa salientar que aquilo que está em questão, no meu entender, não é a realização da Bienal da Máscara ou o Museu da Máscara (que considero um excelente equipamento) nem os inputs de outras geografias. Aquilo que me preocupa são as narrativas, os discursos repletos de lugares comuns produzidos pelos mesmos de sempre e que, ano após ano, vão-se repetindo na elegia ao objecto como o sacrossanto da região, numa folclorização exacerbada que até poderá levar as pessoas para as ruas e que reunirá os grupos de máscaras ou de caretos, consoante a sua origem (e vejam como a própria designação do grupo já nos remete para algo folclórico…), e que mais não fazem do que uma actuação para os outros verem e que alguém paga. Aliás, mesmo na nossa região assistimos ao aparecimento e à organização de muitos desses grupos no lugar dos velhos rituais que em muitos lugares e aldeias há muito tinham desaparecido.
Não me parece que a folclorização revivalista seja a melhor forma de dignificar a Máscara, nem me parece que a médio ou longo prazo possa ser uma mais-valia para a região e para o município de Bragança. Importante era estudar, recolher e perceber junto daqueles que têm essa memória.
Agora para finalizar, regresso à minha afirmação inicial, para vos dizer que ela tanto mais me parece verdade, que a Máscara nos seus ambientes originais, rurais, nunca teve tantas honras e tanta serventia. A sua utilização era sempre ritual, com data e hora marcada, num tempo de excepção, num tempo dentro do tempo, devidamente enquadrado pelo ciclo anual agrícola e pelo ciclo anual litúrgico. Tempo oportuno para alguma redistribuição (géneros alimentares, adereços, etc) dentro das comunidades, como a antropóloga Paula Godinho defende, e tempo de uma maior tolerância social que poderia funcionar como descompressor das tensões existentes nas comunidades. Tudo isto, durante meia dúzia de dias em cada ano. É por isto e mais, que me desagrada ver toda esta parafernália discursiva e de legitimação forçada de algo que querem que seja aquilo que nunca foi. Mas há muito para fazer e esta é só uma opinião.
(intervenção na Assembleia Municipal de Bragança, em 18/12/2009, a propósito da IV Bienal da Máscara)
Começo com uma afirmação pela qual assumo total responsabilidade: NUNCA COMO HOJE, EM BRAGANÇA E SUA REGIÃO, A MÁSCARA TEVE TANTA IMPORTÂNCIA, TANTO PROTAGONISMO, TANTA CENTRALIDADE.
Bem sei e, concerteza, saberão os demais aqui presentes que nos últimos tempos e por esse mundo fora, assim como em Portugal, temos assistido a uma forte tematização como forma de estruturar e gerir os territórios (patrimónios mundiais ou reservas naturais são alguns exemplos que todos conhecem). Um bom exemplo, concreto e bem próximo, será o do município de Sabrosa, que não satisfeito com a sua inclusão num território protegido pela UNESCO, não satisfeito pela produção de vinhos de qualidade, adoptou uma personagem - Fernão de Magalhães, cuja origem, envolta em polémica, alguns afirmam ser em Sabrosa, como ponto de partida para uma circum-navegação de imaginários globalizantes, ou seja, a associação global de um personagem ao seu ponto de origem, que por acaso é em Sabrosa, que por acaso é em Portugal. A isto se dá o nome de tematização.
Aquilo que o município de Bragança faz com a Máscara poderia muito bem ser também uma tematização, mas pelo que me é dado a perceber pelas narrativas, pelos discursos e pelas actividades não é isso que se trata. E também importa salientar que aquilo que está em questão, no meu entender, não é a realização da Bienal da Máscara ou o Museu da Máscara (que considero um excelente equipamento) nem os inputs de outras geografias. Aquilo que me preocupa são as narrativas, os discursos repletos de lugares comuns produzidos pelos mesmos de sempre e que, ano após ano, vão-se repetindo na elegia ao objecto como o sacrossanto da região, numa folclorização exacerbada que até poderá levar as pessoas para as ruas e que reunirá os grupos de máscaras ou de caretos, consoante a sua origem (e vejam como a própria designação do grupo já nos remete para algo folclórico…), e que mais não fazem do que uma actuação para os outros verem e que alguém paga. Aliás, mesmo na nossa região assistimos ao aparecimento e à organização de muitos desses grupos no lugar dos velhos rituais que em muitos lugares e aldeias há muito tinham desaparecido.
