O ridículo e a cagança de um provinciano que pode também ser um valente azeiteiro.
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
30 setembro 2010
25 setembro 2010
paisagens do eu em viagem
Gosto de viajar de comboio porque, ao contrário de outros meios de transporte disponíveis (acessíveis), o tempo de viagem não representa para mim um tempo morto ou desocupado, pois posso sempre aproveitar esses tempos-espaços para ler, escrever, reflectir, dormir, etc. Já nos restantes e alternativos transportes isso não me é possível, uma vez que no automóvel ou vou ocupado com a condução ou vou atento à condução de quem me conduz e no avião, o stress e o medo tolham-me qualquer faculdade mental e racional. O tempo de viagem num comboio também me permite usufruir das paisagens exteriores, tal como me permite observar o ambiente interior. Ocupação à qual, com prazer voyeurista, me dedico durante longas horas de viagem. Tudo isto apenas para poder partilhar uma dessas etnografias...
Numa viagem de ida e volta entre Vila Nova de Gaia e o Entroncamento, utilizando o serviço Inter-Cidades da CP, pude observar com miudência a viagem daqueles que bem perto se instalaram. Viagens repletas de jovens... e tantos que eles(as) eram por todo o comboio. Sozinhos(as) ou em grupos, sentia-se no ambiente a vida recheada de mochilas às costas e auriculares nos ouvidos. No meu sentado e curto horizonte visual, viajavam quatro rapazes, estupidamente adolescentes, que descontraidamente trocavam conversas: enquanto um lia atentamente o Memorial do Convento de José Saramago, outro jogava um jogo de carros no seu telemóvel, um outro lia, na revista Sábado, um, concerteza interessante e cativante, artigo sobre sexo e as suas cambiantes anal e oral... de vez enquando e de certo motivado pela leitura, lá ia comentando com os companheiros de viagem acerca das qualidades étnicas do sémen e as consequências do seu uso(!?). O último elemento deste quarteto, pura e semplesmente, dormia.
Imediatamente atrás destes quatro e ao meu lado esquerdo, sozinha, viajava uma jovem, morena, esguia, bonita, com não mais de 20 anos de idade que, entre trocas de sms no seu telemóvel e um nervoso mascar de chiclete, ia escutando atentamente a conversa daqueles petizes e, a espaços, denunciava-se com brilhantes sorrisos. Reparei na sua inquietude, não parando um momento: ora deitava-se, ora virava-se para um lado, ora virava-se para o outro, ora cruzava e descruzava a perna, ora levantava-se e espreitava para ambas as extremidades da carruagem, ora voltava a sentar-se...
Mais à frente, chegou e sentou-se ao lado da jovem morena um rapaz negro que trazia na cabeça um barrete e que, de imediato, começou a conversar com ela. Se já se conheciam ou não, não deu para perceber, mas a determinada altura escuto-a a perguntar-lhe o seu nome. Depois de mais umas dezenas de minutos e quilómetros, ao aproximarmo-nos de mais uma estação, ela deu-lhe um beijo nos lábios, levantou-se e foi-se embora. Saiu nessa estação. Mal o comboio retomou a sua marcha ele também se levantou daquele lugar e desapareceu para outra carruagem.
Eu, que me sentara sozinho e desde logo começara a ler, depressa me desconcentrei e os meus sentidos reféns ficaram dessas paisagens. Quis escrever aquilo que presenciava, mas a excessiva trepidação do movimento do comboio apenas permitiu escrevinhar e rabiscar. Servi-me da memória e assim se escreveu.
Numa viagem de ida e volta entre Vila Nova de Gaia e o Entroncamento, utilizando o serviço Inter-Cidades da CP, pude observar com miudência a viagem daqueles que bem perto se instalaram. Viagens repletas de jovens... e tantos que eles(as) eram por todo o comboio. Sozinhos(as) ou em grupos, sentia-se no ambiente a vida recheada de mochilas às costas e auriculares nos ouvidos. No meu sentado e curto horizonte visual, viajavam quatro rapazes, estupidamente adolescentes, que descontraidamente trocavam conversas: enquanto um lia atentamente o Memorial do Convento de José Saramago, outro jogava um jogo de carros no seu telemóvel, um outro lia, na revista Sábado, um, concerteza interessante e cativante, artigo sobre sexo e as suas cambiantes anal e oral... de vez enquando e de certo motivado pela leitura, lá ia comentando com os companheiros de viagem acerca das qualidades étnicas do sémen e as consequências do seu uso(!?). O último elemento deste quarteto, pura e semplesmente, dormia.
