10 abril 2009

clientelismos

A assídua frequência de determinados lugares traz consigo a habituação, o reconhecimento e a rotina. Muita gente não gosta de ser cliente, de frequentar sempre os mesmo lugares e espaços, mas cá para mim, não há melhor do que ser considerado e ter o estatuto de cliente. Claro é que de ocasionais e anónimos clientes passamos a frequentadores, cuja presença e/ou ausência se faz sentir. Uma ou outra situação, um ou outro estatuto carregam consigo circunstâncias díspares e apesar do conforto de um certo anonimato, ser reconhecido pode, esporadicamente, trazer algumas comodidades, tais como: não ter que ir para a infindável fila de pré-pagamento, pagar apenas no fim do consumo, ser servido à mesa, ter direito à melhor ou maior fatia do bolo, uma sopita mais quente ou uma tosta-mista mais bem recheada, entre outras pequenas minudências, quase imperceptíveis para os demais. O reverso da medalha, que é como quem diz, o lado negativo desta circunstância é a rotina dos sons, dos cheiros e dos olhares, pois como nós há mais quem goste de ser cliente e repetir trajectos. Os habituês, apesar de perfeitos desconhecidos e estranhos, reconhecem-se nestes lugares. Com o passar do tempo e da partilha dos espaços, acabamos por nos habituar a esses rostos, a essas outras formas de estar e de ser. Assim, reconhecemo-nos sem sequer nos termos conhecido. No meio deste espaço-tempo tanto aconteceu, tanto acontece e vai continuar a acontecer. Quando vamos a caminho sabemos já, ainda que inconscientemente, quem vamos encontrar e com quem nos vamos cruzar. Este exercício é recíproco e, concerteza, qualquer outro poderá saber que nos encontrará por lá… isto por si tem, para mim, alguma piada e se a esta lhe adicionarmos os rasgos de beleza que, de quando em vez e com prazer, nos olhos caem, só poderemos continuar... clientes.

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