Eu sempre as conheci como ervilhas de vagem, mas serão mais conhecidas como ervilhas de quebrar. É um dos sabores de memória mais vivos que guardo. Ainda hoje a minha mãe teima em comprar essa ervilha para acrescentar ao arroz, ou seja, para fazer arroz de ervilhas. Eu sempre adorei o sabor, mas também o perfume que elas libertavam, desde o momento em que saíam cruas do saco, até ao momento em que se abria a panela do arroz. Era um cheiro intenso e muito agradável para mim (aceito que haja quem não gostasse), mas entretanto aconteceu, algures nas últimas décadas, que apesar de ainda ser cultivada, comercializada e até frequente nas prateleiras dos comércios, ela perdeu o tão característico perfume. Experimentem cheirá-las cruas e verão como quase não têm cheiro e, depois, já cozinhadas perderam ainda mais fulgor. Agora comemos arroz de ervilhas quebradas sem o seu sabor e cheiro, mas recorrendo à memória gustativa para conseguirmos tirar algum prazer dessa iguaria.
O que se passou não sei, mas desconfio que esta degeneração se deveu à extinção das sementes naturais e à sua substituição pelas sementes produzidas pela indústria agro-alimentar. Com certeza haverá quem tem, pois guarda de ano para ano, de sementeira para sementeira, dessas ervilhas e continua a saboreá-las. Mas toda a produção para o consumo das massas, recorreu às sementes de pacote e assim contribuiu definitivamente para a evolução dessa espécie vegetal. Os vindouros jamais conhecerão o prazer de destapar uma panela de arroz de ervilhas de quebrar, acabada de sair do lume, e sentir a explosão do aroma da ervilha a espalhar-se pelo ambiente.
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