31 dezembro 2023

haverá sempre disto

Tal como nos dias anteriores, hoje de manhã saí de casa apenas para a dose mínima de cafeína, sem a qual não sei viver. Na pastelaria onde tenho ido, e na mesa ao lado, dois sexagenários trocavam votos de bom ano e comentavam com quem e onde iriam passar a passagem de ano. Um deles, enquanto dava mais uma passa no seu cigarro e bebericava o seu café, dizia que era um triste e que não tinha um tostão no bolso para gastar mais logo. Não sei se procurava apenas a solidariedade do amigo e cravar-lhe a despesa naquele momento, ou se era mesmo sincero o seu desabafo. Na dúvida, não deixei de comentar com quem comigo estava, que haverá sempre vícios mais fortes do que qualquer razoabilidade ou bom senso.
Enfim.
Bom ano.

28 dezembro 2023

sempre a perder

Estes dias de nada, em que pouco se faz a não ser as actividades básicas de sobrevivência, permitem-nos olhar para "coisas" que normalmente não temos disponibilidade para atentar. Entre garfos e facas, líquidos dentro de copos e algumas leituras, tenho aproveitado o tempo para folhear as páginas online dos jornais regionais e, hoje, num só desses lugares encontrei duas notícias paradigmáticas sobre o triste destino a que está votada a região transmontana. Não podendo aqui reproduzir a sua totalidade, deixo o link para a leitura integral das mesmas e um comentário para cada uma dessas notícias.


Já andavam todos os responsáveis autárquicos excitados e a proclamar loas aos sete ventos. Crentes. Mas algum dia Lisboa iria propor que a única (ou uma de duas) ligação ferroviária à Europa fosse traçada por Trás-os-Montes?! Vamos continuar a assistir ao esvaziamento e desestruturação desse território e, pior, com a anuência dos responsáveis locais e regionais, pois o importante é manterem o seu prato de sopa da panela cada vez menor.


Bem sei que, usando a razão, não há qualquer justificação para esta linha aérea existir. Não há gente, não há procura. Também é verdade que essa linha sempre foi uma benesse do Estado para a meia-dúzia de privilegiados naturais e/ou utilizadores da região e a população em geral pouco usufruía ou beneficiava com essa ligação. Ainda assim, penso que Lisboa e os decisores políticos acabarão por arranjar uma solução e a linha mais tarde que cedo retomará.

27 dezembro 2023

em Ousilhão


Festa de Santo Estevão, em Ousilhão - Vinhais, ontem 26 de Dezembro. Depois de muitos anos, regressei e encontrei uma festa viva e participada. Muita juventude e criançada mascarada, muitas raparigas e mulheres a mascarar-se e muito forasteiros, curiosos, especialistas e profissionais. Percepção de uma observação não-participante: caretos de adidas nos pés e telemóvel na mão.





angústia

"A angústia leva a melhor, depois leva ao melhor".
Samuel Úria, in Granta nº 11 (2023: 122)

16 dezembro 2023

ali vão os noivos

Hoje, manhã de Sábado soalheira, com as janelas abertas para a casa respirar, chegam-me aos ouvidos sons sequenciados de carros a buzinar. A associação não é imediata, mas lá acabo por perceber do que se trata. Há quanto tempo não ouvia este som ritual. Não consigo recordar essa última vez. Talvez o moderno ar dos tempos tenha também acabado com estes cortejos rituais de anúncio público de que ali vão os noivos. Não faz mal, mas hoje aconteceu.

13 dezembro 2023

Princípio de Peter e a democracia

Ao fazer a leitura e consequente reflexão sobre os acontecimentos políticos, no passado recente, em Portugal, por muitas considerações que podem ser aduzidas ao debate e por muitos juízos de valor sobre os factos e, principalmente, sobre a responsabilidade, a ética e a competência dos actores e intervenientes neste contexto de crise democrática, aquilo que me veio à mente foi o conceito, conhecido por Princípio de Peter (1969), de Laurence J. Peter, que imbuído na escola estruturalista, afirma que todos nós atingimos um nível de incompetência.
Sirvo-me deste princípio ou teoria, não porque considere que se tratou de incompetência política, mas para fazer uma analogia. Aquilo que assistimos em Portugal foi ao derrube de um governo, com maioria absoluta, democraticamente eleito e com todas as condições para se manter em funções. Não aconteceu por qualquer dificuldade governativa, nem tampouco porque existia um descontentamento social generalizado. Tratou-se de um puro e perfeito golpe de estado palaciano, perpetrado por intérpretes pouco ou nada conhecidos da maioria dos portugueses e cirurgicamente planeado por interesses ocultos, sem qualquer reacção ou indignação por parte dos partidos políticos, da opinião pública e publicada e da sociedade.
Assim, este é um momento que exemplifica ou testemunha, não um principio de incompetência da democracia, mas a sua indefesa, incapacidade e impotência face aos verdadeiros poderes que, ocultos, permitem-nos afirmar que vivemos numa democracia, mas atingindo determinados limites, tratam de decidir e impor as suas vontades e interesses, destruindo a ideia de Estado de Direito e todos os valores democráticos. 
Não se trata de qualquer teoria da conspiração, até porque não sou sequer simpatizante de António Costa, nem do seu governo, nem do PS, assim como também nunca votei neles, mas tenho para mim que a História se encarregará de trazer luz sobre tudo o que aconteceu em 2023, nesta nossa democracia.

fim do mundo

"O mundo vai acabar, não quando não houver tempo, mas sim quando não houver espaço.
Onde fica o fim do espaço?"
Gonçalo M. Tavares, in Jornal de Letras nº 1387, Novembro 2023.

12 dezembro 2023

cuando el otro también somos nosotros


Finalmente, chegou-me às mãos, proveniente de Ciudad Rodrigo, este livro de fotografias de Ángel Centeno, para qual escrevi o prólogo. Não conhecia o autor e foi através de amigo em comum que, nos últimos dias de Junho, fui desafiado por telefone para escrever adrede um texto sobre uma selecção de fotografias deste fotógrafo, que me enviaria em ficheiros e em formato reduzido para aliviar tamanho da carga... assim e célere o fiz.
Gostei da capa do livro e da sua organização temática, mas o papel escolhido não é o melhor suporte para receber este tipo de imagens a cinzentos e pretos. O meu texto foi traduzido para castelhano e surge como prólogo.

07 dezembro 2023

pontualidade

"Às vezes penso, aliás, que a minha obsessão com a pontualidade deriva de uma compreensão aguda da importância desse momento zero a partir do qual o enredo desabrocha, mas é mais provável que a causa disso seja uma patologia qualquer nunca diagnosticada."
João Paulo Vala, in revista LER - Outono 2023.

06 dezembro 2023