(proposta de alteração em sede de revisão gramatical)
Hoje, o tempo existêncial, aquele que vivemos, convencionou-se designar por presente e a noção que desde sempre existiu sobre o tempo, é o fatal e o pragmático agora. Este agora, presente, é quem permite que possámos ter a noção de temporalidade, daquilo que é, daquilo que foi e daquilo que será.
Hoje, nos dias de, essa existência temporal não obedece aos mesmos critérios de antanho. Vemo-nos enredados num precipitado cronómetro que nos obriga a estar e a não estar, a partir e a chegar, a ir e a vir, daqui para alí, dacolá para aqui, e nem damos conta do frenesim e da velocidade em que subsistimos.
Rodeados estamos de avisadores do tempo. Nunca como hoje houve tanto relógio per cápita... para além do tradicional relógio de pulso (que apesar de tudo, apesar da quase inutilidade, reduzido a mero adereço estético, ainda se usa...), temos acesso ao tempo a cada instante. Não há equipamento ou ferramenta que não exiba, em 1º plano, o seu contador de horas: telemóveis, televisores, aparelhagens sonoras, veículos, micro-ondas, fogões, fornos, frigoríficos, computadores, impressoras, banheiras, etc., etc. Todos eles contribuindo para conseguirmos viver a horas e cumprir "our schedule"... mesmo assim, não conseguimos, andamos em crónico atraso. A vida é um eterno atraso!...
Por isso proponho que se faça uma revisão gramatical (bem mais oportuna que o ignóbil acordo ortográfico) e se crie um novo tempo verbal: O Presente Atrasado, que passaria a ser a forma verbal a utilizar quando nos referimos à nossa condição quotidiana, de eminentemente atrasados.
Ilustração: Reunião marcada para as 17.30 no Porto. Chego às 17.15 ao local combinado. São 17.45 e continuo no local combinado à espera. Aproveito este tempo Presente Atrasado para colocar este ponto final.