Já aqui admiti as minhas graves falhas enquanto leitor e o tanto e importante que deveria ter lido desde miúdo, mas não o fiz. Enquanto jovem era suposto ter lido um conjunto de clássicos da literatura juvenil, só que não o tendo feito, foi já mais velho que me dediquei a essas leituras.
Calhou agora, não por acaso, a leitura das Aventuras de Robinson Crusoe, de Daniel Dafoe. Digo não por acaso, porque tive como motivação inicial a recente visita à Euro Disney e o facto de o meu filho ter adorado a árvore-habitação de Robinson Crusoe e à qual subimos várias vezes.
A história que Daniel Dafoe nos conta é a de um jovem inglês que, contrariando os conselhos dos pais, se aventura nos mares, atraído pela liberdade e aventura da descoberta de novos mundos. Estávamos no século XVII, período grande das rotas comerciais marítimas entre a Europa e suas colónias e este jovem, narrador da sua própria história, conta-nos as tremendas aventuras porque passou, desde naufrágios, guerras e escravidão, até ao seu longo e total isolamento numa pequena ilha e sobrevivência durante quase três décadas. Esse relato é acompanhado com muitas reflexões - de caracter filosófico, moral, religioso, prático e até animal - sobre essa condição de extremo isolamento.
A leitura deste relato de uma experiência limite da condição humana, aviva-me o gosto e o chamamento que sempre recordo ter sentido pela condição de isolamento, de procurar espaços e lugares vazios e de preferir estar sozinho. Consciente desta minha preferência, sei também que jamais sobreviveria a uma circunstância semelhante à de Robinson Crusoe e que aquilo que entendo como ideal para mim teria que ser, ainda que longe do convívio com a civilização, algo muito confortável e acessível. A leitura deste relato permitiu-me também reconhecer que, à medida que vou envelhecendo e as suas marcas se vão fazendo notar, vou preferindo o conforto ao desconforto, o previsível ao imprevisível e o certo ao incerto. Sinais do tempo, do meu tempo.
A natureza e a experiência das coisas ensinaram-me, depois de reflectir, que todas as coisas boas do mundo só o são para nós quando podemos tirar proveito delas; e que, por mais que acumulemos para dar aos outros, só gozamos aquilo que podemos utilizar e nada mais. (Robinson Crusoe)