Sem ter por hábito fazer balanços ou balancetes acerca daquilo que (me) vai acontecendo, o que posso aceitar como defeito metodológico pessoal, o certo é que há no calendário anual determinados momentos mais sensíveis, tais como aniversários pessoais ou daqueles com quem partilhamos a nossa existência, dias de nomeada colectiva como o Natal, ou aqueles que marcam o compasso do tempo absoluto como a passagem de cada ano, passíveis ou susceptíveis a determinadas reflexões pessoais e circunstanciais, sincrónicas ou diacrónicas, de revisão ou projecção, nas quais tentamos perceber aquilo que de bom ou de mau, de positivo ou de negativo, de feliz ou infeliz (nos) aconteceu num determinado espaço de tempo.
É assim que a dois dias do final deste ano de 2008 aproveitando o aconchego que o moderno aquecimento central me proporciona, protegendo-me da permanente geada que sinto lá fora, medito e exteriorizo alto, através destas palavras, a minha perspectiva deste ano. O que farei em duas diferentes dimensões: a primeira é acerca do EU no seu sentido mais lato e a segunda dirá respeito ao NÓS enquanto espaço e tempo partilhado, numa visão holística na qual os EU’s não serão mais do que uma ínfima parte desse NÓS.
EU, bem no inicio do ano de 2008 ou ainda mesmo nos últimos instantes de 2007 exteriorizei perante um reduzido número de amigos que perspectivando o ano que aí nascia, tinha três grandes objectivos que gostaria de ver concretizados durante o decorrer desse ano: a) resolver ou definir a minha situação profissional; b) criar e dar espaço a uma nova vida fazendo crescer o agregado familiar; c) tratar com eficácia e se possível definitivamente o problema de saúde que me afectava. Assim, com optimismo, entusiasmo e “ganas” parti para este grande ano oito depois de 2000.
EU, agora e olhando para todo este tempo que decorreu desde então, posso dizer que o ano terá tido duas grandes fases distintas. Uma primeira correspondente aos primeiros quatro a cinco meses do ano nos quais o esforço, o empenho, o investimento e talvez a sorte, me permitiram acreditar que tudo corria bem e os tais pressupostos pessoais seriam alcançáveis. O investimento num novo projecto empresarial, o prazer na tão desejada e adiada gravidez, a procura incessante e sistemática até ao diagnóstico correcto acerca do meu mal-estar fisiológico e, no entretanto, o esforço no iniciar do mestrado e a edição de um novo livro, completavam os meus dias, substituindo a monocórdica rotina de tempos anteriores.
Depois, e quando chegámos mais ou menos ao meio do ano esse sentimento mais optimista deu lugar a alguma frustração e desalento. O momento primeiro que terá motivado essa altercação do estado de espírito terá sido o abortamento dessa nova vida que estava a caminho. Sem que tenha sido traumático, obrigou a um novo adiamento sem data, de algo que EU considerava já por demais atrasado. Depois e até hoje, numa velocidade atroz, quase como se tropeçássemos numa pedra e desatássemos aos trambolhões pela encosta do tempo abaixo. Pelo caminho e já bem perto deste lugar onde hoje EU me encontro, a percepção de que o investimento e o esforço no novo projecto empresarial não vingou e por isso a minha situação profissional não está diferente daquilo que estava há precisamente doze meses. Também, aquilo que se apresentava como solução para o meu problema físico, apesar de ter conseguido restituir-me algum conforto e qualidade de vida, não se perspectiva como resolução definitiva, mas sim como paliativo ao qual terei que recorrer periodicamente para poder manter a dor e o desconforto distantes. Para além disto, esta mesma solução química que me permite andar razoavelmente bem estraga-me os genes, o que leva o doutorado Professor que me acompanha e cuida dos males a sugerir um adiamento “sine die” do ansiado momento de nova fecundação familiar…
EU, verdadeiramente, não posso dizer que o ano me correu mal. Espero, como o comum dos mortais, por mais e melhor, senão nunca pior, mas também posso afirmar com a certeza de quem o experimentou que anos houve bem melhores para o EU. É verdade, foi também o ano em que um profissional da saúde me perguntou se eu conseguiria transformar-me em vegetariano, pois parte da solução para os meus problemas poderia estar nessa transformação… ainda não lhe respondi.
