«Seja-me permitida mais uma nota pessoal, mas a leitura é assim, pois um livro bom está aberto a que lhe acrescentemos outros parágrafos. Meu pai morreu há 10 anos, e enquanto minha mãe foi viva, a biblioteca que construíra e que vigiava com zelo feroz, manteve-se quase intacta. Minha mãe morreu há pouco. Agora, filhos e netos (muitos) foram esvaziando as prateleiras, conforme as suas preferências intelectuais ou os seus interesses académicos. Porque descobrira um livro que, pensei, seria muito do gosto da minha filha mais velha, telefonei-lhe a dar-lhe conta disso. Passados minutos mandou-me o seguinte SMS: "É bom fazer parte de uma família em que os livros são tão preciosos como as jóias".
Este livro sobre o qual escrevi estas palavras ficará na minha biblioteca, esperando que um dia alguém o leve - como jóia».
(João Lobo Antunes, in LER)
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