---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
29 junho 2024
as Nomeadas Colectivas em Bragança
Hoje, na Fundação Os Nossos Livros, um pedaço da tarde a falar das Nomeadas Colectivas. Obrigado a todos aqueles que estiveram connosco.
25 junho 2024
18 junho 2024
tão eu, mas para melhor...
De vez em quando, cada vez mais espaçado, vou visitando a barca de J. Rentes de Carvalho. Mantenho o gosto e o prazer da sua escrita e permanece como meu eleito na literatura contemporânea portuguesa. Para além disto, muito do que escreve é-me familiar e tendo a concordar amiúde com as suas opiniões. Hoje, dei de caras com esta pérola estival:
"Traques e arrotos
Teria quatro anos, deve ter sido a primeira vez, e se bem recordo levaram-me à praia de Lavadores. Foi mesmo terror, aquelas gigantescas massas de água a rebolar e ameaçadoras, dando a impressão que nos viriam engolir. E assim nunca fui de beira-mar ou praias, não só pelo marulhar constante, a inquietude das ondas, o vento, a areia, mas ainda e sobretudo pelo espectáculo da humanidade em pêlo.
É grande o respeito que me merece o semelhante, e desde há vidas considero o vestuário um dos atributos que muito tem contribuído para a harmonia da sociedade e a paz dos olhares. Daí que a praia se me afigure a versão moderna de uma Cour des Miracles medieval. Os corpos que não ferem os olhos ou os alegram, são gota de água naquele Oceano Pacífico da exposição praticamente nua de adiposidades, fealdades e porcalhice, de modo que uma passagem pela praia – as minhas são poucas, em maioria por razões de ofício ou obrigado pela companhia – tem consequências graves para o sossego da alma, o sono da noite, o respeito que devo ao próximo.
Nessas ocasiões, involuntariamente obrigado a presenciar, incomoda-me a passividade daquela massa de gente que, espichada ao sol, involuntariamente provoca a imaginação de horrendas cópulas, hábitos vis, atitudes indecentes, satisfações alvares, traques e arrotos.
Para paz de espírito e sossego com o semelhante, dêem-me a rua e a roupa."
J. Rentes de Carvalho, in blogue Tempo Contado, 16 Junho 2024.
https://tempocontado.blogspot.com/2024/06/traques-e-arrotos.html
10 junho 2024
perigos avulsos
Aqui há dias, estando eu a acompanhar alunos em trabalho de campo, desloquei-me a Vilar de Andorinho, onde uma equipa de catorze alunos se encontrava. Ao atravessar uma passadeira, bem no centro da localidade, e depois de ter verificado que não se aproximava nenhum veículo, sou surpreendido por uma longa buzinadela, de alguém que se aproximava do meu lado direito a grande velocidade. Quando levanto o olhar é uma trotinete eléctrica que passa por mim a grande velocidade, sem sequer esboçar qualquer travagem. Há medida que se afastava, eu gritei e repeti que estava na passadeira. O indivíduo (jovem adulto) não terá gostado do meu reparo e, afastado cerca de 100 a 200 metros, trava a fundo, atira a trotinete para o meio da rua e vem na minha direcção, vociferando ameaças e impropérios. Eu acabei de atravessar a rua e fiquei imóvel à espera dele, repetindo sempre que estava numa passadeira. Ele quando chega a quatro ou cinco metros de distância detém o passo e fica como que a medir-me. Eu mantive-me quieto e sem tirar os olhos do palerma, repeti o meu argumento. Ele, depois de me ameaçar com umas lambadas ou algo do género, vira-me as costas e vai à vida dele.
Moral da história: será sempre melhor ignorar estes e outros inaptos sociais, pois as consequências serão sempre imprevisíveis. Há muito que eu sei isto e normalmente até sou tranquilo e nada conflituoso no trânsito e fora dele. Aconteceu e serviu de alerta.
