Gosto de viajar de comboio porque, ao contrário de outros meios de transporte disponíveis (acessíveis), o tempo de viagem não representa para mim um tempo morto ou desocupado, pois posso sempre aproveitar esses tempos-espaços para ler, escrever, reflectir, dormir, etc. Já nos restantes e alternativos transportes isso não me é possível, uma vez que no automóvel ou vou ocupado com a condução ou vou atento à condução de quem me conduz e no avião, o stress e o medo tolham-me qualquer faculdade mental e racional. O tempo de viagem num comboio também me permite usufruir das paisagens exteriores, tal como me permite observar o ambiente interior. Ocupação à qual, com prazer voyeurista, me dedico durante longas horas de viagem. Tudo isto apenas para poder partilhar uma dessas etnografias...
Numa viagem de ida e volta entre Vila Nova de Gaia e o Entroncamento, utilizando o serviço Inter-Cidades da CP, pude observar com miudência a viagem daqueles que bem perto se instalaram. Viagens repletas de jovens... e tantos que eles(as) eram por todo o comboio. Sozinhos(as) ou em grupos, sentia-se no ambiente a vida recheada de mochilas às costas e auriculares nos ouvidos. No meu sentado e curto horizonte visual, viajavam quatro rapazes, estupidamente adolescentes, que descontraidamente trocavam conversas: enquanto um lia atentamente o Memorial do Convento de José Saramago, outro jogava um jogo de carros no seu telemóvel, um outro lia, na revista Sábado, um, concerteza interessante e cativante, artigo sobre sexo e as suas cambiantes anal e oral... de vez enquando e de certo motivado pela leitura, lá ia comentando com os companheiros de viagem acerca das qualidades étnicas do sémen e as consequências do seu uso(!?). O último elemento deste quarteto, pura e semplesmente, dormia.
Imediatamente atrás destes quatro e ao meu lado esquerdo, sozinha, viajava uma jovem, morena, esguia, bonita, com não mais de 20 anos de idade que, entre trocas de sms no seu telemóvel e um nervoso mascar de chiclete, ia escutando atentamente a conversa daqueles petizes e, a espaços, denunciava-se com brilhantes sorrisos. Reparei na sua inquietude, não parando um momento: ora deitava-se, ora virava-se para um lado, ora virava-se para o outro, ora cruzava e descruzava a perna, ora levantava-se e espreitava para ambas as extremidades da carruagem, ora voltava a sentar-se...
Mais à frente, chegou e sentou-se ao lado da jovem morena um rapaz negro que trazia na cabeça um barrete e que, de imediato, começou a conversar com ela. Se já se conheciam ou não, não deu para perceber, mas a determinada altura escuto-a a perguntar-lhe o seu nome. Depois de mais umas dezenas de minutos e quilómetros, ao aproximarmo-nos de mais uma estação, ela deu-lhe um beijo nos lábios, levantou-se e foi-se embora. Saiu nessa estação. Mal o comboio retomou a sua marcha ele também se levantou daquele lugar e desapareceu para outra carruagem.
Eu, que me sentara sozinho e desde logo começara a ler, depressa me desconcentrei e os meus sentidos reféns ficaram dessas paisagens. Quis escrever aquilo que presenciava, mas a excessiva trepidação do movimento do comboio apenas permitiu escrevinhar e rabiscar. Servi-me da memória e assim se escreveu.
Numa viagem de ida e volta entre Vila Nova de Gaia e o Entroncamento, utilizando o serviço Inter-Cidades da CP, pude observar com miudência a viagem daqueles que bem perto se instalaram. Viagens repletas de jovens... e tantos que eles(as) eram por todo o comboio. Sozinhos(as) ou em grupos, sentia-se no ambiente a vida recheada de mochilas às costas e auriculares nos ouvidos. No meu sentado e curto horizonte visual, viajavam quatro rapazes, estupidamente adolescentes, que descontraidamente trocavam conversas: enquanto um lia atentamente o Memorial do Convento de José Saramago, outro jogava um jogo de carros no seu telemóvel, um outro lia, na revista Sábado, um, concerteza interessante e cativante, artigo sobre sexo e as suas cambiantes anal e oral... de vez enquando e de certo motivado pela leitura, lá ia comentando com os companheiros de viagem acerca das qualidades étnicas do sémen e as consequências do seu uso(!?). O último elemento deste quarteto, pura e semplesmente, dormia.
Imediatamente atrás destes quatro e ao meu lado esquerdo, sozinha, viajava uma jovem, morena, esguia, bonita, com não mais de 20 anos de idade que, entre trocas de sms no seu telemóvel e um nervoso mascar de chiclete, ia escutando atentamente a conversa daqueles petizes e, a espaços, denunciava-se com brilhantes sorrisos. Reparei na sua inquietude, não parando um momento: ora deitava-se, ora virava-se para um lado, ora virava-se para o outro, ora cruzava e descruzava a perna, ora levantava-se e espreitava para ambas as extremidades da carruagem, ora voltava a sentar-se...
Mais à frente, chegou e sentou-se ao lado da jovem morena um rapaz negro que trazia na cabeça um barrete e que, de imediato, começou a conversar com ela. Se já se conheciam ou não, não deu para perceber, mas a determinada altura escuto-a a perguntar-lhe o seu nome. Depois de mais umas dezenas de minutos e quilómetros, ao aproximarmo-nos de mais uma estação, ela deu-lhe um beijo nos lábios, levantou-se e foi-se embora. Saiu nessa estação. Mal o comboio retomou a sua marcha ele também se levantou daquele lugar e desapareceu para outra carruagem.
Eu, que me sentara sozinho e desde logo começara a ler, depressa me desconcentrei e os meus sentidos reféns ficaram dessas paisagens. Quis escrever aquilo que presenciava, mas a excessiva trepidação do movimento do comboio apenas permitiu escrevinhar e rabiscar. Servi-me da memória e assim se escreveu.
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