Poucos dias depois do vergonhoso julgamento dos activistas angolanos, chegou-nos a notícia de que Angola pediu, ou se prepara para pedir, ajuda ao FMI para resgatar as finanças do Estado angolano. Um país governado há longos anos por uma pequena elite, com ligações familiares e de compadrio, naquilo que poderemos designar de cleptocracia, com um território vasto e riquíssimo nos seus recursos naturais, tem vivido quase exclusivamente às custas da exploração e comercialização do petróleo. Tantas décadas depois e tantos milhões realizados nesse filão e nem sequer infra-estruturaram o país, não investiram em qualquer outro sector de actividade e os serviços do Estado são altamente deficitários. Sobra essa pequena elite de privilegiados que, numa relação de subserviência, vivem à sombra do Estado, usufruindo da riqueza do país em benefício exclusivo e próprio. Essa elite beneficiou e continua a beneficiar. Essa elite enriqueceu e continua a enriquecer.
O paradoxo da situação do Estado angolano é gritante... enquanto um pequeno grupo continua a investir no estrangeiro e, em particular, em Portugal, num processo que mais parece uma contra-colonização, a generalidade da população vive, literalmente, na miséria.
Este pedido ao FMI é a manifestação pública da incompetência dos seus governantes e, em especial, do seu presidente, assim como é uma declaração despudorada da impunidade que existe perante o tremendo saque que vitimou os angolanos. Lamentavelmente, serão estes, uma vez mais, a pagar a factura, ou seja, serão estes quem continuará a sofrer da miséria crónica e histórica.
Por outro lado, poderá ser este o momento que determinará o fim político de José Eduardo dos Santos e do seu clã. Estaremos já no extertor do seu regime?! Aquilo que mais me irrita é saber que todos os investimentos realizados no estrangeiro estarão sempre a salvo e jamais serão revertidos em favor do estado. Mas era isto que deveria acontecer.