Rui Nunes, em entrevista ao Jornal de Letras, diz-se farto da literatura... (negritos meus)
Não gosto do que se escreve hoje, particularmente no domínio da ficção. Acho que se separou completamente da realidade. (...) a realidade não está lá. (...) falta-lhes abertura ao mundo. (...) O eco de outras leituras está demasiado presente e o eco do mundo cada vez mais distante. É uma literatura que trabalha sobre a literatura, livros que se escrevem sobre livros.
(...)
Vemos que essas ideias (nazismo) têm uma presença cada vez mais forte. E parece que estamos esquecidos. (...) E parece que não se vê que essa luz maligna está a inundar e estranhamente a iluminar o mundo actual. E a seduzir muita gente, tal como nos anos 20 e 30.
(...)
É que quando se fala desse horror (nazismo) tão próximo, assim como da escalada a que se assiste hoje, fala-se de uma maneira normalizada E a normalização do discurso impede o seu funcionamento. As pessoas lêem e esquecem. É mais uma história. É preciso uma escrita que não seja normalizada para que as pessoas se interroguem acerca do que diz. Uma escrita normalizada é rápida e leva a um esquecimento muito rápido. Se perguntarmos a muita gente o que leu ontem no jornal, veremos que já não se lembra. O presente tem um poder muito forte e faz esquecer o passado de que é produto. Penso que é preciso reinventar, embora não goste muito deste termo, a escrita.
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É preciso criar na própria escrita um atrito, uma violência que seja de certo modo homóloga à que temos presente na realidade. Uma linguagem normalizada não permite que se pare, enquanto o atrito obriga a parar.
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