13 março 2007

Báu da Memória II

Nota Prévia – adaptação da obra de Johan Huizinga intitulada Homo Ludens. Tal como refere o título do livro, fala-se do homem lúdico. O exercício por mim feito, em 1997, consistiu na substituição da palavra jogo, pela palavra sexo. Dei-lhe, então o nome de “A Própria Liberdade”, mas talvez até fique melhor …


HOMO SEXUS



Os melhores momentos das nossas vidas são aqueles que mais tarde conseguimos recordar. Esses momentos são uma das maiores dádivas do criador, à nossa condição de homens. São a nossa liberdade. Existem expressões de liberdade, várias formas de a exteriorizar, mas de entre todas elas a que mais se aproxima do ideal de liberdade é, na minha opinião, o sexo. E digo mais, o suprasumo dessa liberdade é, sem margem de dúvida, o sexo.
A vivacidade e a graça estão originalmente ligadas às formas mais primitivas e simples do sexo. É neste que a beleza do corpo humano em movimento e liberdade atinge seu apogeu. Em suas formas mais complexas o sexo está saturado de ritmo e de harmonia, que são os mais nobres dons da percepção estética que o homem dispõe. São muitos, e bem íntimos os laços que unem o sexo e a beleza.
No entanto, o sexo é uma função da vida, mas não é possível de definição exacta em termos lógicos, biológicos ou estéticos… eu não o consigo definir.
Antes de mais nada, o sexo é uma actividade voluntária. Basta esta característica de liberdade para afastá-lo definitivamente do curso da evolução natural.
Pode-se questionar o facto de esta liberdade não existir para a criança ou para o animal. Nos animais o sexo tem lugar até à satisfação, não sendo a união carnal precedida de qualquer reflexão, de qualquer sentimento. Quer a criança, quer o animal são levados ao sexo pela força de seu instinto e pela necessidade de desenvolverem suas faculdades físicas e selectivas.
Seja como for, para o indivíduo adulto e responsável o sexo é uma função que facilmente poderia ser dispensada, é algo supérfluo. Só se torna uma verdadeira necessidade na medida em que o prazer por ele provocado o transforma num desejo.
Segundo o Kama, “sexo é o prazer apreendido através dos sentidos: ouvido, tacto, vista, gosto e olfacto, ajudados pelo espírito unido à alma”.
Será possível, em qualquer momento, adiar ou suspender o sexo???
Jamais é imposto pela necessidade física ou pelo dever moral e nunca constitui uma tarefa, sendo sempre praticado nas “horas de ócio”. Obrigação e dever apenas quando constitui uma função cultural reconhecida, como no culto e no ritual.
O sexo não é vida real nem material, é precisamente o oposto!
O sexo é uma evasão da vida real, sem caminhos trilhados, para um mundo temporário de actividades com orientações próprias!
O sexo é livre! O sexo é a própria liberdade!

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