A edição do mês de Março do jornal Le Monde Diplomatique saiu ontem, dia 9, com cara lavada, outro papel e, digo eu, melhor aspecto. Ainda quase não li nada, mas dando seguimento ao meu inconsciente hábito de ler os jornais e revistas de trás para a frente, encontrei e li, na última página, um texto do escritor Mário de Carvalho, o que me deixou por si só satisfeito e a dizer para com os meus Fechos Eclair, que botões não transportava, que já valera a pena comprar o jornal deste mês. Pronto, já nem precisaria de ler mais nada...
Gostaria aqui de transcrever todo o texto, mas como o novo layout do blogue não publica as fotografias num formato legível, nem me vou dar ao trabalho de o digitalizar. Apesar das tiradas que aqui reescrevo e descontextualizo, aconselho vivamente a sua leitura do princípio ao fim.
"Qualquer negociante de secos e molhados ou vendedor de electrodomésticos profere impunemente a sua galegada. Desde que seja riquíssimo. Os ricos não se contentam só com o acatamento. Querem servilismo. Exigem veneração. Chão lambido. Têm-no garantido. Meia dúzia de economistas oficiosos - sempre os mesmos - aprestam-se ao culto público de «os Mercados» com o fervor genuflectido duma adoração ao Espírito Santo."
"Tudo são apelos ao conformismo e à submissão, convites à obediência e ao redil. O povo, quando presente é constituído em populaça. A ralé sempre fez o jeito às contra-revoluções. (...) Com os da ralé pode a ganhuça bem. É travesti-los de consumidores. O consumidor por natureza é dócil. «Para ver já a seguir. Não saia daí». Já o cidadão tende a complicar. É antipático e incómodo. Toma distâncias e faz escolhas. Há que silenciá-lo, ridicularizá-lo ou desacreditá-lo.
"Como pode uma economia colonial saudável funcionar sem escravos? Coisa de otários."
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