A segunda dimensão sobre a qual inevitavelmente teria que reflectir diz respeito aquilo que é de todos e sobre a qual todos NÓS deveríamos reflectir. Ainda que relativizando as escalas de importância e perspectivando os sistemas de classificação, na linha do tempo aconteceram, acontecem e acontecerão momentos que pela sua unicidade nos permitem destacá-los positiva ou negativamente. Referindo-me apenas a esse pequeno segmento de tempo que foi o ano de 2008, posso e quero destacar aqueles que segundo o meu julgamento foram e são relevantes para o NÓS.
Desde logo e porque foi para mim o acontecimento do ano, talvez da década e, quiçá, do século que vivemos, a eleição do negro Barak Obama para presidente dos E.U.A. Sem euforias messiânicas, acredito sinceramente que estaremos perante o momento primeiro de algo diferente e estranho ao presente e passado recente, ou seja, de mudança de paradigma na ordem e nos valores mundiais. A esperança que isso possa vir a acontecer é grande e acarreta riscos de embriagamento dos sentidos e da razão, portanto alguma moderação e contenção nas expectativas serão aconselhadas, por hora.
Um segundo momento digno do meu registo foi a permanente e crescente sensação de insatisfação e, depois, contestação social que por todo o lado se começou a sentir, principalmente e nomeadamente em Portugal, onde um Governo com grande legitimidade não conseguiu dar as respostas minimamente suficientes e capazes para os problemas dos portugueses e por isso, pudemos assistir ao desbaratar do seu capital de legitimidade na real proporção das manifestações públicas por parte dos vários e diferentes segmentos da sociedade: saúde, forças armadas, polícias, tribunais, agricultura, universidades, professores, pensionistas, profissionais liberais, museus e agentes culturais, entre outros que não consigo recordar, vieram para a rua manifestar a sua indignação pelas opções políticas do governo de José Sócrates.
Por fim, aquilo que muitos consideravam “ad eternum”, no qual depositavam literalmente todas as suas reservas e que nem nos seus piores pesadelos imaginaram poder acontecer, afinal aconteceu… (estou com um sorriso nos lábios e um no cérebro) a lei do mercado e a força do capital não é infalível. Muito pelo contrário.
E não me peçam para ter pena daqueles que perderam os seus capitais investidos, ainda que agora passem fome. Não consigo!... A minha pena continua a dedicar-se aqueles que não conseguem sequer sobreviver: ter um ordenado mínimo, uma pensão digna, uma existência. Esses outros que perderam aquilo que nunca, realmente, foi deles, e que durante algum tempo ostentaram essa soberba e avidez, borrem a cara e o que bem entenderem com a caca à qual submeteram todos os outros durante esse tempo.
Nem os mais pessimistas dos comentadores ditos especialistas me conseguem refrear a excitação por poder estar a viver este momento. Considero-me um privilegiado por aqui estar agora. Mesmo sem saber onde tudo isto vai desembocar, estou disposto a pagar o meu preço – seja um carro ou uma casa (materialidades que não são e, provavelmente, nunca serão verdadeiramente minhas) para que tudo possa mudar, para que possamos refundar a nossa sociedade (…e não, não sou utópico, nem espero amanhãs gloriosos). Quero sim o fim desta canalhice a quem deram o nome de capitalismo, pelo menos nesta sua versão mais estupidificante e redutora: é que as pessoas não são números, por mais que o afirmem e confirmem, a verdade é que as pessoas são sentidos e sentimentos que chegam além do mísero calculismo dos cifrões. Acabou enfim.