(escrito a 1 de Junho de 2024)
Sérgio Conceição
Eu sempre tive uma predilecção por jogadores raçudos e que, independentemente do seu clubismo, dão o corpo e alma durante os jogos. Aqueles que sofrem com as derrotas e vibram com os sucessos e vitórias das suas equipas. O Sérgio Conceição sempre foi assim: enquanto jogador deixava tudo no campo e enquanto treinador só não conseguiu entrar no campo e dar aquilo - lutar, marcar, sofrer - que ainda saberia dar pela sua equipa.
Para o meu Porto eu quero sempre jogadores e treinadores assim. Independentemente daquilo que ganhou, ou não ganhou, sempre gostei do Sérgio Conceição como treinador do meu clube. Lamento, mas percebo a sua saída depois de sete anos de tremendas lutas e algumas vitórias. Ao contrário do que muitos "doutos" do futebol que por aí andam, para mim futebol não é razão, mas sim e sempre emoção. O Sérgio Conceição representa essa essência do futebol. Por mim, ele poderia ter continuado como treinador do Futebol Clube do Porto, mas também poderia vir a ser o que ele entendesse dentro do clube. Por mim e para ele haverá sempre lugar. Obrigado Sérgio Conceição.
(escrito a 31 de Maio de 2024)
31 maio 2024
vintage
Passo todos os dias e várias vezes ao dia por esta montra. É no centro de Valadares e tem este aspecto, sei lá, há cinquenta anos?! Olho sempre para ela e os seus elementos são sempre os mesmos. Já não existem lugares assim e, fazendo uma leitura semiótica daquilo que a constitui, na verdade, apenas se vendem "grilos cantadores" e as suas gaiolas, o resto parece decoração. Não sei quanto mais tempo esta montra irá existir, mas é um regalo para os meus olhos e um aditivo de nostalgia da minha infância, em que também eu quis comprar gaiolas de grilos, apanhava-os nos campos e alimentava-os com folhas de alface.
26 maio 2024
17 maio 2024
ao espelho
Painel do último debate da revista Ecossocialismo, dia 15 de Maio, no Gato Vádio: Luís Vale, Wladimir Brito, Marcel Borges e Lurdes Gomes.
13 maio 2024
07 maio 2024
leve, relaxado e rejuvenescido
É assim que me sinto há meia-dúzia de dias. Consultei um novo reumatologista e foi-me prescrito um medicamento diferente. Logo a partir da primeira toma senti a sua acção. Que maravilha, acordar de manhã, sair da cama e quase não sentir o corpo. Sair da cama sem ter dores e sem me sentir derrotado. Com capacidade de movimentos nas articulações, até sinto que rejuvenesci uns anitos e, apesar da dor crónica permanecer, estou mais leve e solto para movimentos que até aqui não me eram possíveis. Bendita droga.
Laurent Sakura
Em breve, dia 16 de Maio, estará disponível o segundo álbum de Laurent Sakura. Serenety traz-nos mais 8 temas [1. Hope, 2. Alright, 3. Anne Frank's Lullaby, 4. Someplace, 5. Home, 6. In your eyes, 7. Close to you, 8. Walk with me] deste novo interprete. Ainda desconhecido de muitos, tem-se vindo a afirmar na cena internacional dos ambientes do Neo Clássico. Já tive a oportunidade e o privilégio de ouvir Serenety e gostei muito, o seu piano Felt é excelente companhia para horas de trabalho, seja leitura ou escrita, e também para nos embalar quilómetros nas estradas. Sequência clara de Whispering Keys, o seu anterior trabalho, Serenety, tal como o próprio nome indica, traz-nos tranquilidade, paz e aconchego.
