03 janeiro 2016

novo ano, jornal novo

Com o regresso à Invicta, depois de uns dias no remanso da aldeia, dou com um novo jornal Público, pelo menos ao Domingo e pelo que já pude ler e ver, esta mudança não é muito feliz. Passo a justificar. Sou seu leitor desde os primeiros tempos de vida do jornal, algures no início da década de noventa do século passado. Época coincidente com as minhas primeiras preocupações com a realidade e actualidade, que me levavam a comprar, ainda que por motivações distintas, o Público e o Independente. Durante todos estes anos, o jornal evoluiu, actualizou a sua linha gráfica, os seus colaboradores, o seu projecto editorial, a sua imagem e eu, umas vezes mais, outras vezes menos agradado, mantive-me fiel e quase diariamente seu leitor. Agradou-me em particular, a não adopção do novo acordo ortográfico. Até mesmo quando surgiram as novas plataformas de leitura e formatos de jornal, mantive-me leitor do Público. Contudo, nos últimos meses tenho vindo a notar e a sentir uma tendência editorial que não me agrada mesmo nada. A escolha declarada pelo apoio à PaF, a desqualificação das oposições e a falta crescente de contraditório, somadas às edições que, por vezes, são autênticos vazios, autênticos nadas de informação e, agora, esta nova roupagem ao Domingo, levam-me a por em questão a sua manutenção como "o meu jornal diário". Em Editorial, é-nos dito que "foi pensado como uma edição para ler sem pressa, centrada na escolha de temas importantes da actualidade e no seu aprofundamento. (...) Deixamos hoje de publicar a Revista 2. não é sem mágoa que o fazemos, mas o jornalismo pensado para ler devagar passa a dominar agora todo o jornal."
Pois bem, façamos a recensão desses temas importantes da actualidade
a) Capa com grande destaque para a fotografia do candidato Marcelo Rebelo de Sousa;
b) Sete páginas dedicadas a uma entrevista a Marcelo Rebelo de Sousa (2 a 8);
c) Seguidas de duas páginas em que se questiona as duas candidaturas femininas, só por serem mulheres e por putativas alterações do paradigma?!? (10 e 11);
d) Uma peça de duas páginas sobre as utopias e seus lugares comuns, apresentadas graficamente como se houvesse alguma novidade ou nova perspectiva para o futuro (12 e 13);
e) Depois, quatro páginas de guerra, Daesh, Hollande e afins (14 a 19);
f) Notícias do mundo, duas: Maduro na Venezuela e Execuções na Arábia Saudita;
g) Reportagens sobre sobrevivência de negócios do tempo de antanho e sobre ser africano em Cabo Verde (?!?) (24 a 28 e 32 a 39);
h) Peça sobre os primórdios da fotografia, com destaque para Julia Margaret Cameron e outras pioneiras da fotografia (40 a 42);
i) Caderno de desporto com seis páginas (futebol nacional e europeu e Paris Dakar (53 a 58);
j) Apresentada como novidade desta nova edição, a secção Curtas contempla sete "notícias" 

Gostei da peça sobre a loja de cidadão que vai de aldeia em aldeia (44 e 45) e do artigo da Alexandra Lucas Coelho (43). Sobreviveram (ainda bem) alguns comentadores e algumas rubricas: Miguel Esteves Cardoso, Jorge Almeida Fernandes, Alexandra Lucas Coelho, Vasco Pulido Valente, Frei Bento Domingos e Teresa de Sousa mantém o seu espaço;
A verdade é que também não tenho grandes e boas alternativas, pois toda a imprensa diária está pautada pela fraca qualidade. Talvez o Diário de Notícias seja aquele que se apresenta como a melhor entre as más opções possíveis. Estou disponível, ainda assim, para dar mais dois ou três Domingos de tolerância ao Público. Veremos.

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