No passado dia 22 de Maio, quando da sua morte, a minha reacção perante aquilo que foi dito e escrito sobre ele, foi resgatar das prateleiras do armário, onde vou amontoando livros, os dois que sabia ter, para os colocar mais perto de mim e, assim que possível, os ler. Sabia da sua qualidade, sabia da sua importância para o consciente e para o inconsciente americano, sabia da sua importância para o retrato de uma determinada América - a da luta entre os géneros, entre as raças, entre as classes sociais, entre as confissões religiosas - sabia da sua importância para o (re)conhecimento de um ethos social e cultural nem sempre perceptível ou identificável. Por tudo isto e mais, sabia que teria que ler Philip Roth. Foi por isso que, um dia, comprei esses dois livros.
Agora, terminei a leitura de um deles, A Mancha Humana, onde o autor faz um retrato de vidas americanas do pós-guerra (2ª guerra mundial e Vietname), com todas as suas convulsões políticas e sociais, as suas manias e convenções, os seus tiques e hipocrisias. Segundo Roth, a mancha humana (americana) contamina e destrói tudo à sua volta, destrói a natureza e contamina os animais.
O narrador desta história, Nathan Zuckerman, que a determinada altura da sua vida desistiu da vida social e foi viver na solidão da montanha, a esse propósito, afirma:
O segredo de viver com um mínimo de sofrimento na voragem do mundo reside em atrair o maior número de pessoas para as nossas ilusões; o truque para viver sozinho aqui em cima, longe de todas as perturbadoras confusões, seduções e expectativas, afastado, sobretudo, da própria intensidade, consiste em organizar o silêncio, em pensar na sua plenitude de cume de montanha como capital, no silêncio como riqueza crescendo exponencialmente. No silêncio circundante como a fonte de proveito que escolhemos e a nossa única coisa íntima.
De facto, reflectindo sobre esta citação que tanto me diz, organizar o silêncio não é tarefa fácil ou simples. Não é, acima de tudo, acessível a qualquer um. Desconfio até que para a maioria dos indivíduos o silêncio é dispensável e dele fogem permanentemente, preferindo as referidas voragem, intensidade e confusão. No que a mim diz respeito, revejo-me integralmente nesta frase do narrador [ e por isso a trago aqui]; projecto-me para essa solidão, para esse isolamento, idealizo-me nessa necessidade, nessa ânsia pelo silêncio. Não sei, talvez um dia o alcance e, depois, o consiga organizar.