Não me parece que a folclorização revivalista seja a melhor forma de dignificar a Máscara, nem me parece que a médio ou longo prazo possa ser uma mais-valia para a região e para o município de Bragança. Importante era estudar, recolher e perceber junto daqueles que têm essa memória.
Agora para finalizar, regresso à minha afirmação inicial, para vos dizer que ela tanto mais me parece verdade, que a Máscara nos seus ambientes originais, rurais, nunca teve tantas honras e tanta serventia. A sua utilização era sempre ritual, com data e hora marcada, num tempo de excepção, num tempo dentro do tempo, devidamente enquadrado pelo ciclo anual agrícola e pelo ciclo anual litúrgico. Tempo oportuno para alguma redistribuição (géneros alimentares, adereços, etc) dentro das comunidades, como a antropóloga Paula Godinho defende, e tempo de uma maior tolerância social que poderia funcionar como descompressor das tensões existentes nas comunidades. Tudo isto, durante meia dúzia de dias em cada ano. É por isto e mais, que me desagrada ver toda esta parafernália discursiva e de legitimação forçada de algo que querem que seja aquilo que nunca foi. Mas há muito para fazer e esta é só uma opinião.
(intervenção na Assembleia Municipal de Bragança, em 18/12/2009, a propósito da IV Bienal da Máscara)
17 dezembro 2009
ausência
Como custa viver num dia assim. Não estar bem em lugar nenhum, não saber o que fazer, ainda que se tente disfarçar com o trabalho. Repetir rotinas sem razão e ir aos lugares comuns para tentar aliviar a ansiedade foi estratégia que não resultou e a amargura perdurou. Não saber o que pensar, mas sentir que o futuro estará a ser decidido sem eu poder participar, sem eu poder intervir, deixa-me angustiado.
Sem uma única noticia tua. Sem, que seja, um sinal. Diz-me, não importa o quê, mas liga-me. Fala-me.
No fim deste dia talvez saiba algo mais, mas a incerteza já terá durado o suficiente para saber que te amo verdadeiramente. Fala-me.
Sem uma única noticia tua. Sem, que seja, um sinal. Diz-me, não importa o quê, mas liga-me. Fala-me.
No fim deste dia talvez saiba algo mais, mas a incerteza já terá durado o suficiente para saber que te amo verdadeiramente. Fala-me.
14 dezembro 2009
sarau medieval
Foi no passado Sábado em Bragança que a convite do meu amigo António Afonso reuni com os elementos do grupo de teatro de Bragança e com o grupo de teatro de Zamora. Foi noite muito aprazível e divertida. Com direito a um momento "epifánico" de âmbito pessoal. Com programa cultural variado e de excelente qualidade, do qual destaco os momentos de representação de ambos os grupos. Deste momento sobra este único registo (sei que outros existirão) da entrada no cenário e do papel ao qual me prestei. Pena é que não se veja a dama que trazia pela mão, pois seria bem mais interessante: bem vestida e muito gira.
09 dezembro 2009
07 dezembro 2009
destes dias e dos outros
- BENJAMIM, Walter, 2000, A Modernidade e os Modernos, Rio de Janeiro, Edição Tempo Brasileiro;
- MATTELART, Armand e NEVEU, Érik, 2006, Introdução aos Cultural Studies, Porto, Porto Editora;
- FORTUNA, Carlos (org.), 2001, Cidade, Cultura e Globalização, Oeiras, Celta Editora;
- VÁRIOS, 2005, O Rio, Porto, PANMIXIA - Associação Cultural;
- PEREIRO, Xerardo, RISCO, Luís e LLANA, César, 2006, As Fronteiras e as Identidades Raianas entre Portugal e España, Vila Real, Sector Editorial dos SDE;
- AFONSO, Nuno, 2009, O meu povo em gente, Porto, Papiro Editora;
- DUARTE, Alice, 2009, Experiências de Consumo - estudos de caso no interior da classe média, Porto, U. Porto Editorial;
- VÁRIOS, 2009, Dicionário do Judaísmo Português, Queluz, Editorial Presença;
05 dezembro 2009
gratuitidade da qualidade
Se gostam e querem ler qualidade, o meu conselho de amigo é visitarem este blogue. A 1 dia do paraíso é, digo eu, estar perto desse paraíso, mas ter a consciência que esse dia jamais chegará, e por isso, que o paraíso nunca será alcançado. Apropriada metáfora para a nossa imperfeita condição.
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