12 novembro 2016

o escritor maldito


Confirmando a minha iliteracia, ou pelo menos as graves lacunas que possuo face à literatura portuguesa, seja a clássica, seja a contemporânea, a leitura da biografia de Luíz Pacheco, que apresenta o sugestivo título "Puta que os pariu", e que sôfrego li nos últimos dias, foi uma perfeita epifania. Não sendo um completo estranho, não conhecia a sua obra, nem estava consciente da sua personagem, da sua importância no universo da literatura nacional da segunda metade do século XX, do seu carisma e dos seus estigmas. Trata-se de alguém que dedicou toda a sua vida à literatura, que por opção viveu na indigência ou suas fronteiras, que abdicou do conforto do centro, do estabelecimento no mainstream literário lisboeta e preferiu sempre as margens e os seus habitantes, em nome de uma ética, de uma moral, de uma liberdade total para escrever.
Após a leitura da sua biografia percebe-se claramente a simbiose entre a vida e a obra produzida, numa atitude eminentemente auto-biográfica, em que a sua própria vida, as suas experiências e aventuras são a matéria-prima para a sua escrita. Identificado como pertencente à escola surrealista e/ou à escola abjeccionista, estigmatizado por muitos dos seus contemporâneos e pares pela implacável e feroz crítica que produzia, idolatrado por outros pela coragem, despudor e força dos seus escritos, Luíz Pacheco manteve-se fiel a esse princípio maior de liberdade (para muitos libertinagem) até ao fim.
Durante a leitura, investiguei todos aqueles que, aí mencionados, se relacionaram ou conviveram com Pacheco; vi dois documentários sobre ele: "O Libertino" e "A vida e o texto", ambos disponíveis na internet. Agora, terminada a leitura e conhecido o seu percurso, resta-me procurar, ler e conhecer a sua arte. Vou-me pôr a caminho, de imediato.

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