Se não estou em erro, terá sido na noite do dia 18 de Janeiro, já bem tarde, que dei de caras com um documentário sobre o poeta Eugénio de Andrade na, tão mal tratada, RTP Memória. Foi num zapping,enquanto procurava vontade de me ir deitar, que encontrei esse testemunho datado de 1992 e gravado na cidade do Porto. Pelas imagens consegui identificar quase todos os lugares por onde o poeta existiu na Invicta. Tendo percorrido toda a sua vida e todas as cidades por onde passou, a narrativa da sua vida acaba por ter na cidade do Porto o seu maior capítulo, pois foi nela que viveu entre 1950 e o dia de sua morte, 13 de Junho de 2005. Na altura, em 1992, Eugénio de Andrade estava já reformado e grande parte do seu tempo era passado em sua casa, então na Rua Duque de Palmela.
Mais do que a sua obra poética, que conheço mal, a mim fascina-me a dimensão biográfica que, normalmente, fica na sombra destes vultos das artes. Dei comigo, qual voyeur, a tentar ler as lombadas dos livros que aparecem por trás do poeta e que com certeza ele um dia leu, a espreitar para os sofás e as poltronas que se vislumbravam, a tentar conhecer a sua secretária e a sua máquina de escrever. O fascínio de procurar e encontrar pequenos e ordinários caracteres do quotidiano e comuns a milhares de pessoas, nas vidas destes génios literários.
No dia seguinte, portanto, dia 19 de Janeiro, tive que ir ao Porto e ao passar junto à Biblioteca Municipal do Porto, junto ao jardim de S. Lázaro, lembrei-me que a Duque de Palmela era ali bem perto e, sem hesitar, lá fui eu à procura do número 111 dessa artéria. Logo a encontrei. Encostei o carro como pude e fui-me por em frente do prédio, do outro lado da rua. Nenhum sinal de vida no 2º andar onde ele vivera, as persianas estavam a meio e mesmo no resto do prédio não percebi qualquer movimento. Ali fiquei uns minutos num estado contemplativo e reflexivo. No fim e com muito pudor tirei esta fotografia ao prédio. Entretanto, aproveitando as maravilhas da tecnologia televisiva, já voltei a ver o documentário.
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