Circula na internet esta dedicatória a José Cid. Parece-me apropriada. Não sei é se todos compreenderão o que aqui é dito...
---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
30 maio 2016
mediascape: quem não sente não é filho de boa gente
Polémica das últimas horas: José Cid, numa entrevista a Nuno Markl no Canal Q, ter-se-á referido aos transmontanos como "pessoas medonhas, desdentadas".
Tal como seria de esperar, numa sociedade mediatizada e de consumos instantâneos e efêmeros, as redes sociais explodiram em reacções tão parvas como as palavras que as originaram.
Claro que como transmontano também não consigo ficar indiferente a tal provocação, mas também quero dizer que as ditas palavras dirão sempre mais sobre o caracter de seu autor do que do povo e de cada indivíduo transmontano. Ao mesmo tempo, é interessante verificar com basta vomitar qualquer estupidez para os holofotes do mediatismo recuperarem todos os proscritos da fama e do mainstream nacional. Assim, José Cid consegue regressar ao palco e ao lugar que julga seu.
Esvaziemos o autoclismo e passemos à próxima polémica.
Esvaziemos o autoclismo e passemos à próxima polémica.
27 maio 2016
o tempo que passa
Todos nós teremos dias em que estamos mais susceptíveis à dimensão do tempo. Normalmente, em dias de nomeada ou de diferentes celebrações. Pois bem, para mim e já há alguns anos, esse tempo que passa por mim, ou se preferirem, esse tempo pelo qual eu passo, manifesta-se de forma bem marcante. Experimento por estes dias as angústias dessa passagem. Nada que me derrote, mas que me vai desgastando e agastando.
Ao olhar em redor, apercebo-me da indiferença generalizada que o tempo que passa merece e como alegremente se vão celebrando e festejando os ciclos que se fecham nas vidas outras. Tudo isso faz cada vez menos sentido para mim, mas gostaria muito de nem sequer pensar nisto e de, apenas e só, brindar ao que já foi e ao desconhecido que aí virá. Talvez fosse mais fácil.
23 maio 2016
a ler
Mais um excelente ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, desta vez sobre o turismo em Portugal. É o número 63 da colecção.
13 maio 2016
a quem interessar...
Uma iniciativa interessante, necessária e contemporânea. O que fazer com os territórios da raia luso-espanhola é uma questão central para a reestruturação desses territórios e à qual seria bom dar resposta efectiva e eficaz. Não é fácil, mas o debate impõe-se. Gostava de poder estar presente.
07 maio 2016
finalmente, A4 mata IP4
(fotografia retirada da capa do jornal Público, 7 Maio 2016)
Com a sua inauguração e abertura agendada para as zero horas deste Domingo, o túnel do Marão conclui todo o trajecto da auto-estrada número quatro. Foram nove anos de longa obra, foram mais de vinte anos de desastres e mortes estúpidas nesse enorme monte, conhecido pelas gentes locais como o gigante Marão. Finalmente, podemos decretar a morte do IP4 e, se por um lado, não foi justo traçar a auto-estrada por cima do traçado desse itinerário principal, por outro lado, o custo em vidas humanas jamais será saldado.
Viajei muito pelo antigo traçado, conhecia-o como a palma das minhas mãos e sou ainda capaz de o reconstruir mentalmente. Assisti a alguns momentos dramáticos, umas vezes de longe e em filas intermináveis, outras vezes de muito perto e com muita sorte. Eu próprio tive problemas nesse traçado, nomeadamente, no cimo do Marão, perto da Pousada, quando no Natal de 1995, era eu ainda um jovem condutor, um outro menos jovem, que seguia no mesmo sentido, adormeceu ao volante e veio para cima de mim, provocando o despiste dos dois automóveis. Felizmente, sem danos físicos, mas com um processo em tribunal que durou quase dez anos. Sobrevivi ao IP4, conheci algumas pessoas que não tiveram essa sorte. Também é nelas que penso neste momento e pensarei quando atravessar pela primeira vez esse túnel.