Na impossibilidade (desconhecimento técnico) de como partilhar aqui um ou outro tema, deixo-vos o atalho para o primeiro álbum.
casa do artista amador
Que agradável surpresa. Convidado (desafiado), no próprio dia, para assistir a um concerto de música dos Silly Boy Blue, em Louro, Vila Nova de Famalicão, foi com espanto que descobri a Casa do Artista Amador, instalada numa antiga escola primária, entretanto desactivada. Não conhecia, nem conheço, nada mais sobre este espaço, sua programação e actividades, não conheço ninguém de Louro ou responsáveis pelo espaço, mas adorei a ideia, a reconversão do espaço e a possibilidade de haver uma programação cultural variada e assídua ao serviço desta comunidade. Aqui está um belo exemplo daquilo que deveria existir por todo o território, principalmente nas comunidades mais afastadas dos grandes centros urbanos e dos grandes eventos. Tal como aqui, espaços onde "o palco possa ser de todos".
01 maio 2024
25 abril 2024
a nossa liberdade
[cartaz feito pela minha filha e que vai levar consigo, hoje à tarde, para as ruas de Lisboa]
Não há como não registar o dia de hoje. Cinquenta anos passaram desde esse primeiro dia do resto das nossas vidas. O 25 de Abril de 1974 é, sem qualquer hesitação ou contestação, o dia mais importante da nossa existência enquanto comunidade ou sociedade, só que, passados todos estes anos, e à medida que o tempo vai passando, importa não deixar esquecer e continuar a assinalar, a relembrar e a celebrar. Os perigos e as ameaças serão crescentes. Logo, ocupemos as ruas das cidades. Eu, nós, vamos caminhar e celebrar nas ruas do Porto.
16 abril 2024
catraio maravilhado
"A senhora Gordon [Kim Gordon] está com 70 anos de idade, este mês de Abril, a 28, fará 71. Quando, com 16 anos, comecei a ouvir a sua música e me convenci de descobrir a melhor banda do mundo, pensei que uma avó nunca suportaria aquilo. O cansaço da vida, o desgosto de já se ter perdido gente, a dificuldade maior do corpo, tudo me parecia contribuir para não se resistir à intensidade de um som assim. Hoje, tanto tempo depois, a maravilha está em entender que a própria avó não só suporta um som assim como subiu o volume. O que me traz a impressão de que, afinal, a ordem está mantida, posso seguir sentindo que sou um catraio a curtir a maravilha que fazem aqueles que já são adultos. Isso conforta-me. Dá-me a esperança de ainda estarmos a seguir alguém."
Valter Hugo Mãe, in jornal de Letras nº 1396, Abril 2024.
05 abril 2024
descomplicar
"A única coisa que sei fazer é pôr as coisas por escrito para as compreender. Se não puser uma coisa por escrito, não a compreendo. Não a compreendo. Não a vivo. E não consigo. Não posso. É demasiado complicado."
Karina Sainz Borgo, in revista LER Inverno 2023 (nº 169)
03 abril 2024
há a vida
"O mais célebre talvez seja o de Octavio Paz: 'Os grandes poetas não têm biografia, têm destino'. É bonito, mas é uma treta. O destino, se é que há destino, está dentro da biografia. E dentro desta a escrita. Por causa desta frase de Octavio Paz, disse uma vez, numa entrevista, que era 'um poeta com biografia a mais'. Outra treta. Não há biografia a mais nem a menos. Há a vida. Que por vezes ultrapassa a ficção. Assim são todos os livros. Linguagem de linguagem. Ficção de ficção. Além da vida. E quase sempre aquém. Palavras de puro nada a puxarem umas pelas outras, sem factos, sem memórias, apenas elas, palavras, puro nada.Talvez só assim fosse possível contar a vida."
Manuel Alegre, in jornal de Letras nº 1395, Março 2024.
02 abril 2024
outra vez, sempre, Atenas
Passados dezoito anos regresso ao berço da nossa civilização. A primeira vez que aqui estive, sem nunca ter previsto cá vir, vim sozinho e foi uma surpreendente e agradável surpresa. Sempre disse que gostaria de voltar. Assim foi, ainda que desta vez seja uma visita muito breve. Terei o dia de amanhã para tentar ir lá cima e visitar a Acrópole. Gosto verdadeiramente de Atenas, pelo menos desta Atenas - arqueológica, gastronómica e da Plaka. Espero e quero cá voltar mais vezes.
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