As medidas de austeridade recentemente anunciadas pelo Primeiro Ministro e pelo seu Ministro das Finanças vieram definitivamente consolidar a ideia de incompetência e de alienação que a generalidade dos portugueses tinham em relação a este governo e aos seus membros. Tudo aquilo que nos tem sido dito, ao longo destes últimos anos, não existia, não acontecia e não era. Aquilo que não nos diziam, existia, acontecia e era. Portugal viveu (e vive) assim, distorcido de si mesmo. Neste momento, concerteza, não haverá um único português que não se questione e não receie tudo o quanto ainda poderá sofrer num futuro próximo – ainda nos últimos dias, confrontado com a previsão de uma recessão portuguesa em 2011, realizada pelo FMI, o Ministro Vieira da Silva assobiou para o lado, dizendo que esse organismo já anteriormente se enganou em relação às previsões para Portugal e, portanto, esta previsão será apenas mais um engano, claro. Face à violência de tudo aquilo que foi anunciado, curiosa (ou não) é a atitude dos órgãos de comunicação social que, num frenesim diário, vão difundindo em massa a inevitabilidade desse nosso “fado”.
Ao analisarmos toda a estranheza da linguagem utilizada e da própria acção dos nossos governantes, chegamos à conclusão que temos sido governados sob rasura. E o exercício é simples, José Sócrates e os seus pares, estrategicamente, escolhem um assunto ou uma expressão que pretendem analisar, colocando um X sobre ela, como que colocando-a entre parênteses. Esse assunto ou expressão não deverá ser mencionada, mas será preciso mencioná-la se quiserem transmitir a mensagem em questão. Sem essa expressão, a ideia a ser transmitida fica incompleta ou perde o sentido. No entanto, essa mesma expressão é suficientemente problemática para ser evitada. Portanto, evita-se. Esta situação agrava-se quando se trata de questões estranhas ou não familiares ao Eng. José Sócrates, pois a sua (in)cultura política, o seu desdém social e a sua ignorância sectorial de todo um país, levam-no à abstracção: É como se determinados assuntos não estivessem cá e não existissem, mas a verdade é que estão, sempre estiveram e como marcas da ausência de uma presença.
Enquanto pacifista que sou e não querendo abusar de um tom excessivamente confessional, é nestes dias e horas, estrampalhadas, que recordo e invejo o “pêlo na benta” do povo grego. Tal como eles têm feito amiúde, nós também nos deveríamos insurgir contra aquilo que nos impingem. Também nós deveríamos sair para a rua e parar o país. Também nós deveríamos inverter o ónus da dívida e da crise – vejam como Faria de Oliveira, Presidente da Caixa Geral de Depósitos, depois do anúncio de novo imposto sobre as entidades financeiras, vem a público e despudoradamente afirma que “evidentemente” esses custos recairão sobre os clientes. Também nós deveríamos reclamar aquilo que é nosso por direito. Estranha e incompreensivelmente optamos por ficar em casa, passivamente, enquanto uma dúzia de facínoras vai ditando as suas leis e, com isso, a inevitabilidade de subtrair aos demais cidadãos a sua existência. Evitável.
(enviado para o Jornal Nordeste - editável em 12 de Outubro de 2010)
Ao analisarmos toda a estranheza da linguagem utilizada e da própria acção dos nossos governantes, chegamos à conclusão que temos sido governados sob rasura. E o exercício é simples, José Sócrates e os seus pares, estrategicamente, escolhem um assunto ou uma expressão que pretendem analisar, colocando um X sobre ela, como que colocando-a entre parênteses. Esse assunto ou expressão não deverá ser mencionada, mas será preciso mencioná-la se quiserem transmitir a mensagem em questão. Sem essa expressão, a ideia a ser transmitida fica incompleta ou perde o sentido. No entanto, essa mesma expressão é suficientemente problemática para ser evitada. Portanto, evita-se. Esta situação agrava-se quando se trata de questões estranhas ou não familiares ao Eng. José Sócrates, pois a sua (in)cultura política, o seu desdém social e a sua ignorância sectorial de todo um país, levam-no à abstracção: É como se determinados assuntos não estivessem cá e não existissem, mas a verdade é que estão, sempre estiveram e como marcas da ausência de uma presença.
Enquanto pacifista que sou e não querendo abusar de um tom excessivamente confessional, é nestes dias e horas, estrampalhadas, que recordo e invejo o “pêlo na benta” do povo grego. Tal como eles têm feito amiúde, nós também nos deveríamos insurgir contra aquilo que nos impingem. Também nós deveríamos sair para a rua e parar o país. Também nós deveríamos inverter o ónus da dívida e da crise – vejam como Faria de Oliveira, Presidente da Caixa Geral de Depósitos, depois do anúncio de novo imposto sobre as entidades financeiras, vem a público e despudoradamente afirma que “evidentemente” esses custos recairão sobre os clientes. Também nós deveríamos reclamar aquilo que é nosso por direito. Estranha e incompreensivelmente optamos por ficar em casa, passivamente, enquanto uma dúzia de facínoras vai ditando as suas leis e, com isso, a inevitabilidade de subtrair aos demais cidadãos a sua existência. Evitável.
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