Será unânime o sentimento perante tragédias da dimensão desta que aconteceu no Haiti. Também eu me sinto terrivelmente angustiado com tamanha desgraça. Mais angustiado fico perante a dura constatação da real condição do Homem perante a força da natureza, que não escolhe data e local para se manifestar e reclamar, sem avisos prévios, aquilo que a sí pertence. É poderoso, é triste.
Ao mesmo tempo e perante toda a informação que nos invade, principalmente através da televisão, a quietude e o conforto da nossa civilização, vários são os pensamentos e os sentimentos que ganham forma e força, adulterando aquilo que deveria ser essencial e urgente para minorar o sofrimento daquela gente. Gente, miserável e desinformada, que habita um não-país, desestruturado, sem forças militares, sem recursos, sem governo e onde, imagine-se, o Presidente não tem onde dormir, nem onde trabalhar. Se já, antes desta catástrofe, estávamos perante um estado falhado, agora estaremos, sem qualquer dúvida, perante um estado terminado. Ainda hoje, Daniel Oliveira nas páginas do Expresso escreveu: "A terra, quando treme, treme para ricos e pobres. Mas quando o chão se mexe sob os pés de um miserável é bem mais dramática a sua queda. Porque nada o segura".
Aquilo que temos assistido, nestes dias que se seguiram ao desastre, é uma verdadeira disputa:
a) entre os órgãos de comunicação social que, quais Abutres à procura do melhor e maior naco de carne putrefacta, há muito ultrapassaram o dever da informação para, agora, alimentarem o voyeurismo macabro da desgraça alheia;
b) entre as nações, os estados e os países - da China ao Chile, da Rússia à Austrália, para ver quem vai primeiro, quem leva mais e quem será o grande salvador dessa pátria. Todos querem, genuinamente, ajudar e ainda bem, digo eu e todos aplaudem essa disponibilidade e prontidão. Mas, vão-me perdoar, os mais ingénuos e crédulos, a blasfémia: tudo soa mal e cheira a hipocrisia, pois todas essas nações tiveram mais que tempo para participar e contribuir para a construção deste país e, assim, quiçá, teriam evitado tamanha hecatombe humana.
Falharam as organizações transnacionais, nomeadamente as Nações Unidas, que nunca conseguiram criar um ambiente de paz e normalidade social naquele terço do território da ilha Hispaniola das Antilhas. Isso, agora, resultará num enorme drama social e humano, pois para além dos milhares de mortos que é preciso enterrar, para além dos incontáveis feridos que é preciso tratar, será preciso assistir e cuidar dos milhares de refugiados que, assustados e sem nada a perder, partiram em direcção à fronteira com a República Dominicana. O que fazer com toda esta massa humana de refugiados ambientais?
Assim, como escrevia ainda ontem (6ª feira) Miguel Esteves Cardoso no Público, "a grande tragédia é a nossa ignorância" e "o socorro é um filho triste dessa tragédia".
Assim, também, se processa a localização do mundo e o 4º e o 5º mundo continuarão a existir e haverá mais, muito mais sofrimento, aqui e acolá, não importa.
Ao mesmo tempo e perante toda a informação que nos invade, principalmente através da televisão, a quietude e o conforto da nossa civilização, vários são os pensamentos e os sentimentos que ganham forma e força, adulterando aquilo que deveria ser essencial e urgente para minorar o sofrimento daquela gente. Gente, miserável e desinformada, que habita um não-país, desestruturado, sem forças militares, sem recursos, sem governo e onde, imagine-se, o Presidente não tem onde dormir, nem onde trabalhar. Se já, antes desta catástrofe, estávamos perante um estado falhado, agora estaremos, sem qualquer dúvida, perante um estado terminado. Ainda hoje, Daniel Oliveira nas páginas do Expresso escreveu: "A terra, quando treme, treme para ricos e pobres. Mas quando o chão se mexe sob os pés de um miserável é bem mais dramática a sua queda. Porque nada o segura".
Aquilo que temos assistido, nestes dias que se seguiram ao desastre, é uma verdadeira disputa:
a) entre os órgãos de comunicação social que, quais Abutres à procura do melhor e maior naco de carne putrefacta, há muito ultrapassaram o dever da informação para, agora, alimentarem o voyeurismo macabro da desgraça alheia;
b) entre as nações, os estados e os países - da China ao Chile, da Rússia à Austrália, para ver quem vai primeiro, quem leva mais e quem será o grande salvador dessa pátria. Todos querem, genuinamente, ajudar e ainda bem, digo eu e todos aplaudem essa disponibilidade e prontidão. Mas, vão-me perdoar, os mais ingénuos e crédulos, a blasfémia: tudo soa mal e cheira a hipocrisia, pois todas essas nações tiveram mais que tempo para participar e contribuir para a construção deste país e, assim, quiçá, teriam evitado tamanha hecatombe humana.
Falharam as organizações transnacionais, nomeadamente as Nações Unidas, que nunca conseguiram criar um ambiente de paz e normalidade social naquele terço do território da ilha Hispaniola das Antilhas. Isso, agora, resultará num enorme drama social e humano, pois para além dos milhares de mortos que é preciso enterrar, para além dos incontáveis feridos que é preciso tratar, será preciso assistir e cuidar dos milhares de refugiados que, assustados e sem nada a perder, partiram em direcção à fronteira com a República Dominicana. O que fazer com toda esta massa humana de refugiados ambientais?
Assim, como escrevia ainda ontem (6ª feira) Miguel Esteves Cardoso no Público, "a grande tragédia é a nossa ignorância" e "o socorro é um filho triste dessa tragédia".
Assim, também, se processa a localização do mundo e o 4º e o 5º mundo continuarão a existir e haverá mais, muito mais sofrimento, aqui e acolá, não importa.
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