27 julho 2023

Sinéad o'Connor


Uma das figuras maiores e que marcaram a minha (nossa) juventude. Sob uma aparente fragilidade, uma tremenda voz, uma presença forte e sempre, mas sempre, irreverente e inconformada. Faleceu ontem aos 56 anos, mas não será esquecida e os seus discos continuarão a tocar cá em casa.

26 julho 2023

vamos LER

24 julho 2023

envelhecendo

"Com a idade, invento qualquer desculpa para me irritar. Estou todo ao contrário daquilo em que acredito e que defendo. Apregoo um envelhecimento pacificado, lúcido, todo feito de aceitação e alegria pelo que ainda há, mas envelheço estupefacto, nada satisfeito com os vezes do corpo e com o resto de paciência que me morre".
Valter Hugo Mãe, in jornal de Letras nº 1377, Julho 2023.

18 julho 2023

Assalto ao STOP, enquanto purga sanitária e expulsão de impuros

Fomos todos surpreendidos pela atitude musculada e, pelos vistos, cobarde do executivo de Rui Moreira em relação ao antigo centro comercial STOP. Solicitar o serviço da polícia municipal para vedar e selar aqueles espaços, sem aviso prévio, é a prova da má fé e da premeditação desta atitude. Mas estamos a falar do quê? O espaço STOP é há dezena de anos, um espaço cultural, heterogéneo e multi-funcional, onde dezenas de jovens e menos jovens encontraram o habitat possível e propício para a sua arte. Muita da arte que foi assimilada e hoje é aceite pelo mainstream comercial e industrial, nasceu dentro daquelas paredes de espaços exíguos.
Esta atitude do executivo é bem paradigmática da visão sectária que os seus protagonistas políticos têm da cidade. Ainda não tive a oportunidade de ouvir o que a Câmara diz em relação a esta situação, nem sei sequer se já se pronunciou, mas gostava de ouvir e ver Rui Moreira, pois sei que pelas palavras que irá pronunciar, pelo tom e pelas expressões faciais, se vai perceber, se vai revelar o nojo que sente pela diversidade das manifestações culturais, a sua crença nos espaços de exclusão social e, neste caso, cultural, quero dizer, a crença de que nem todas as manifestações culturais têm direito a existir e a ocupar o altar simbólico que é o centro da cidade, onde só os puros, leia-se da cultura erudita, podem aceder e permanecer.
É verdade que o STOP sempre foi um espaço polémico e, a espaços, notícia por isso mesmo. Contudo, até nessa polémica a Câmara Municipal nunca soube gerir a situação, nem foi sensível à situação precária do espaço e daqueles que se serviam e servem dele. Aquilo que a autarquia já há muito tempo deveria ter feito, em vez de estar preocupada e interessada nos possíveis negócios imobiliários e especulativos de todo e qualquer metro quadrado da cidade, era ter participado, ser agente activo e promotor, criando as condições mínimas e dignas daquele edifício para que a criação acontecesse. Para além de tudo isto, a visão sectária impede o executivo de entender o STOP como um espaço de liberdade cidadã e pedagógica, onde as novas gerações adquirem referências estéticas e culturais, onde aprendem e partilham experiências e onde podem transformar em mais-valias as suas biografias, as suas capacidades e as suas ambições, ao mesmo tempo que se desviam e afastam de trilhos ou percursos bem mais problemáticos.
Não faz qualquer sentido aquilo que hoje aconteceu. O gosto do edil não pode ditar aquilo que é ou não é, acontece ou não, na cidade. Mais uma atitude cobarde e vergonhosa por parte do senhor que gere os nosso destinos, que sabemos detesta muito do que o Porto foi, ainda é e, com ou sem ele, continuará a ser.

17 julho 2023

ervilhas de quebrar

Eu sempre as conheci como ervilhas de vagem, mas serão mais conhecidas como ervilhas de quebrar. É um dos sabores de memória mais vivos que guardo. Ainda hoje a minha mãe teima em comprar essa ervilha para acrescentar ao arroz, ou seja, para fazer arroz de ervilhas. Eu sempre adorei o sabor, mas também o perfume que elas libertavam, desde o momento em que saíam cruas do saco, até ao momento em que se abria a panela do arroz. Era um cheiro intenso e muito agradável para mim (aceito que haja quem não gostasse), mas entretanto aconteceu, algures nas últimas décadas, que apesar de ainda ser cultivada, comercializada e até frequente nas prateleiras dos comércios, ela perdeu o tão característico perfume. Experimentem cheirá-las cruas e verão como quase não têm cheiro e, depois, já cozinhadas perderam ainda mais fulgor. Agora comemos arroz de ervilhas quebradas sem o seu sabor e cheiro, mas recorrendo à memória gustativa para conseguirmos tirar algum prazer dessa iguaria.
O que se passou não sei, mas desconfio que esta degeneração se deveu à extinção das sementes naturais e à sua substituição pelas sementes produzidas pela indústria agro-alimentar. Com certeza haverá quem tem, pois guarda de ano para ano, de sementeira para sementeira, dessas ervilhas e continua a saboreá-las. Mas toda a produção para o consumo das massas, recorreu às sementes de pacote e assim contribuiu definitivamente para a evolução dessa espécie vegetal. Os vindouros jamais conhecerão o prazer de destapar uma panela de arroz de ervilhas de quebrar, acabada de sair do lume, e sentir a explosão do aroma da ervilha a espalhar-se pelo ambiente.

16 julho 2023

mãos nos bolsos

"Com as mãos nos bolsos nada se resolve. Mas transmite-se a mensagem de que não se vai atacar nem defender. Apático ou aborrecido, portanto, eis aquele que não está na posição de ataque nem de defesa.
As mãos nos bolsos não resolvem, mas pelos menos adiam.
Curioso que na cidade o número de pessoas com as mãos nos bolsos é reduzido. As pessoas andam de um lado para o outro, atrasadas ou perdidas.
As mãos no bolso colocam a pessoa no estatuto de observador. Há poucos observadores na cidade, todos querem agir. Uma precipitação, uma impaciência, uma ansiedade. Eis a descrição da cidade, espaço onde os bolsos são feitos para o dinheiro, não para as mãos."
Gonçalo M. Tavares, in jornal de Letras nº 1376, Junho 2023.

13 julho 2023

a quem possa interessar...


Eu vou lá estar. Apareçam.