Angústia é o que sinto sempre que me vejo "obrigado" a vir às compras. Não consigo sentir e entender qual o prazer que pode haver em andar de loja em loja, a mexer e a remexer nas peças, a experimentar tamanhos, feitios e cores, num tal de despe e veste que me irrita e faz doer a cabeça, para além das óbvias reservas quanto à falta de higiene inerente a tais rituais.
Agora, chegados e bem a esse momento único em que, despodoradamente, compramos para terceiros algo que adivinhamos eles gostarem, a angústia ainda é maior. É que para além dos sentimentos que nos ligam e nos relacionam, não é admissível que essa mesma relação implique a troca de prendas e, por isso, cada vez resisto mais a esta obrigação instituida (eu diria mesmo, imposta) pela cadeia consumista e hedónica e à qual não conseguimos fazer frente. Está tão intrinseca e profundamente ligado à nossa maneira de ser que, alegremente, largamos os euros (que muitas vezes nem temos) em troca de um conjunto de sacos e embrulhos muitos bem embalados.
Com um nó na garganta cá ando eu de loja em loja com a Maria (a minha) à procura não sei bem o quê... um dia tudo será diferente. Pelo menos para mim, hei-de conseguir libertar-me. O prazer que me dá ofertar é genuíno.
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