Anda o país a arder e estamos todos muito preocupados com a situação. Vivemos nos últimos dias sob um céu de fumo que se vai estendendo por todo o país. As imagens desses incêndios são sempre impressionantes, mas aquelas que ontem, e ainda hoje, nos chegam da Madeira são dantescas e aflitivas. Como é possível?
Bem sei que em tempo de guerra não devemos desviar a atenção que deve e tem que estar toda concentrada no combate aos fogos e na salvaguarda das vidas humanas e dos seus bens, mas na verdade não podemos deixar de questionar: Como é possível?
Sabemos todos, sabe o Estado e suas instituições, sabem as corporações de bombeiros, sabe o Governo e seus elementos que este é um fenómeno cíclico e que, por estes meses, todos os anos, aqui, ali ou acolá estas coisas acontecem. Portanto, o país deveria estar equipado e preparado para dar resposta a estas situações.
Depois, temos a questão da floresta e aí não basta ao Primeiro Ministro dizer que temos que requalificar a nossa floresta. Para além de ser uma verdade, não é em tempo de crise que se fazem afirmações dessas, pois não passam de um mero recurso discursivo do politicamente correcto. O ordenamento do território, a gestão dos recursos florestais, a selecção das espécies de árvores e da flora são assuntos que requerem planeamento, tempo e muito dinheiro. Algo que já deveria estar feito há muito tempo e continua por fazer. Para além disto, o cadastro das propriedades e a sua limpeza é outra das premissas a ter em conta nesta requalificação, pois em cada imagem que nos chega dos cenários a arder, podemos identificar circunstâncias e caracteres altamente inflamáveis e pasto para as chamas dentro das localidades e à volta de cada habitação. Como é possível?
Os incêndios e os fogos são uma indústria forte em Portugal (assim como, provavelmente, noutros países), e que sempre funcionou e foi gerido de uma forma obscura. Os negócios que se fazem, os valores que se envolvem e as pessoas que com isso lucram, é tudo desconhecido dos portugueses, pois esses cartéis vivem sob o lema do voluntariado dos bombeiros e da simpatia do povo para com os seus heróis que, muitas vezes, dão a vida nessa luta. É por isto, também, que me revoltam as campanhas de solidariedade que surgem sempre nestes momentos, com peditórios de água, leite e alimentos para os bombeiros. Caramba, o Estado nem isso consegue fornecer às corporações? Como é possível?
Mais duas questões: porquê é que os fogos continuam a ser combatidos por "voluntários" e não por profissionais? e, porque é que não se podem utilizar meios aéreos no combate às chamas durante a noite?
No fim, sou e estou solidário com todos os homens e mulheres que dão o corpo ao manifesto e enfrentam a besta do fogo; estou e sou solidário para com todos aqueles que perdem os seus familiares e os seus bens.