Esta é a minha visão do mundo. Acima de tudo humanista, onde o Homem, cada um do NÓS ocupe o lugar central no mundo, com valores dignos e justos que justifiquem a sua existência. Havemos de experimentar algo diferente, isso sei e por isso não espero.
Deixando esse exercício de adivinhação, que não é mais do que saber antes de saber, acerca do futuro e do ano que aí vem, aproveito estes últimos caracteres para desejar que 2009 possa ser tudo aquilo que NÓS queremos que seja.
É assim que a dois dias do final deste ano de 2008 aproveitando o aconchego que o moderno aquecimento central me proporciona, protegendo-me da permanente geada que sinto lá fora, medito e exteriorizo alto, através destas palavras, a minha perspectiva deste ano. O que farei em duas diferentes dimensões: a primeira é acerca do EU no seu sentido mais lato e a segunda dirá respeito ao NÓS enquanto espaço e tempo partilhado, numa visão holística na qual os EU’s não serão mais do que uma ínfima parte desse NÓS.
EU, bem no inicio do ano de 2008 ou ainda mesmo nos últimos instantes de 2007 exteriorizei perante um reduzido número de amigos que perspectivando o ano que aí nascia, tinha três grandes objectivos que gostaria de ver concretizados durante o decorrer desse ano: a) resolver ou definir a minha situação profissional; b) criar e dar espaço a uma nova vida fazendo crescer o agregado familiar; c) tratar com eficácia e se possível definitivamente o problema de saúde que me afectava. Assim, com optimismo, entusiasmo e “ganas” parti para este grande ano oito depois de 2000.
EU, agora e olhando para todo este tempo que decorreu desde então, posso dizer que o ano terá tido duas grandes fases distintas. Uma primeira correspondente aos primeiros quatro a cinco meses do ano nos quais o esforço, o empenho, o investimento e talvez a sorte, me permitiram acreditar que tudo corria bem e os tais pressupostos pessoais seriam alcançáveis. O investimento num novo projecto empresarial, o prazer na tão desejada e adiada gravidez, a procura incessante e sistemática até ao diagnóstico correcto acerca do meu mal-estar fisiológico e, no entretanto, o esforço no iniciar do mestrado e a edição de um novo livro, completavam os meus dias, substituindo a monocórdica rotina de tempos anteriores.
Depois, e quando chegámos mais ou menos ao meio do ano esse sentimento mais optimista deu lugar a alguma frustração e desalento. O momento primeiro que terá motivado essa altercação do estado de espírito terá sido o abortamento dessa nova vida que estava a caminho. Sem que tenha sido traumático, obrigou a um novo adiamento sem data, de algo que EU considerava já por demais atrasado. Depois e até hoje, numa velocidade atroz, quase como se tropeçássemos numa pedra e desatássemos aos trambolhões pela encosta do tempo abaixo. Pelo caminho e já bem perto deste lugar onde hoje EU me encontro, a percepção de que o investimento e o esforço no novo projecto empresarial não vingou e por isso a minha situação profissional não está diferente daquilo que estava há precisamente doze meses. Também, aquilo que se apresentava como solução para o meu problema físico, apesar de ter conseguido restituir-me algum conforto e qualidade de vida, não se perspectiva como resolução definitiva, mas sim como paliativo ao qual terei que recorrer periodicamente para poder manter a dor e o desconforto distantes. Para além disto, esta mesma solução química que me permite andar razoavelmente bem estraga-me os genes, o que leva o doutorado Professor que me acompanha e cuida dos males a sugerir um adiamento “sine die” do ansiado momento de nova fecundação familiar…
EU, verdadeiramente, não posso dizer que o ano me correu mal. Espero, como o comum dos mortais, por mais e melhor, senão nunca pior, mas também posso afirmar com a certeza de quem o experimentou que anos houve bem melhores para o EU. É verdade, foi também o ano em que um profissional da saúde me perguntou se eu conseguiria transformar-me em vegetariano, pois parte da solução para os meus problemas poderia estar nessa transformação… ainda não lhe respondi.
