05 novembro 2012

mediascape: the cloud

Nota Prévia
Nova rubrica no apurriar. Proponho-me destacar aqui a notícia diária, disponibilizada pelos media que particularmente me atraia os sentidos, numa perspectiva particular e de consciência social, neste mundo difuso e de vertiginosas heterogeneidades. Como título surgiu-me a palavra mediascape, cujo conceito é da autoria de Arjun Appadurai (2004) e refere-se à distribuição da capacidade electrónica para produzir e disseminar informações. O seu aspecto mais importante é que fornecem vastos e complexos repertórios de imagens, narrativas e etnopaisagens a espectadores de todo o mundo. (…) As linhas divisórias entre as paisagens realistas e ficcionais que vêem estão esbatidas. (…) Tendem a ser explicações centradas na imagem, com base narrativa, de pedaços da realidade, e o que oferecem aos que as vivem e as transformam é uma série de elementos, a partir dos quais podem formar vidas imaginadas, as deles próprios e as daqueles que vivem noutros lugares. (Appadurai, 2004:54)
A ver vamos se consigo ser assíduo, pois pontual não posso prometer ser. Acontecerá quando puder, conseguir ou me apetecer.

The Cloud
A notícia chegou-me bem cedo, através da rádio e dizia, citando o Diário de Notícias, que o Governo se prepara para entregar a privados a gestão e manutenção das bases de dados públicas nacionais (defesa, saúde, segurança, etc.) como forma de conseguir cortar na despesa pública. Esse estudo encomendado e tutelado pelo ministro Miguel Relvas foi desenvolvido no âmbito do Grupo de Projecto para as Tecnologias de Informação e Comunicação (GPTIC) e contempla três cenários possíveis, dos quais o mais "vantajoso" para o Estado será uma solução tecnicamente nova, a «Cloud Computing», gerida, claro está, por uma empresa privada. Não sendo conhecedor destes processos, conheço minimamente o conceito enquanto utilizador. Desde logo tenho dúvidas quanto à novidade tecnológica, pois de novo nada tem e já várias empresas disponibilizam aos seus clientes e utilizadores esse espaço virtual e desmaterializado, onde podemos armazenar informação e aceder a ela, a qualquer momento e em qualquer local, através da internet. Depois, o bom senso avisa-me para os perigos duma solução deste tipo: Que tipo de informação pretende lá colocar? Quem vai ter acesso a essa informação? Qual o nível de segurança? A própria concentração de tamanha e tão variada informação parece-me contra-producente, pois para além da questão económica, qual a vantagem de centralizar num só "espaço" e numa só empresa toda a informação? Os níveis de conhecimento devem manter-se isolados e diferenciados. Questões de Estado e informações relativas aos seus cidadãos devem pertencer ao Estado e só. Um Estado soberano e de direito não pode entregar ao desbarato informação vital, apenas porque a sua manutenção e gestão tem custos. Esta notícia revela também o desespero do governo que a todo o custo quer desfazer o Estado e transformá-lo em algo, isso sim, novo e desconhecido. Idiotice. A nuvem é e será sempre apenas e só uma metáfora eficaz e bonita.

Sem comentários: