Anda o mundo muçulmano sobressaltado com as atitudes de alguns órgãos de comunicação social ocidentais, que resolveram, uma vez mais, dar espaço e tempo à figura de Maomé. Nada de novo, pois sabemos sempre qual é a reacção muçulmana quando alguém, de alguma forma, verbaliza ou materializa a figura do seu profeta. No meio desta cíclica polémica há algo que me inquieta, pois nem com todo o relativismo cultural, social ou civilizacional, consigo perceber qual é a dúvida dos Estados laicos e seculares ocidentais em defender inequivocamente a liberdade de expressão dos seus cidadãos e de toda a sua produção artística, científica ou informativa. Aquilo que está em questão não é um principio religioso, pois os Estados islâmicos não admitem qualquer outra forma de expressão religiosa senão o islamismo nos seus territórios. Aí a confusão entre Estado e credo religioso propicia todas as expressões radicais e extremistas que bem conhecemos. Mas tudo bem, se assim se entendem e conseguem viver. Agora, não podemos, nem devemos permitir que esse fundamentalismo religioso ultrapasse as suas fronteiras e invada as nossas. O nosso estádio civilizacional permite, e bem, uma relação existencial de multiculturalismos, fundamentados na tolerância e na liberdade de cada ser humano. Ainda bem que assim é e quero que assim se mantenha. No Estado em que quero viver e criar os meus filhos, todos os indivíduos terão a liberdade de optar e manifestar as suas convicções. Não acredito em "guerras santas" ou "guerras civilizacionais", mas essa é razão que nos distingue e, desconfio, é essa a razão que atormenta os ideólogos de todo o extremismo e de qualquer fundamentalismo. Liberdade.
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