A segunda dimensão sobre a qual inevitavelmente teria que reflectir diz respeito aquilo que é de todos e sobre a qual todos NÓS deveríamos reflectir. Ainda que relativizando as escalas de importância e perspectivando os sistemas de classificação, na linha do tempo aconteceram, acontecem e acontecerão momentos que pela sua unicidade nos permitem destacá-los positiva ou negativamente. Referindo-me apenas a esse pequeno segmento de tempo que foi o ano de 2008, posso e quero destacar aqueles que segundo o meu julgamento foram e são relevantes para o NÓS.
Desde logo e porque foi para mim o acontecimento do ano, talvez da década e, quiçá, do século que vivemos, a eleição do negro Barak Obama para presidente dos E.U.A. Sem euforias messiânicas, acredito sinceramente que estaremos perante o momento primeiro de algo diferente e estranho ao presente e passado recente, ou seja, de mudança de paradigma na ordem e nos valores mundiais. A esperança que isso possa vir a acontecer é grande e acarreta riscos de embriagamento dos sentidos e da razão, portanto alguma moderação e contenção nas expectativas serão aconselhadas, por hora.
Um segundo momento digno do meu registo foi a permanente e crescente sensação de insatisfação e, depois, contestação social que por todo o lado se começou a sentir, principalmente e nomeadamente em Portugal, onde um Governo com grande legitimidade não conseguiu dar as respostas minimamente suficientes e capazes para os problemas dos portugueses e por isso, pudemos assistir ao desbaratar do seu capital de legitimidade na real proporção das manifestações públicas por parte dos vários e diferentes segmentos da sociedade: saúde, forças armadas, polícias, tribunais, agricultura, universidades, professores, pensionistas, profissionais liberais, museus e agentes culturais, entre outros que não consigo recordar, vieram para a rua manifestar a sua indignação pelas opções políticas do governo de José Sócrates.
Por fim, aquilo que muitos consideravam “ad eternum”, no qual depositavam literalmente todas as suas reservas e que nem nos seus piores pesadelos imaginaram poder acontecer, afinal aconteceu… (estou com um sorriso nos lábios e um no cérebro) a lei do mercado e a força do capital não é infalível. Muito pelo contrário.
E não me peçam para ter pena daqueles que perderam os seus capitais investidos, ainda que agora passem fome. Não consigo!... A minha pena continua a dedicar-se aqueles que não conseguem sequer sobreviver: ter um ordenado mínimo, uma pensão digna, uma existência. Esses outros que perderam aquilo que nunca, realmente, foi deles, e que durante algum tempo ostentaram essa soberba e avidez, borrem a cara e o que bem entenderem com a caca à qual submeteram todos os outros durante esse tempo.
Nem os mais pessimistas dos comentadores ditos especialistas me conseguem refrear a excitação por poder estar a viver este momento. Considero-me um privilegiado por aqui estar agora. Mesmo sem saber onde tudo isto vai desembocar, estou disposto a pagar o meu preço – seja um carro ou uma casa (materialidades que não são e, provavelmente, nunca serão verdadeiramente minhas) para que tudo possa mudar, para que possamos refundar a nossa sociedade (…e não, não sou utópico, nem espero amanhãs gloriosos). Quero sim o fim desta canalhice a quem deram o nome de capitalismo, pelo menos nesta sua versão mais estupidificante e redutora: é que as pessoas não são números, por mais que o afirmem e confirmem, a verdade é que as pessoas são sentidos e sentimentos que chegam além do mísero calculismo dos cifrões. Acabou enfim.
Esta é a minha visão do mundo. Acima de tudo humanista, onde o Homem, cada um do NÓS ocupe o lugar central no mundo, com valores dignos e justos que justifiquem a sua existência. Havemos de experimentar algo diferente, isso sei e por isso não espero.
Deixando esse exercício de adivinhação, que não é mais do que saber antes de saber, acerca do futuro e do ano que aí vem, aproveito estes últimos caracteres para desejar que 2009 possa ser tudo aquilo que NÓS queremos que seja.