Num encontro para comemorar o centenário da República portuguesa foi-me apresentado o arquitecto Luís Mateus, que estava presente na qualidade de orador. Nunca ouvira falar dele nem da sua Asssociação Repúblicana, no entanto, foi desde o primeiro momento cordial e afável, o que motivou desde logo, penso eu, uma empatia recíproca. Ficámos na conversa acerca das identidades, dos sentimentos de pertença e da construção de narrativas locais, regionais, nacionais, transnacionais. A certa altura, para ilustrar uma ideia, ele refere um autor Libanês, que um dia no preâmbulo deste livro terá escrito:
Outros que não eu teriam falado de "raízes"... Não emprego esse vocabulário. Não gosto da palavra "raízes" e da imagem ainda menos. As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: "Se te libertas, morres!"
As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer. A seiva do solo natal não nos sobe pelos pés em direcção à cabeça, os pés só nos servem para andar. Para nós só as estradas contam. São elas que nos guiam - da pobreza à riqueza ou a outra pobreza, da servidão à liberdade ou à morte violenta. Elas fazem-nos promessas, levam-nos, empurram-nos e depois abandonam-nos. E então morremos, tal como nascemos, à beira de uma estrada que não escolhemos.
As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer. A seiva do solo natal não nos sobe pelos pés em direcção à cabeça, os pés só nos servem para andar. Para nós só as estradas contam. São elas que nos guiam - da pobreza à riqueza ou a outra pobreza, da servidão à liberdade ou à morte violenta. Elas fazem-nos promessas, levam-nos, empurram-nos e depois abandonam-nos. E então morremos, tal como nascemos, à beira de uma estrada que não escolhemos.
A citação que não terá sido, compreensivelmente, fielmente verbalizada, ficou-me na memória, mas como é normal em mim, não consegui sequer fixar o nome desse autor, apenas que era Libanês. Fiquei a pensar nesse momento e nessa citação. Regressado ao Porto, depressa procurei encontrar o rasto a tal obra. Fui a uma Fnac e logo descobri o nome e a certeza que existia um exemplar desse livro numa outra loja em Lisboa. Fiz o pedido e passadas 2 semanas pude ir buscá-lo à loja. Vinte euros por cerca de 420 páginas de texto. Ávido procurei o preâmbulo em busca de tal citação. Hoje, passados três dias, acabei a leitura desta história auto-biográfica, talentosa e virtuosamente bem escrita.