14 dezembro 2022

insofismável

Escreveu assim, por estes dias, J. Rentes de Carvalho na sua barca: Tempo Contado...

"Temeroso cárcere
Os citadinos que desconhecem este viver idealizam famílias harmoniosas em volta da lareira, falam de “achas e toros a crepitar alegremente”, alheiras assadas, risos, copos de bom vinho, histórias de antigamente.
Se o acaso os trouxesse hoje para estas bandas, pronto lhes passaria o romantismo, e de certeza deitavam a fugir. Eu próprio, se me apetecesse, poderia encontrar outro poiso. Mas não é isso que conta. Conta o invisível, temeroso cárcere em que as aldeias moribundas se tornam, a tragédia dos que nelas aguardam que, sem mais dor, a morte os liberte da pena perpétua.
Ventania, chuva, frio polar. A noite vai cair. Se neste momento a filmassem, a única rua da aldeia valeria como imagem de um mundo que acabou. Nem cães se vêem."

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