Pois é. Hoje na edição de papel do Jornal Público, Alexandra Prado Coelho a propósito de uma conferência da Gulbenkian sobre o futuro da alimentação, escreve sobre o pensamento de Tim Lang, inglês especialista em Política Alimentar que amanhã será orador convidado. Muito interessante aquilo que este autor afirma acerca da realidade mundial e nacional no que aos alimentos diz respeito.
Começa por desconstruir a ideia estabelecida que num futuro próximo os chineses irão ser os responsáveis pela insustentabilidade do sistema alimentar mundial, afirmando que o problema não são os chineses, somos nós, os ocidentais que consumimos por gula e prazer e não por necessidade... "No Reino Unido comemos como se houvesse três planetas, Nos EUA, eles comem como se houvesse cinco planetas".
Lang já há muito vem alertando para a necessidade de uma mudança de paradigma alimentar, apresentando precisamente a China como exemplo de como com pouco se pode fazer muito: "Uma imensa população vive apenas com 9% da terra disponível. E como é que o conseguiram? Comendo plantas".
A propósito de Portugal, afirma que nós tínhamos "uma dieta mediterrânica, barata, muito simples, baseada em produtos locais e da estação, mas uma série de mudanças - capitalismo, indústria alimentar, alterações de estilo de vida, aumento da riqueza, influências americanas, nos afastaram desse padrão alimentar".
Pedro Graça, outros dos oradores desta conferência, afirma que os estilos de vida mudaram, que o know how que se transmitia de geração em geração foi desaparecendo, assim como desapareceu o tempo que era necessário para confeccionar esse tipo de comida. "Era uma alimentação muito feita em casa, e pelas mulheres. hoje as mulheres saíram de casa para trabalhar. Há uma série de factores agressivos para a manutenção deste padrão alimentar". Por outro lado, a dieta tradicional baseava-se na produção local, ou mesmo auto-produção e, actualmente, os produtos frescos e locais adquiriram um estatuto e um carisma que os afasta economicamente da maioria das pessoas. O mesmo orador explica que a dieta mediterrânica é quase vegetariana... "os pratos são formas de enganar a escassez de carne, em que os enchidos ou o bacalhau, muito condimentados, dão um sabor mais forte, dando ideia da presença de carne e peixe".
Outra ideia muito interessante é a questão política e de educação das novas gerações, onde poderá e deverá ser realizado um esforço pedagógico para alterar esta situação, pois mesmo em Portugal a obesidade aumentou exponencialmente nos últimos anos. Actualmente em Portugal existem cerca de 1 milhão de obesos e 3,5 milhões de pré-obesos - preocupante.
Este apetite insaciável do mundo ocidental terá a sua explicação na II Guerra Mundial e na memória que muitos têm ainda da fome e da escassez. "Foi em resposta a esses medos que se deu a revolução alimentar que permitiu, através da tecnologia, produzir plantas mais resistentes e assim alimentar mais animais, e mais pessoas. Até se chegar ao ponto de fartura em que estamos hoje".
Pertinente é igualmente a questão que Tim Lang coloca: "Precisamos de ter trinta mil produtos no hipermercado?". É a altura de reflectir sobre o que queremos para o futuro. Este autor, que em meados dos anos 90 criou a expressão food miles para explicar os efeitos da globalização da comida: "quantos kms um alimento tem que viajar, e que pegada ecológica é que esse transporte deixa, para que possamos ter frutas tropicais à nossa mesa todo o ano?" Termina dizendo: "O vosso país não tem um sistema alimentar sustentável. Mas tem uma cultura e uma tradição fantásticas a partir da qual pode recomeçar. Só que tem que o fazer muito rapidamente".
Ora aqui está um tratado condensado de antropologia gastronómica, abrangente e assertivo. Pena é, amanhã, eu não estar em Lisboa.
Começa por desconstruir a ideia estabelecida que num futuro próximo os chineses irão ser os responsáveis pela insustentabilidade do sistema alimentar mundial, afirmando que o problema não são os chineses, somos nós, os ocidentais que consumimos por gula e prazer e não por necessidade... "No Reino Unido comemos como se houvesse três planetas, Nos EUA, eles comem como se houvesse cinco planetas".
Lang já há muito vem alertando para a necessidade de uma mudança de paradigma alimentar, apresentando precisamente a China como exemplo de como com pouco se pode fazer muito: "Uma imensa população vive apenas com 9% da terra disponível. E como é que o conseguiram? Comendo plantas".
A propósito de Portugal, afirma que nós tínhamos "uma dieta mediterrânica, barata, muito simples, baseada em produtos locais e da estação, mas uma série de mudanças - capitalismo, indústria alimentar, alterações de estilo de vida, aumento da riqueza, influências americanas, nos afastaram desse padrão alimentar".
Pedro Graça, outros dos oradores desta conferência, afirma que os estilos de vida mudaram, que o know how que se transmitia de geração em geração foi desaparecendo, assim como desapareceu o tempo que era necessário para confeccionar esse tipo de comida. "Era uma alimentação muito feita em casa, e pelas mulheres. hoje as mulheres saíram de casa para trabalhar. Há uma série de factores agressivos para a manutenção deste padrão alimentar". Por outro lado, a dieta tradicional baseava-se na produção local, ou mesmo auto-produção e, actualmente, os produtos frescos e locais adquiriram um estatuto e um carisma que os afasta economicamente da maioria das pessoas. O mesmo orador explica que a dieta mediterrânica é quase vegetariana... "os pratos são formas de enganar a escassez de carne, em que os enchidos ou o bacalhau, muito condimentados, dão um sabor mais forte, dando ideia da presença de carne e peixe".
Outra ideia muito interessante é a questão política e de educação das novas gerações, onde poderá e deverá ser realizado um esforço pedagógico para alterar esta situação, pois mesmo em Portugal a obesidade aumentou exponencialmente nos últimos anos. Actualmente em Portugal existem cerca de 1 milhão de obesos e 3,5 milhões de pré-obesos - preocupante.
Este apetite insaciável do mundo ocidental terá a sua explicação na II Guerra Mundial e na memória que muitos têm ainda da fome e da escassez. "Foi em resposta a esses medos que se deu a revolução alimentar que permitiu, através da tecnologia, produzir plantas mais resistentes e assim alimentar mais animais, e mais pessoas. Até se chegar ao ponto de fartura em que estamos hoje".
Pertinente é igualmente a questão que Tim Lang coloca: "Precisamos de ter trinta mil produtos no hipermercado?". É a altura de reflectir sobre o que queremos para o futuro. Este autor, que em meados dos anos 90 criou a expressão food miles para explicar os efeitos da globalização da comida: "quantos kms um alimento tem que viajar, e que pegada ecológica é que esse transporte deixa, para que possamos ter frutas tropicais à nossa mesa todo o ano?" Termina dizendo: "O vosso país não tem um sistema alimentar sustentável. Mas tem uma cultura e uma tradição fantásticas a partir da qual pode recomeçar. Só que tem que o fazer muito rapidamente".
Ora aqui está um tratado condensado de antropologia gastronómica, abrangente e assertivo. Pena é, amanhã, eu não estar em Lisboa.
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