Serve o presente para manifestar a minha satisfação pela conclusão desta obra e, em simultâneo, decretar a morte do IP4, pois não pretendo mais circular nesses poucos quilómetros que sobreviverão. A viagem entre o Porto e Bragança, centenas de vezes outrora realizada pelas nacionais e pelos IPs, passará a ser realizada com outra tranquilidade, outro conforto e rapidez. Das mais de cinco horas que demorava, encurtaremos a distância entre as duas cidades para menos de duas horas e isto sem cometer crimes de velocidade. Brutal.
questão essencialista
No dia em que actua em Portugal a banda australiana AC/DC, partilho algumas questões sobre as polémicas que têm sido veiculadas sobre a vida desta banda e, mais recentemente, sobre a substituição do vocalista Brian Johnson por Axl Rose, ex-vocalista dos Guns n'Roses. Tal como aconteceu já com outras formações, também os AC/DC têm sofrido na pele as consequências da sua já longa longevidade, naquilo que são as capacidades físicas e psicológicas dos seus membros. Sempre foram uma formação muito susceptível e instável na sua constituição, mas eis alguns factos que, nos últimos anos, foram publicamente conhecidos sobre os seus elementos:
O afastamento definitivo do guitarrista Malcom Young por problemas mentais (demência), os problemas com a justiça de Phil Rudd (baterista) que levaram à sua saída dos AC/DC e o risco de surdez total de Brian Johnson, que o afastam dos palcos, obrigando à sua substituição por Axl Rose. Portanto, neste momento, da constituição base, ou pelo menos, daquela que mais tempo fez parte da banda, apenas actuam Angus Young (guitarrista solo) e Cliff Williams (baixista).
Esta última polémica sobre a escolha de Axl Rose para substituir Brian Johnson nas actuações ao vivo, traz consigo a dúvida sobre a continuidade da banda. Aliás, as questões que suscito nestas linhas serão, face ao já exposto, estruturalmente essencialistas. Numa perspectiva estruturalista, tal como os seres vivos, também as organizações têm um estrutura, naquilo que poderemos definir como um conjunto de relações existentes nesse conjunto e que permitem determinada invariância, e que se estabelece por níveis de organização. Assim, neste caso particular, aquilo que deverá ser questionado é se essa invariância se mantém ou foi destruída. Para tentar ilustrar o que pretendo afirmar, trago uma analogia com um caso clássico:
«O navio com que Teseu e os jovens de Atenas retornaram de Creta tinha trinta remos e foi preservado pelos atenienses até o tempo de Demétrio de Falero. Removiam as partes velhas que apodreciam e colocavam partes novas. O navio tornou-se motivo de discussão entre os filósofos relativamente às coisas que crescem: alguns diziam que o navio era o mesmo e outros diziam que não era». (Plutarco)
Tal como na analogia importa questionar: continuarão os AC/DC a existir? A banda que hoje actua em Lisboa são os AC/DC ou será apenas uma actuação de dois dos seus membros sob a sua marca registada e globalizada? Para além de todos os interesses financeiros e comerciais implicados, parece-me muito interessante esta reflexão e não a reduzo à simples substituição do vocalista. Por outros lado, sou levado à especulação sobre a existência ou não de um qualquer projecto musical que tenha sobrevivido à vida de todos os seus elementos fundadores. Assim de repente, não me recordo de nenhum caso, mas pode ser que exista. Recordo, igualmente, outros casos de bandas extintas que, por motivações várias, regressaram mais tarde e já depois do desaparecimento de alguns dos seus membros, para actuações pontuais ou tournées.