Imediatamente atrás destes quatro e ao meu lado esquerdo, sozinha, viajava uma jovem, morena, esguia, bonita, com não mais de 20 anos de idade que, entre trocas de sms no seu telemóvel e um nervoso mascar de chiclete, ia escutando atentamente a conversa daqueles petizes e, a espaços, denunciava-se com brilhantes sorrisos. Reparei na sua inquietude, não parando um momento: ora deitava-se, ora virava-se para um lado, ora virava-se para o outro, ora cruzava e descruzava a perna, ora levantava-se e espreitava para ambas as extremidades da carruagem, ora voltava a sentar-se...
Mais à frente, chegou e sentou-se ao lado da jovem morena um rapaz negro que trazia na cabeça um barrete e que, de imediato, começou a conversar com ela. Se já se conheciam ou não, não deu para perceber, mas a determinada altura escuto-a a perguntar-lhe o seu nome. Depois de mais umas dezenas de minutos e quilómetros, ao aproximarmo-nos de mais uma estação, ela deu-lhe um beijo nos lábios, levantou-se e foi-se embora. Saiu nessa estação. Mal o comboio retomou a sua marcha ele também se levantou daquele lugar e desapareceu para outra carruagem.
Eu, que me sentara sozinho e desde logo começara a ler, depressa me desconcentrei e os meus sentidos reféns ficaram dessas paisagens. Quis escrever aquilo que presenciava, mas a excessiva trepidação do movimento do comboio apenas permitiu escrevinhar e rabiscar. Servi-me da memória e assim se escreveu.
21 setembro 2010
improvisação
A dada altura, a mãe de Christie conta-lhe como Adão e Eva comeram o fruto da árvore. Evidentemente, diz ela, toda a história é absurda, pois Deus, sendo omnisciente, podia tê-los interrompido em qualquer momento: «Mas não: Deus tem andado cá a improvisar desde o início, como alguns romancistas...
James Wood
18 setembro 2010
constatação
Hoje, ao abrir e ler o jornal diário Público, pude verificar como a vida política nacional tem, por estes dias, andado fervilhante. Mesmo reconhecendo o anátema generalizado da opinião pública em relação à classe política, não posso deixar de salientar a actividade parlamentar destes últimos dias. Desde logo com a chegada ao parlamento da proposta de revisão constitucional do PSD que apesar de polémica e nada consensual, obrigou os restantes partidos a manifestarem as suas intenções de apresentarem, também eles, as suas propostas. Depois, foi com agrado que registei a proposta do CDS e do BE para a criação de uma rede autónoma de cuidados paliativos, que apesar de chumbada pelos votos contra da bancada do PS e das abstenções do PSD, PCP e PEV, teve o mérito de obrigar à reflexão acerca da realidade dos cuidados continuados existentes nas unidades hospitalares. Também importante é a iniciativa do BE que levará, pela primeira vez, à Assembleia da República um projecto de lei do testamento vital. Sem confundir com a questão da eutanásia, o BE quer regular os direitos dos cidadãos quanto à decisão sobre a prestação futura de cuidados de saúde, nos casos em que houver incapacidade de exprimir a sua vontade. Muito bem. Por fim, uma nota para a vergonhosa atitude das bancadas do PS, PSD e CDS que chumbaram um voto de condenação da expulsão dos ciganos em França, proposto pelo BE. Salvo um ou outro deputado destas bancadas, a disciplina de voto imposta pelas direcções dos grupos parlamentares demonstra bem a atitude subserviente para com a França e seu Presidente, como também e acima de tudo, manifesta uma concordância com a atitude racista e xenófoba desse estado que, enquanto membro da União Europeia não pode impor barreiras à livre circulação de pessoas. A intenção de etnicizar o crime e a violência não pode ser aceite pelos restantes países do espaço europeu – exceptuando a Itália, que já procedeu de igual forma… sob pena de regressarmos a um tempo de ensimesmamento e de esquizofrenia social. É por estes exemplos, e outros, que eu continuo a considerar o BE o meu espaço ideológico e, acima de tudo, o enquadramento ideal para a minha intervenção cívica desassombrada.
15 setembro 2010
O Filme do Desassossego
O Filme do Desassossego estreia em Lisboa no próximo dia 29 de Setembro. Entre 7 e 9 de Outubro estará no São João no Porto e depois em digressão por todo o país, exceptuando claro, Bragança... A responsabilidade pela exibição é da própria produtora que, segundo parece, quer evitar o circuito comercial das grandes salas de cinema. Onde não sei, mas irei vê-lo.
10 setembro 2010
uma ideia original
Em 1969 o escritor inglês BS Johnson publicou "The Unfortunates", um livro cujas folhas eram colocadas soltas dentro de uma caixa, obrigando os leitores a organizá-las livremente e segundo os seus critérios. Original, de facto. Imagino a confusão e a quantidade de histórias diferentes que essa liberdade permitiu.
07 setembro 2010
04 setembro 2010
01 setembro 2010
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