03 janeiro 2016

estado da saúde

Não é que fosse uma novidade para mim, ou para todos nós portugueses, mas quando nos acontece a nós ou a alguém próximo ou familiar, sentimos a questão com outro vigor. Também é só um caso, mais um caso entre tantos outros, que se repetem aqui e ali, em toda a parte, mas que não deveriam acontecer. Eis o caso:
Noite de passagem de ano numa aldeia de Trás-os-Montes, senhora de 86 anos, levanta-se da cama para urinar, escorrega e cai desamparada sobre uma perna. Com fortes dores, levanta-se e arrasta-se para a cama, onde fica sem dizer nada aos familiares até de manhã. A filha quando se apercebe leva-a imediatamente, e em carro próprio, à urgência do hospital distrital de Bragança, onde chegam por volta das 11 horas do dia 1 de Janeiro. Depois da triagem é vista por uma médica de clínica geral que pede um raio X à perna da senhora. Depois do raio X, mandam-na para a sala de espera da urgência onde, sentada numa cadeira de rodas, espera até às 16 horas pelo resultado dessa radiografia. Volta à presença da médica que lhe diz que não há qualquer lesão grave ou fractura, receita-lhe alguns analgésicos para as dores e manda-a para casa. Mesmo tomando esses comprimidos a noite seguinte foi passada entre gemidos e mal-estar, não estando bem em qualquer posição. Na manhã seguinte e porque as dores aumentavam cada vez mais, a filha resolve regressar ao hospital com a mãe. Nova consulta, novo médico, nova visualização da radiografia, novo exame (TAC) e o diagnóstico: fractura total do osso, internamento e nova espera pelo especialista que a irá operar, pois nos feriados e fins-de-semana não está no hospital.
Este é o estado em que está a saúde pública em Portugal. A racionalidade e a excelência do anterior ministro da saúde deu nisto, ou seja, na desqualificação, no esvaziamento dos serviços, no encerramento de valências nos hospitais. A vergonha de ter o poder de deixar morrer doentes e utentes dentro dos próprios hospitais por falta de assistência. É por todos estes casos e exemplos que acredito cada vez mais que o SNS é um dos elementos centrais e prioritários para as políticas públicas nacionais. Esperemos que com os novos protagonistas no sector e, principalmente, com as novas políticas, o Serviço Nacional de Saúde reganhe qualidade, proximidade e esteja ao serviço efectivo e eficaz de todos os portugueses.

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