Tal como na analogia importa questionar: continuarão os AC/DC a existir? A banda que hoje actua em Lisboa são os AC/DC ou será apenas uma actuação de dois dos seus membros sob a sua marca registada e globalizada? Para além de todos os interesses financeiros e comerciais implicados, parece-me muito interessante esta reflexão e não a reduzo à simples substituição do vocalista. Por outros lado, sou levado à especulação sobre a existência ou não de um qualquer projecto musical que tenha sobrevivido à vida de todos os seus elementos fundadores. Assim de repente, não me recordo de nenhum caso, mas pode ser que exista. Recordo, igualmente, outros casos de bandas extintas que, por motivações várias, regressaram mais tarde e já depois do desaparecimento de alguns dos seus membros, para actuações pontuais ou tournées.
06 maio 2016
mediascape: ensino público vs ensino pseudo-privado
No dia em que a Assembleia da República debateu o despacho do Ministério da Educação que restringe o financiamento de colégios com contrato de associação, reflectindo um pouco sobre o assunto, começo por declarar que, por princípio, nada tenho contra a existência e o sucesso do ensino privado, mas também por princípio, acredito que compete ao Estado garantir uma rede de ensino público com qualidade e de acesso universal por todo o território nacional. Percebo que o Estado sinta a necessidade de contratualizar com entidades privadas de ensino, algumas áreas de aprendizagem específicas e que a escola pública não consegue oferecer ou satisfazer, como por exemplo o ensino artístico, o ensino especial e o ensino técnico/profissional, mas não posso aceitar que toda a estrutura de ensino em Portugal esteja a ser desviada para as entidades privadas, substituindo e num processo de degradação da rede de escola pública. O ensino privado significa que eu tenho que pagar para o poder frequentar e aprender. Foi, é e será assim, e bem. Eu, se quiser e/ou se puder pagar, tenho a liberdade de escolher a escola ou universidade privada para a minha formação. Assim fiz, sou um filho do ensino superior privado, mas fui eu que paguei a minha formação e não o Estado, é assim que deve ser, porque se assim não fosse estaríamos a perverter todo o sistema.
A escola pública é do Estado e compete-lhe a ele cuidar dela. O ensino privado, apesar do serviço público que presta, não deixa de ser negócio e carece do factor lucro para se manter de portas abertas. Não pode ser o Estado a garantia da sua manutenção.
instante urbano xxxvi
Hoje foi manhã de tratar de algumas burocracias e papeladas administrativas pendentes. Uma delas foi a renovação da matrícula da minha criança no ensino pré-escolar público. Aguardando a minha vez de ser atendido, fui ouvindo a conversa daqueles que, à minha frente, iam sendo atendidos. A todos eles - mães, pais e encarregados de educação, durante o preenchimento do formulário de matrícula online, lhes foi perguntado se eram ou não católicos. Como pode o Ministério da Educação da República Portuguesa incluir num seu processo administrativo essa informação? Qual o interesse, ou melhor, qual a necessidade para o Estado ter essa informação? Qual a relação entre o ensino básico - laico, republicano, democrático e universal, com a religiosidade de cada indivíduo e família? Significará um tratamento diferenciado das crianças? Significará uma tentativa da Igreja de controlar o ensino público?
Em 2016 nada disto faz sentido e eu senti-me muito incomodado. Como o meu filho ainda não vai frequentar a Primária a questão não me foi colocada, mas ainda assim não pude deixar de questionar a simpática funcionária, que me respondeu que essa informação estava relacionada com a frequência da disciplina de Religião e Moral e que elas, funcionárias e a própria escola, apenas tinham que preencher todos os campos do formulário que lhes aparecia no computador. Gostaria de ver esta questão esclarecida.
mediascape: de novo, a luta, revigorada
Aproveitando as declarações do Presidente da República, no âmbito da sua visita a Moçambique, acerca do Acordo Ortográfico e da sua implementação e qualidade, o debate em Portugal sobre o mesmo reabriu, e ainda bem. A ver vamos se, de uma vez por todas, se mata este aborto, pouco ou nada desejado pelos portugueses. O jornal Público concedeu ontem (5 de Maio) algum espaço a este debate e o seu editorial foi-lhe exclusivamente dedicado. Fica aqui esse editorial, excelente texto que bem aborda o problema.
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